Os artistas, objectivadores do Real, libertadores da tristeza e da dor, construtores da alegria que alenta e renova, devem ser considerados como verdadeiros patronos da Nova Idade...

Ao estabelecerem a ponte sensível entre o mundo interno de beleza, de significados, valores e ideias, e o mundo das formas externas, eles vivem uma estreita relação com as características e virtualidades do 7º Raio, que governa a Era recém-iniciada. Estão também intimamente ligados ao 4º Raio (da harmonia por conflito), que governa o Reino Humano como um todo (visto ser esse o 4º Reino da Natureza no arco ascendente). Assim, dentro destas tónicas energéticas e qualitativas, a eles deve caber importante contributo no advento do Homem Novo." - As Novas Escrituras, Vol. IV, C.L.U.C., 1996 (1ª ed.), 2000 (2ª ed.)

Helena Roerich

Helena Roerich, tal como a velha Helena (não a de Tróia, mas a do mundo, a pioneira e grande Blavatsky), nasceu naquelas longínquas e geladas terras da Rússia, a 13 de Fevereiro de 1879 e, tal como a sua terra, foi uma mistura: de Ocidente e Oriente, de cheiros asiáticos e cores gregas. Esta franzina Helena, de olhos grandes e negros, ousou, como Prometeu, roubar o fogo aos deuses, e queimar, numa aspiração ardente, o mundo dos homens.

Filha de um arquitecto proeminente, o Arquiduque Chapochnikov, era extraordinariamente sensitiva e adoecia frequentemente. Quando enferma, apareciam-lhe dois homens muito altos (os Mestres M. e K. H. ?), que a auxiliavam.

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A irmã de sua mãe, a princesa Putyatine, tinha uma herdade em Bologoye, onde a pequena Helena passava os Verões. Lá aprendeu a amar a natureza e os animais. Conta-se que os animais domésticos corriam para ela para a saudar, quando de manhã saía de casa para os alimentar.

Aprendeu a ler muito cedo. Apreciava os filósofos e meditava sobre a Bíblia. Talentosa na música, tocava piano, pintava e desenhava.

Quando conheceu Nicholas, descobriu que tinham muito em comum. Passavam o seu tempo juntos, indo a concertos e a exposições. Apaixonaram-se e, por fim, casaram a 28 de Outubro de 1901. Tiveram uma vida familiar feliz e, da sua união, surgiram dois filhos, Jorge e Svetoslav. Este último tornou-se um excelente pintor (tal como o pai) e, do retrato que fez de sua mãe, percebe-se uma mulher muito bonita.

Em 1915, Nicholas Roerich adoeceu com pneumonia e deixam a sua casa em Petersburg para viverem num clima mais ameno. Depois de uma passagem por Inglaterra, chegam a Nova Iorque em 1920, para a primeira exposição de Nicholas Roerich nos Estados Unidos.

Foi por esta altura que Helena entra em contacto com o seu Mestre e escreve o primeiro livro, «Folhas do Jardim de Morya I», cuja 1ª edição saiu em 1924. Seguiram-se mais 14 títulos na série Agni Yoga, onde o seu Mestre expõe pela primeira vez ao mundo as fundações do yoga da 6ª Raça. O último volume a ser publicado, «Supramundo II», saiu à luz do dia em 1938, nas vésperas da 2ª Guerra Mundial.

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Livros

O seu Mestre, o Senhor do olhar penetrante, transmitiu por seu intermédio, um conjunto de sublimes ensinamentos, a propósito do novo yoga, o Yoga do Fogo, da Vida e do Sacrifício. Afirmo, por experiência feita, que os seus livros não se podem ler de uma forma comum. São páginas de meditação; parágrafos que se digerem devagar; frases, que na síntese de um relâmpago, incendeiam a mente e iluminam a vida.

Em «Folhas do Jardim de Morya I», diz o Mestre, pela pena de Helena, naquele seu jeito compacto e imperioso: "A vida troveja – sê vigilante"; "Um Templo para todos – para todos, um Deus"; "Meus Amigos! A Felicidade reside em servir a salvação da humanidade"; "Quando Eu amanhã narrar o livro da alegria, não esqueçais o chamamento para a batalha!". E o discípulo, ao apelo do Mestre, responde: Apesar das minhas fraquezas, apesar da minha miopia, apesar das minhas traições, aceita Senhor, a minha romba lança, o meu escudo esburacado, a minha armadura amolgada – estou pronto para a contenda!

