Seguimos como regra que nenhum dos livros aqui apresentados nesta lista de dez títulos, conta mais de 190 páginas. Alguns, muito menos como o tão nosso “Morreste-me”, de José Luís Peixoto.

Ponto segundo, todos os livros que aqui encontra estão disponíveis online, nas lojas das editoras e, grosso modo, com descontos.

Mais, os livros que aqui apresentamos têm o potencial do clássico, sendo narrativas intemporais e com histórias universais.

Livros que o leitor pode descobrir em menos de 24 horas. Mas, sem pressão.

“Sono”, de Haruki Murakami

“Há dezassete dias que não durmo”. É desta forma que se inicia a história que Haruki Murakami, escritor nipónico, imaginou e escreveu sobre uma mulher que, certo dia, deixou de conseguir dormir.

Em 96 páginas, “Sono” (edição Casa das Letras), traz-nos o relato de uma segunda vida. A da protagonista que, pela calada da noite, enquanto o marido e o filho dormem o sono dos justos.

Para a protagonista do livro, cujo nome nunca chegamos a conhecer, as noites tornam-se de longe mais interessantes do que os dias. Mas também, escusado será dizer, mais perigosas.

sono

“O velho que lia romances de amor”, de Luis Sepúlveda

Antonio José Bolívar Proaño vive em El Idilio, um lugar remoto na região amazónica dos índios shuar, com quem aprendeu a conhecer a selva e as suas leis, a respeitar os animais que a povoam, mas também a caçar e descobrir os trilhos mais indecifráveis.

É ele o protagonista do livro “O velho que lia romances de amor” (edição Porto Editora), escrito pelo chileno Luis Sepúlveda. No romance com pouco mais de 120 páginas, Antonio Proaño decide, certo dia, começar a ler. Fá-lo com paixão, lendo os romances de amor que, duas vezes por ano, lhe leva o dentista Rubicundo Loachamín, para ocupar as solitárias noites equatoriais da sua velhice anunciada.

Com eles, procura alhear-se da fanfarronice estúpida dos gringos e garimpeiros que julgam dominar a selva porque chegam armados até aos dentes, mas que não sabem enfrentar uma fera a quem mataram as crias.

velho que lia

“Uma gata, um homem e duas mulheres”, de Junichiro Tanizaki

Neste livro, o leitor tem em mãos um trio de contos de um dos grandes nomes da escrita japonesa do século XX, Junichiro Tanizaki. Este volume inclui, em perto de 180 páginas, uma novela e dois textos mais curtos. As três histórias que compõem “Uma gata, um homem e duas mulheres” (edição Teorema) são variações de um tema favorito de Tanizaki: A dominação e a submissão nas relações privadas.

O homem da novela que dá título ao livro é um herói típico do autor - um tipo estragado e obstinadamente inútil, apanhado numa guerra entre a sua vingativa ex-mulher e a sua obstinada jovem sucessora, ambas rivais da gata Lily - sedutora, elegante e magnificentemente controladora. O “Pequeno Reino”, descreve a relação curiosamente inconstante entre um professor autoritário e um pequeno, mas indomável, aluno determinado a impor as suas próprias regras.

Finalmente, “O Professor Rado” é um malicioso retrato de um académico autoconvencido, visto na visão de um jornalista ansioso por "apanhar uma história". Numa série de entrevistas, o professor responde às perguntas apenas com grunhidos, mas, por acaso, o jornalista acaba por descobrir um escandaloso lado oculto desse senhor eminentemente respeitável.

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“O Segredo do Bosque Velho”, de Dino Buzzati

O coronel Sebastiano Procolo herda do seu tio parte do Bosque Velho, lugar mágico habitado por génios, espíritos e forças invisíveis com o poder de se transformarem em animais ou homens. Indiferente a esta natureza idílica, o coronel tem planos bastante mais práticos para rentabilizar a sua herança, desencadeando uma guerra que diluirá as fronteiras entre o Bem e o Mal, contaminando a realidade de elementos fantásticos.

Adaptado ao cinema num filme de enorme sucesso, que recorda a prosa alegórica de Saint-Exupéry e do seu O “Principezinho”, “O Segredo do Bosque Velho” (edição Cavalo de Ferro) é o romance onde o italiano Dino Buzzati melhor evoca a perda da inocência e a brutalidade do real, temas que fazem parte do universo do autor. Para ler de um sopro nas suas 160 páginas.

bosque

“O Galo de Ouro”, de Juan Rulfo

“O galo de ouro” (edição Cavalo de Ferro) descreve a vertigem do jogo, do amor e da sorte a partir da história de Dionísio, um treinador de galos de luta surgido do nada que se torna uma figura incontornável do submundo. Neste livro do escritor mexicano Juan Rulfo, há políticos e domadores de feras, numa história que é uma metáfora sobre os trajetos incomuns que pode levar a vida humana.

O presente volume reúne os poucos textos de ficção que Rulfo deixou inéditos. “O galo de ouro” foi adaptado ao cinema várias vezes, a primeira das quais logo em 1964 num filme de Roberto Fuentes e García Márquez.

galo de ouro

“Numa casca de noz”, de Ian McEwan

“Numa Casca de Noz” (edição Gradiva, chancela da Bertrand) o escritor britânico Ian McEwan apresenta-nos Trudy, jovem em adiantado estado de gravidez. A protagonista planeia envenenar John, o marido e pai da criança que vai nascer, de conluio com Claude, seu amante e cunhado.

