Quem entra pela primeira vez no jardim fica com a sensação que se trata apenas de uma língua de terreno, com um relvado de dimensão média que separa o colorido das cores primaveris que se estendem ao longo de um muro, do lado que dá para a estrada e de bordaduras e canteiros que animam o espaço que confina com o arvoredo. Nada mais errado! O jardim da família Stock é uma zona repleta de contrastes em que jardim e mata se fundem, de resto como em muitas outras quintas antigas da região de Sintra. A Casa da Penalva, uma propriedade cujas origens os atuais proprietários desconhecem, terá sido de um clérigo inglês.

Mais tarde, continuou na posse de súbitos de Sua Majestade até há cerca de duas décadas, quando foi adquirida por Eduardo Stock. Talvez por isso, são notórias as influências britânicas quer no traçado quer nas espécies. A quinta fica na zona nobre de São Pedro de Sintra, entre a Calçada da Penalva e a Estrada da Pena, outrora a única via para se chegar ao castelo com o mesmo nome. Paredes-meias fica o Convento da Trindade e, um pouco mais afastada, a capela de Santa Maria.

Apaixonado pelo jardim-mata, ao qual dedica muito do seu tempo, Eduardo Stock manteve a estrutura da quinta no seu essencial. «O que eu fiz foi a instalação do relvado para abrir a vista e colocar azáleas», explica, acrescentando que não mexeu no desenho do jardim porque «se encontrava muito bem feito pelos ingleses». As espécies da Casa da Penalva são essencialmente plantas comuns na região. Além das azáleas, das cameleiras, dos fetos, dos rododendros e das clívias, há couves da couves-da-horta, azevinho e glicínias, entre outras.

Refúgio de características campestres

Desperta a atenção mesmo dos mais distraídos a nespereira gigante, descomunal, que se encontra na zona ajardinada. «Havia outra igual que entretanto caiu. Tive um desgosto enorme», revela o proprietário chamando a atenção para a altura pouco comum da nespereira que ainda resiste. Um feto gigante que se encontra um pouco escondido faz as delícias de Eduardo Stock. Talvez por isso resolveu arranjar-lhe uma companheira que se adaptou perfeitamente ao local.

Com a ajuda de um jardineiro, que todos os dias se desloca à quinta, Eduardo Stock tem vindo a introduzir diversos melhoramentos neste refúgio de características campestres e sobretudo bem característico de Sintra. Como é o caso de alguns caminhos abertos na mata e que permitem circular nesta zona íngreme, repleta de surpresas porque apenas à medida que se vai caminhando é possível descobrir as surpresas com que nos deparamos um pouco por toda a quinta.

Recantos românticos, tomadas de vista para diversas localidades da região, algumas mesmo muito afastadas, penedos gigantes característicos da zona e água, muita água para regar os campos e para refrescar o ambiente quando a canícula aperta. Espaços de belezas naturais incomparáveis que mantém muito da mística eterna e espiritual que a serra local nunca perdeu com o passar dos anos, muito pelo contrário!

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Sistema de drenagem antigo

É, mais do que tudo, um jardim para descobrir ou como prefere chamar-lhe Eduardo Stock,«um surprise garden», muito ao estilo britânico. «Temos aqui um sistema de drenagem brilhante porque, em cada uma das pontas da quinta, na zona sul, existem dois tanques e toda a água que vem da Pena entra na propriedade por esses tanques e é desviada para uma cisterna enorme com cerca de seis ou sete metros de profundidade e que conserva a água para regar a parte ajardinada», explica o proprietário, adiantando que existem três lagos na quinta e uma catarata romântica que terá descoberto por acaso quando se deparou com uma torneira esquisita.

O sistema de drenagem terá sido concebido pelos seus antecessores britânicos que também abriram diversos caminhos que permitem a circulação na mata e o acesso a zonas íngremes mesmo junto à Estrada da Pena e a um miradouro ideal para tempos de lazer ou de simples contemplação. Ericeira, Mafra, Várzea de Sintra, mar, de tudo um pouco é possível avistar do alto da Casa da Penalva, um local privilegiado em plena serra, recatado mas ao mesmo tempo perto de tudo. Nas diversas intervenções que efetuou ao longo dos anos, Eduardo Stock destaca um caminho e um pequeno miradouro a partir do qual é possível avistar o lago da zona inferior e a Praia das Maçãs.

Apesar da sua zona preferida ser a parte ajardinada com relvado, Eduardo Stock gosta de percorrer os cantinhos da mata e conduz-nos para um dos tesouros que instalou na propriedade. Numa zona elevada, embutiu na pedra um pequeno jacuzzi para desfrutar dos prazeres da água e das vistas que a altitude proporciona. Uma ideia que trouxe de uma visita ao Chile e que se enquadra perfeitamente na paisagem sintrense. Uma ideia original que também pode replicar no seu terraço ou no seu jardim.

Texto: Luís Melo