Em «Agni Yoga», afirma o Mestre: «Lembrai-vos do baptismo pelo fogo, da cruz ígnea, e de todos os cálices flamejantes que Eu vos revelei há muito tempo, como símbolos do próximo yoga.» E, mais uma vez, responde a voz trémula do discípulo ao Mestre: Senhor, fui baptizado pelos sacerdotes, nas águas geladas do mundo; anseio agora pelo baptismo do fogo, do Senhor da Chama Dourada, apesar de saber que perderei tudo o que amei, nas viagens do passado.

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Sugerimos a todos aqueles que sentem dentro de si a chama do fogo da Era de Maitreya que, de uma forma demorada e lenta, meditem nas palavras do Mestre. Elas são semente do Novo Mundo; elas são ovo do Novo Mundo; elas são mote da nova consciência. Comecem pelo primeiro livro, «Folhas do Jardim de Morya Vol. I», e ouçam o apelo urgente do futuro; depois, sigam em frente e parem demoradamente no Vol. II; virem então à esquerda e, no 7º quarteirão, repousem laborando em «Nova Era Comunidade».

No outro dia, logo pela manhã, ascendam ao “Infinito Vols. I e II»; cansados da jornada e numa vigília nocturna, orem na capelinha «Hierarquia»; desçam então ao poço iniciático «Coração»; sem medo, de olhos vendados e mente aberta, penetrem nos «Mundos Ardentes I, II, II»; gritem então, a uma só voz com o Universo, «AUM«; depois, num abraço vasto e longo, mergulhem em «Fraternidade»; e, finalmente, no fim da jornada, descansem em «Supramundo I e II».

Helena e Nikolai (Nicholas é a tradução do seu nome para o inglês, que o pintor usava com frequência, no mundo ocidental), tiveram uma vida fértil em acontecimentos. Talvez os mais significativos, sejam as suas viagens pelo Oriente. Na Índia, organizaram uma expedição à Ásia Central e percorreram a China, a Mongólia, o Tibete e outros países.

Embora se conheçam poucos detalhes da sua vida, sabe-se que foi uma activista participante nas grandes questões do seu tempo. Foi uma Instrutora espiritual com um grande número de discípulos. A sua sabedoria - a sabedoria de uma iluminada, encontra-se disseminada por centenas de cartas que enviava aos seus correspondentes e alunos. Estas epístolas foram publicadas em «Cartas de Helena Roerich I-II». Nestas missivas, Helena mostrava a sua preocupação e interesse nas diversas questões do seu tempo.

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Ela foi uma precursora da Nova Era. E antes deste assunto se tornar moda – de mau gosto, diga-se de passagem – com todos os folclores que nós conhecemos actualmente à sua volta, ela escreveu em 1929 o seguinte: «O livro das novas descobertas e da luz da ousadia está aberto diante da humanidade. Já ouviram falar acerca da aproximação da Nova Era. Cada época tem o seu Apelo, e o chamamento fundador da Nova Era será o poder do pensamento criador; e o primeiro passo nesta direcção será a abertura da consciência, a libertação de todos os preconceitos e de todos os conceitos tendenciosos e forçados.»

A Mulher do Futuro

Outra das suas preocupações, foi com a condição das mulheres do seu tempo. Escreveu ela: «A próxima grande época está intimamente ligada à ascensão da mulher. Tal como nos melhores dias da humanidade, a época futura oferecerá novamente à mulher o seu direito ao lugar, lado a lado com o seu eterno companheiro de viagem e de trabalho, o homem. Deveis-vos lembrar que a grandeza do Cosmos se fundamenta na origem dual. Será possível, então, menosprezar um dos seus elementos?”.

Como todas as grandes almas, Helena antecipa-se ao seu tempo; ela sentiu (verdadeiramente, intuiu) que a grande transformação cultural que se esperava para o futuro implicaria a participação plena da mulher - e hoje sabemos que assim é, e assim será.

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Mais adiante e na mesma carta, Helena volta a abordar a questão da mulher, integrando-a agora na problemática da cultura e da educação: «Contudo, no seu esforço pela educação, a mulher deve lembrar que todos os sistemas educativos são apenas meios para o desenvolvimento de um conhecimento e cultura superiores».

A verdadeira cultura do pensamento é desenvolvida pela cultura do espírito e do coração. Apenas esta combinação promove aquela síntese sem a qual é impossível realizar a grandeza real, a diversidade e a complexidade da vida humana na sua evolução cósmica. Assim, enquanto se esforça pelo conhecimento, que a mulher se recorde da Fonte de Luz, e dos Lideres do espírito – aquelas grandes mentes que, verdadeiramente, criaram a consciência da humanidade. A humanidade encontrará o caminho para a verdadeira evolução, aproximando-se desta fonte e do princípio liderante da Síntese.»

