O monólogo inspirado no passado de boémia, luxúria, perversão e devassidão do Cais do Sodré chama-se «Alice no país dos bordéis» e pode ser visto de terça-feira a sábado, entre as 18h30 e as 21h30, de meia em meia hora, na Pensão Amor, em Lisboa, pelo menos até ao próximo dia 10 de setembro de 2017. «Há fortes hipóteses de ser prolongado até ao final do ano», admitiu, no entanto, ao Modern Life fonte ligada ao projeto .

Os bilhetes custam 6 €, à exceção dos das sessões das 20h00 (em inglês) e das 21h00 (em português) que são vendidos por 69 € e que incluem um jantar especial, idealizado pelo chef Guilherme Spalk. A refeição temática, batizada «Fecha as pernas e abre a boca», é um verdadeiro espetáculo dentro do espetáculo, uma vez que acaba por ser mais interativa do que a peça da autoria do ex-jornalista Roger Mor.

Depois de assistir à atuação de Francisco Beatriz ou de Sofia de Portugal, a encenadora do monólogo, os espetadores são encaminhados para uma sala secreta, até há pouco um espaço de arrumações desativado da antiga pensão. E, a partir daí, o protagonista passa a ser o chef, que encarna mesmo o papel e juntamente com os membros da sua equipa vai fazendo desfilar, de forma cénica, um verdadeiro menu de surpresas.

Dos preliminares ao beijo francês

A primeira surpresa surge poucos minutos depois dos convivas se sentarem à mesa, quando percebem que o que julgavam ser meros acessórios de cosmética decorativos alusivos à peça são, afinal, parte integrante de preliminares. O primeiro dos sete pratos servido durante a ementa de degustação apresenta três delícias à base de mexilhão, queijo de Azeitão, pinhão e açafrão. Segue-se, depois, o despertar dos sentidos.

A especialidade de foie gras, ceviche e churro antecede fogo de paixão, um misto de atum, ruibarbo e umeboshi, uma espécie de ameixa japonesa. Beijo francês foi o nome escolhido para o prato de peixe principal que, como não podia deixar de ser, é um linguado servido com ostra, espinafres e chá verde. Para limpar o palato antes da carne, o chef sugere a boca naquilo, um caldo de miso, cogumelos, cebola e gema de ovo.

A sobremesa que se come de olhos vendados

Faisão, amêndoas, bolbo de aipo e milho doce são os ingredientes principais da especialidade que se segue, desejo carnal. Na reta final mas ainda longe do clímax, aquilo na mão vem adoçar a boca dos espetadores da peça. Além de amora, leva morango e figo seco. Por fim, o orgasmo, a sobremesa mais apetecida, é servida na mão para saborear de olhos vendados. Um verdadeiro deleite para os sentidos!

À medida que os pratos vão desfilando, os espetadores vão sendo também surpreendidos com a loiça onde as especialidades gastronómicas são servidas. A maioria das peças de cerâmica utilizadas foi criada pelo ceramista das Caldas da Rainha Carlos Enxuto especificamente para esta ação. O bilhete, que recria os livretes sanitários que as prostitutas tinham de ter para trabalhar antes de 1962, é outro dos muitos pormenores distintivos.

Texto: Luis Batista Gonçalves com Fernando de Pina Mendes (fotografia)