Kirstie Clements, ex editora da Vogue australiana, resolveu denunciar os bastidores do mundo da moda em relação ao tão polémico tamanho zero. A australiana revela que as modelos passam fome, comem lenços de papel e recorrem à estética, sempre que a dieta não é suficiente.
Kirstie começou a trabalhar na área nos anos 80 e nessa altura o mercado era diferente: “As modelos eram naturalmente esbeltas e magras, cabelo brilhante, boa pele e muita energia. Almoçavam com moderação, mas almoçavam”. Nos dias que correm, a editora tem vindo a notar que a privação de comida é uma constante e repudia “a forma como a indústria procura modelos anoréticos, à beira da hospitalização por falta de comida”.
A culpa parece residir em toda a sociedade. Os editores propagam este tipo de mensagem- modelos magras ao extremo – nas suas páginas, os estilistas só fazem coleções para este tipo de mulher, e a publicidade também explora o mercado dessa forma. Resultado: qualquer modelo um pouco mais cheinho – sem ser considerado plus size – já não serve.
“Há alguns designers de moda masculina que eu própria gostaria de estrangular. Mas também há muitos editores de moda que perpetuam o estereótipo de mulheres com transtornos alimentares. Não se pode negar que visualmente as roupas caem melhor num corpo mais magro, mas nunca assustadoramente magro”.
A tendência, alerta, é para piorar, pois nos anos 80 top models como Cindy Crawford, Eva Herzigova e Claudia Schiffer tinham curvas bem definidas.
”Nos anos 90 começou o boom das modelos magras. Tivemos vestidos de alta costura que são tão minúsculos que fazem lembrar roupas de batismo. Ao designer provavelmente não interessa ver as suas roupas em mulheres maiores e nem querem aparecer dessa forma nas revistas fashion”, refere Kirstie e acrescenta: ”Como editora da Vogue sempre achei que um leitor inteligente entende que um modelo é escolhido quando a roupa lhe fica bem”.
Além disso, um modelo que não come é um modelo sem energia e ao longo da sua carreira, a editora assistiu a muitos casos de modelos que não comiam nada durante o dia e ao cair da noite beliscavam dos pratos das outras pessoas às escondidas. Um agente de modelos, cujo nome não revela, confidenciou-lhe ainda "este problema está a ficar sério. Os principais nomes da moda internacional estão a exigir que cada vez os modelos sejam mais magros. Tenho quatro meninas no hospital. E outros tantos que têm recorrido a comer tecido para inchar o estômago".
Kirstie Clements decidiu falar, porque se sente “horrorizada com toda esta situação e não quer ser cúmplice deste quadro destruidor”, esperando que com o seu depoimento possa abrir os olhos a muita gente do showbusiness.
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