Quando, ainda hoje, vemos pessoas com alguma maturidade intelectual e espiritual a utilizarem o seu tempo em práticas de tipo Hatha Yoga, será com certeza útil recordar as suas palavras acerca deste assunto: «não devemos hipervalorizar os resultados do Hatha Yoga e pensar que os “os adeptos do Hatha Yoga são iguais aos do Raja Yoga na sua habilidade para despertar a kundalini (1) e para adquirir os vários tipos de siddhis(2)” e que “eles atingem a bem-aventurança e se libertam da matéria”.

De facto assim não é. O grau de bem-aventurança atingido por tais adeptos é muito relativo e, através da Hatha Yoga, nunca atingem a libertação da matéria (no sentido que é utilizado pelos Grandes Instrutores). Tal como diz o ensinamento, “Não conhecemos ninguém que tenha atingido a meta pelo caminho do Hatha Yoga”.

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Mesmo o desenvolvimento dos siddhis inferiores, que os hatha yogis adquirem utilizando exercícios terrivelmente difíceis e mecânicos, não são duradouros; nas suas próximas encarnações, poderão perder todos eles. Só aquelas conquistas que vêm naturalmente são válidas e permanentes, porque constituirão o resultado de um desenvolvimento espiritual interno. Apenas desse modo as manifestações de verdadeiro poder podem ser alcançadas. Os exercícios de Hatha Yoga não devem ir além de um ligeiro e cuidado pranayama, que fortalece a saúde; de outro modo eles podem ser perigosos, conduzindo à mediunidade, obsessão e loucura.

Cremos que, assim, mais uma vez ficaram claros os perigos que o aspirante corre ao praticar certas disciplinas mais físicas. Volta-se a repetir que os yogas do actual tipo médio de aspirante, são o Jnana ou o Raja, podendo ser complementados pelos Karma ou Bahkti Yogas.

São também de Helena Roerich as obras «On Eastern Crossroads» e Foundations of Buddhism», embora usando pseudónimos diferentes para cada uma delas.

Em 1930, com o seu marido Nikolay e inspirada pelo seu Mestre, O Senhor do Raio Azul, funda a Agni Yoga Society. A propósito do Agni Yoga, escrevemos no passado o seguinte: «Muito pouco se sabe deste percurso espiritual. Conhece-se apenas que ele será o yoga da próxima raça, a Sexta. O discípulo deste yoga tem já o seu corpo búdico e intuitivo razoavelmente desenvolvido e encontra-se polarizado no chakra cardíaco e no centro correspondente da cabeça. Este é a via dos discípulos avançados e dos iniciados.

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Muito sinteticamente, poder-se-á dizer que ele é o caminho da vida, da síntese espiritual, do fogo, da intuição e do sacrifício. O 2º (Amor-Sabedoria) e o 4ª (Arte, Beleza e Harmonia) raios regem este percurso.» (3)

Foi também ela a primeira tradutora para o russo da obra importantíssima de Blavatsky «A Doutrina Secreta». A propósito desta obra - a D. S. –, nunca é demais realçar a sua importância, grandeza e profundidade. Na minha modesta opinião, ela é na actualidade a mais importante obra, não só do ocultismo, como também da literatura mundial.

Nada se lhe compara, nada se lhe equivale. Ela é para mim como um furacão, um tornado que passa pela mente e que, num ímpeto de força e movimento, a purifica dos seus miasmas, superstições, limitações e ilusões. Ela é como uma explosão que nada deixa de pé e que, contudo, num acto de magia grandiosa, tudo reconstroi de uma forma mais bela, mais imponente – mais poderosa. Estudar e meditar a D. S. é como alguém disse, uma iniciação, no sentido de que a sua reflexão leva, inevitavelmente, a uma expansão da consciência.

Helena Roerich desencarnou em 1949, e pode dizer-se, com segurança, que os seus livros são hoje mais conhecidos do que o foram durante toda a sua vida.

Autor: João Gomes

Diácono da Igreja Católica Liberal; Coordenador da Unidade de Serviço aquarius, inspirada predominantemente na Boa Vontade Mundial

Fonte: Artigo publicado na Revista Biosofia, do Centro Lusitano de Unificação Cultural