Sem o saberem, todos têm uma improvável testemunha da trama: O bebé, residente no ventre de Trudy. Um toque de surpresa, trazido pela voz que narra o mundo.

E, com isso, apresenta-nos ao longo de 180 páginas, uma perspetiva inigualável. A perícia das palavras, num enredo que guarda a vida e que contém a morte. Uma história de crime e engano, de traição e amor.

casca de noz

“Morreste-me”, de José Luís Peixoto

Em 64 páginas, o escritor luso José Luís Peixoto apresenta-nos uma obra intensa e comovente. “Morreste-me” (edição Quetzal, chancela da Bertrand) é o relato da morte do pai, o relato do luto, e ao mesmo tempo uma homenagem, uma memória redentora.

“É o teu rosto que encontro. Contra nós, cresce a manhã, o dia, cresce uma luz fina. Olho-te nos olhos. Sim, quero que saibas, não te posso esconder, ainda há uma luz fina sobre tudo isto. Tudo se resume a esta luz fina a recordar-me todo o silêncio desse silêncio que calaste. Pai. Quero que saibas, cresce uma luz fina sobre mim que sou sombra, luz fina a recortar-me de mim, ténue, sombra apenas. Não te posso esconder, depois de ti, ainda há tudo isto, toda esta sombra e o silêncio e a luz fina que agora és”.

morreste-me

“Fala-lhes de batalhas, de reis e de elefantes”, de Mathias Énard

Mathias Énard, escritor francês, entrega-nos neste seu livro de 160 páginas um encantador romance histórico, “Fala-lhes de batalhas, de reis e de elefantes” (edição D. Quixote, uma chancela da Leya).  O autor de “Zona”, vencedor dos prémios Goncourt des lycéens, leva-nos até ao século XVI, mais precisamente a 13 de maio de 1506. O génio Miguel Ângelo desembarca em Constantinopla, sabendo que para trás deixou o poderio e a cólera de Júlio II, papa guerreiro e mau pagador, a quem prometera edificar um túmulo em Roma.

Mas como não havia de responder ao convite do sultão Bayazid, que, depois de ter recusado os planos de Leonardo da Vinci, lhe propõe a conceção de uma ponte sobre o estuário denominado o Corno de Ouro? Assim começa este romance perturbante, com o encontro do homem do Renascimento com as belezas do mundo Otomano.

fala-lhes

“Uma Abelha na Chuva”, de Carlos de Oliveira

Nascido em 1921 no Brasil, Carlos de Oliveira, filho de emigrantes portugueses, conhece Portugal ainda em tenra idade, com dois anos. Em 1953, o escritor, já amadurecido, oferece aos escaparates o livro “Uma Abelha na Chuva”, editado atualmente pela Assírio & Alvim. Na obra, o autor entrega-nos personagens inesquecíveis, como Álvaro Rodrigues Silvestre e sua mulher, Dona Maria dos Prazeres. Isto num Portugal provinciano, no dealbar do século XX. Uma narrativa que se centra na aldeia de Montouro, num início de outono frio e chuvoso e com um anunciado regresso, nada desejado pelos protagonistas.

Um livro ao corrente de uma escrita de um autor que em 1978 recebeu o Prémio Cidade de Lisboa. Viria a falecer em 1981.

“A abelha foi apanhada pela chuva: vergastadas, impulsos, fios do aguaceiro a enredá-la, golpes de vento a ferirem-lhe o voo. Deu com as asas em terra e uma bátega mais forte espezinhou-a. Arrastou-se no saibro, debateu-se ainda, mas a voragem acabou por levá-la com as folhas mortas”.

Uma Abelha na Chuva

“O chefe de estação Fallmerayer”, de Joseph Roth

Escrita no exílio francês em 1933 e publicada no mesmo ano em Amesterdão, a novela de Joseph Roth “O Chefe de Estação Fallmerayer” (edição Assírio e Alvim) conta-nos, em 80 página, a história da invulgar paixão vivida por um vulgar chefe de uma estação de caminhos de ferro situada a poucos quilómetros de Viena. Fallmerayer, casado e com duas filhas, pouco fazia senão, dia após dia, ver passar os comboios expresso a uma velocidade vertiginosa em direção ao Sul, que para ele era sinónimo do mar, do sol, da liberdade e da felicidade.

Após um curto período de férias com a família e consequente regresso à sua minúscula estação, um trágico acidente ocorrido ali perto muda radicalmente o curso da sua vida. O destino fá-lo cruzar-se com uma das vítimas do acidente, uma condessa russa casada. Deslumbrado com a mulher desconhecida, dá-lhe guarida e cuida dela enquanto esta recupera do trágico acidente. Passados alguns dias, a condessa, recomposta, vai-se embora, “deixando em todas as divisões e particularmente na cama de Fallmerayer um aroma indelével de pele da Rússia e de um perfume indescritível”.

O chefe de estação Fallmerayerj