"Jada, eu adoro-te! GI Jane 2, mal posso esperar para ver!" Esta frase proferida por Chris Rock, uma referência ao filme protagonizado por Demi Moore, quando interpretou uma militar que rapa o cabelo, na apresentação de mais um segmento dos Óscares foi o gatilho para o que aconteceu depois.

Se num primeiro momento Will Smith achou piada à piada do colega, é possível ver-se também o revirar de olhos de Jada Pinkett-Smith, que sofre de alopécia e já falou abertamente sobre o tema. A câmara muda de ângulo e algo acontece. De repente, Will Smith aparece no ecrã a dirigir-se a Chris Rock e quando ninguém esperava, desfere um estalo na sua cara. Se inicialmente a audiência ri e nos questionamos se é uma coisa encenada ou não, os segundos seguintes são esclarecedores quando Smith grita: “Mantém o nome da minha mulher fora do **** da boca”.

A cerimónia prosseguiu e minutos mais tarde quando Will Smith sobe ao palco para, num discurso carregado de emoção, agradecer o Óscar de Melhor Ator pelo papel em “King Richard”, um filme sobre a vida do pai das atletas Venus e Serena Williams, o ator sublinhou que "Richard Williams era um feroz defensor da sua família" e que “o amor faz-nos fazer coisas loucas”, pedindo desculpa à audiência e à Academia pelo ato violento. Mas não a Chris Rock.

O ator foi ainda, durante a cerimónia, apoiado por Denzel Washington e Tyler Perry.

As opiniões começaram a surgir. Para a atriz Tiffany Haddish, em declarações à People, "quando eu vejo um homem negro a defender a sua mulher, isso significa tanto para mim!”, acrescentando que quando ele diz “mantém o nome da minha mulher fora da tua boca, deixa a minha mulher em paz, é isso que um marido deve fazer, certo? Proteger-nos. E isso representa o mundo para mim. E talvez o mundo não goste de como as coisas aconteceram, mas isto foi uma das coisas mais bonitas que já vi porque faz-me acreditar que ainda existem homens que amam e se preocupam com as suas mulheres”.

Tiffany Haddish sobre desejo de adotar criança:

Jaden Smith, filho de Will e Jada, mostrou o apoio ao pai ao reagir na sua conta de Twitter que "Connosco é assim", acrescentando posteriormente que "O discurso do meu pai fez-me chorar".

A congressista democrata Ayanna Pressley, que também sofre da mesma condição de Jada twitou “Nação Alopecia levantem-se! Obrigada Will Smith. Uma ovação para todos os maridos que defendem as suas esposas que vivem com alopecia diante da ignorância e insultos diários". No entanto, o twitt foi apagado.

A Academia apressou-se a condenar o que aconteceu. "A Academia não tolera qualquer tipo de violência. Esta noite, temos o prazer de celebrar os nossos vencedores dos 94.º Óscares, que merecem este momento de reconhecimento dos seus colegas e amantes do cinema em todo o mundo", partilharam nas redes sociais.

Pouco depois do sucedido, Janai Nelson, presidente da LDF, uma reconhecida organização de direitos civis norte-americana escrevia no Twitter: “Sei que ainda estamos todos a processar, mas a forma como a violência casual foi normalizada esta noite perante uma audiência nacional coletiva terá consequências que nem sequer podemos imaginar no momento”.

A comediante Kathy Griffin fez também uma reflexão: “Deixem-me que vos diga que é uma prática muito má subir ao palco e agredir fisicamente um comediante. Agora todos temos de nos preocupar com quem quer ser o próximo Will Smith em clubes de comédia e teatros”.

Em Portugal também houve reações. Isabel Moreira escreveu que "A melhor forma de reagir a uma piada cruel e, portanto, sem graça, é não rir. É o silêncio. A violência de Will Smith foi mais um caso de masculinidade tóxica em direto".

Também Nuno Markl - "Está, de facto, tudo maluco" – e Heitor Lourenço reagiram: “Nos tempos que correm qualquer tipo de violência não devia ter palco. Não tem a ver com humor, não tem a ver com nada. É um lugar vazio lamentar as guerras quando a paz não parte de nós, no dia a dia”.

Por outro lado, Rui Oliveira, marido de Manuel Luís Goucha, partilhou uma imagem do momento no Instagram com a legenda: "Grande homem".

Rita Ferro Rodrigues fez também uma reflexão: “Vi a cena do momento em direto. O humorista fez uma piada má sobre a falta de cabelo de uma mulher doente. O ator e marido respondeu com violência a esta piada má. Will Smith não devia ter agredido Chris Rock. A minha linha vermelha é a violência física. Sim, é um episódio lamentável de ambos, de um machismo insuportável (quem não o consegue perceber, desculpem-me,mas não vou explicar, há coisas demasiado óbvias e este tema da desconstrução do que é machismo já me provoca urticária)".

A apresentadora conclui que: "Nada justifica que alguém atropele uma pessoa por não gostar do que esta lhe disse. Nada justifica ultrapassar esta linha vermelha que nos distingue entre seres racionais e animais. E neste tempo de guerra, onde a distinção de valores é crucial, eu sei exatamente de que lado me encontro".