Nas outras línguas latinas, os nomes dos dias da semana derivam directamente dos nomes dos astros do sistema solar, que correspondem também aos deuses do panteão romano, com excepção do Sol e da Lua, que procedem de Solis e Luna, personificações pouco conhecidas destes astros, que equivalem a Helios e Selene do panteão grego.

Contudo, sabe-se que a existência de uma semana de sete dias já vinha do Egipto Helenístico, e que esse número se deve aos sete corpos celestiais visíveis – o Sol, a Lua e os planetas Marte, Mercúrio, Júpiter, Vénus e Saturno.

Quanto às línguas germânicas, as designações dos dias da semana são quase todas procedentes dos deuses do panteão nórdico ou de astros, correspondendo também algumas a Runas do seu alfabeto, com nomes semelhantes aos dos deuses. Se nos lembrarmos que cada Runa é uma representação ideográfica e pictográfica de um poder ou de um princípio cósmico, escrever com caracteres rúnicos era, literalmente, escrever na linguagem dos deuses e invocá-los.

Domingo

Segunda-feira

Terça-feira

Quarta-feira

Quinta-feira

Sexta-feira

Sábado

Dia do Sol

(Solis)

Dia da Lua (Luna)

Dia de Marte

Dia de Mercúrio

Dia de Júpiter

(Jove)

Dia de Vénus

Dia de Saturno

Dies Solis (latim)

Dimanche (francês)

Domenica (italiano)

Domingo (espanho)

Dies Lunae (latim)

Lunes (espanhol)

Lunedi (italiano)

Lundi (francês)

Dies Martis (latim)

Martes (espanhol)

Martedi (italiano)

Mardi (francês)

Dies Mercurii (latim)

Miércoles (espanhol)

Mercoledì (italiano)

Mercredi (francês)

Dies Jovi (latim)

Jueves (espanhol)

Jeudi (francês)

Giovedi (italiano)

Dies Veneris (latim)

Vendredi (francês)

Venerdi (italiano)

Venres (romeno)

Dias Saturni (latim)

Sábado (espanhol)

Samedi (francês)

Sabato (italiano)

Domingo

Segunda-feira

Terça-feira

Quarta-feira

Quinta-feira

Sexta-feira

Sábado

Dia de Sunna (Sol)

Dia de Mani (Lua)

Dia de Tyr/Tiu

Dia de Wotan/Odin

Dia de Thor

Dia de Freya

Dia de Saturno

Sunday (inglês)

Sonntag (alemão)

Söndag (sueco)

Monday (inglês)

Montag (alemão)

Måndag (sueco)

Tuesday (inglês)

Tirsdag (dinamarquês)

Tisdag (sueco)

Wednesday (inglês)

Woensdag (neerlandês)

Onsdag (sueco)

Thursday (inglês)

Torsdag (dinamarquês)

Donnerstag (alemão)

Freitag (alemão)

Friday (inglês)

Fredag (sueco)

Saturday (inglês)

Zaterdag (neerlandês)

Samstag (alemão)

Como já vimos, o Sábado e o Domingo eram, originalmente, o Dia de Saturno e o Dia do Sol. Nas línguas germânicas isso ainda é bem visível. A exceção está nas línguas românicas, porque perderam com o tempo a ligação antiga aos astros que lhes deram o nome.

Sábado, nas línguas românicas, vem de “Sabbath”, o dia de descanso dos judeus. Domingo, nas várias formas linguísticas que assumiu, vem da designação eclesiástica entretanto dada a este dia, “Dies Dominicus” - dia do Senhor - por ser o dia de descanso dos cristãos, de acordo com a Bíblia que afirma que Deus descansou ao 7º dia, após criar o Mundo.

Independentemente da família linguística, é possível verificar que, de uma forma geral, a tónica de cada dia coincide em ambos os ramos linguísticos. A parte II deste artigo dará destaque a esta ligação.

E então na Língua Portuguesa? Porque é que os nomes dos dias da semana terminam em “feira”?

Até ao século 6 d.C., no território que viria a ser Portugal - o que só aconteceu em 1143 - os dias da semana eram igualmente nomeados de acordo com os deuses que os romanos cultuavam.

Foi Martinho de Dume, um bispo de Braga, que considerando indigno que bons cristãos continuassem a nomear os dias de semana de acordo com os deuses “pagãos”, resolveu criar nomes especiais para os dias da Semana Santa, que antecedem a Páscoa, em que de acordo com a Bíblia, os cristãos deveriam descansar. "Feira" vem de feria, que significa “dia de descanso”.

Infelizmente, a utilização desses nomes generalizou-se, e hoje a Língua Portuguesa é a única língua latina em que os dias da semana seguem uma numeração ordinal. Provavelmente, esta foi também uma manobra da Igreja, para tentar erradicar as nomes dos deuses romanos dos nomes dos dias da semana, substituindo-os por uma designação eclesiástica.

Cabe a cada um de nós recordar a origem das palavras que utilizamos, para não deixar que se percam estes significados que o tempo ocultou, que revelam conexões etimológicas e culturais transversais, reforçando a ideia de que tudo está ligado na sua origem.

Vera Vieira da Silva

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