A diversidade botânica e a traça deste jardim do séc. XVII oferecem diferentes perspectivas e emoções a cada movimento. Espécies raras e seculares exibem dotes neste imponente espaço classificado Imóvel de Interesse Público em 2002.

Conserva o estatuto de primeira casa habitada de Leça do Balio e o privilégio de manter nos jardins a árvore mais antiga da região. A ginko biloba é resistente ao fogo e às catástrofes naturais e reza a lenda que foi o único vegetal a sobreviver ao bombardeamento atómico lançados sobre em Hirochima e Nagasaki.

Os jardins do séc. XVII caracterizam-se pela variedade botânica. Árvores com centenas de anos e algumas espécies raras fazem as delícias dos cerca de 250 turistas, sobretudo europeus, que visitam todos os anos os jardins da Quinta do Alão.

A Casa de Recarei, também conhecida por Quinta do Alão, foi decretada Imóvel de Interesse Público a 19 de Fevereiro de 2002. Quase cinco anos depois, por falta de interesse ou promoção a nível nacional, os visitantes desta imponente quinta seiscentista continuam a ser maioritariamente estrangeiros.

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As azáleas são rainhas no espaço verde mais "bem conservado de todo o Grande Porto", como elogia o livro Jardins com História (editado pelas Edições Inapa em 2002), coordenado pela arquitecta paisagista Cristina Castel-Branco. Estas flores ocupam uma grande parte dos 1,5 hectares que constituem o jardim com mais de 62 variedades.

O teixo multi-secular de dimensões raras também não passa despercebido na paisagem colorida, sobretudo no Verão, época que veste uma verdadeira capa de bagas vermelhas.

Paredes meias, um rododrendo exibe os seus dotes. É na Primavera que oferece um espectáculo especial. Ganha tantas flores quantas folhas tem.
A metasequoia glyptostroboides merece atenção redobrada também pelo estatuto de raridade que conserva. Conta já 40 primaveras esta prima das sequóias de folha caduca, descoberta na China em 1944.

O fontanário de Nasoni

Francisco de Vasconcelos toma conta dos destinos da quinta há 42 anos. As visitas guiadas, e previamente marcadas, que os jardins recebem são realizadas pelo próprio. É com orgulho que destaca a magnólia granflora.

"Não conheço nenhuma maior no País", desabafa. Ainda pelo porte, destacam-se neste jardim nortenho japoneiras centenárias rodeadas de fetos arbóreos, rododendros e um salgueiro.

Cameleiras, canteiros de buxo, pinheiros, cedros do Líbano e Himalaias, auracárias, castanheiros-da-índia, glicínias, estrelícias, secóias e áceres japónicos, já plantados pelos três jardineiros do actual proprietário, também fazem da extensa lista de espécies que concedem ao jardim aromas exóticos e diferentes perspectivas a cada movimento.

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O actual proprietário edificou ainda uma estufa para aclimatar e conceber novas plantas, um roseiral, cujo destino das flores é decorar e perfumar a casa onde vive há mais de 40 anos, um pomar, e ainda uma piscina, a principal atracão do jardim para os seus netos.

A traça da Casa de Recarei data dos séculos XVII e XVIII, embora alguns manuscritos do séc. XV mencionem já a sua existência. O Mosteiro de Leça do Balio, nomeadamente a Ordem de Malta, foi o primeiro proprietário da quinta.

Desvinculada das ordens religiosas no séc. XVII, é nas mãos da família Alão de Morais que casa sofre profundas intervenções, nasce o jardim e são plantadas algumas das espécies que ainda hoje lhe dão vida, cor e aromas intensos.

É neste período que Nasoni, artista italiano responsável pelo projecto da Igreja e Torre dos Clérigos entre outras obras barrocas edificadas no Norte do País naquele período, desenvolve a pedido da família Alão o fontanário octogonal de estilo barroco que é hoje é ex-libris do jardim.

Mas a obra de Nazoni neste jardim não se confina apenas ao fontanário. O Miguel Ângelo do Grande Porto, como foi agraciado pelos nortenhos, projectou ainda o portão seiscentista, entrada principal da quinta, diversas esculturas e um outro fontanário também de desenho barroco que marca a passagem para a segunda parte do jardim, acrescentada pelo actual proprietário.

É no jardim que se exibe uma réplica do simbólico brazão da família Alão que é encimado por um cão. Francisco de Vasconcelos desfaz a curiosidade. "Alão significa cão em português arcaico. Cão de grande porte", sublinha.

"A raça chegou pela mão dos Alanos da Ásia quando invadiram a Europa. Por isso, apelidaram estes cães de alões, por virem com os alanos. Eu tenho um. Pesa 80 quilos e em pé é mais alto do que eu", acrescenta.

FICHA TÉCNICA

Quinta de Recarei – Casa do Alão
Rua de Mainça, nº 204
Leça do Balio, Matosinhos
Telefone: 229 010 787

Área: 1,5 ha
Proprietário: Francisco Assis Jácome de Vasconcelos
Jardineiros: 3 permanentes
Visitas: Por marcação

Texto: Rita Gonçalves
Fotos: Luís Melo