Num formato intimista e envolvente, 4 portuguesas de sucesso participaram no Woman Talk e falaram dos seus percursos profissionais, dos obstáculos ultrapassados e dos sucessos conquistados.
O encontro moderado por Luísa Castel-Branco realizou-se no âmbito da Feel Woman e o SAPO Mulher apresenta-lhe aqui os desabafos, as ideias, as memórias, as críticas, as sugestões na primeira pessoa.

“Recordo-me dos tempos em que os homens se reuniam em grupo, curiosos, ao ver uma mulher sozinha numa mesa de café. Aconteceu em Évora, longe da grande cidade, mas em Lisboa as coisas não eram muito diferentes. Apenas sei que aprendi imenso vocabulário nessa altura…”

Rosa Lobato Faria, Escritora e actriz de televisão e de cinema

“Ir estudar Direito para Coimbra quando eu fui era totalmente inovador. O acesso era muito restrito e no Direito da Família e em todas as esferas do Direito Civil a posição da mulher não era consagrada legislativamente”.

Maria de Belém, ex-ministra da Saúde e actual Presidente da Comissão Parlamentar de Saúde

“Cresci num meio pequeno mas nunca me senti descriminada por ser mulher e sempre fiz para que isso não acontecesse. Creio que muitas das vezes as mulheres têm culpa porque continuam a dar seguimento a uma educação desigual”.

Fátima Lopes, Estilista

“Se faz sentido falar no dia da Mulher? 2007 foi o Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos e uma das discriminações mais focadas foi a discriminação contra as mulheres. Aparentemente está tudo conquistado, dá a sensação que está tudo feito quando há muito por fazer".

Elza Pais, Presidente da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG)

“Fiz de tudo… bolos, vendi enciclopédias… e fui a primeira mulher da família a divorciar-se. Um escândalo… na altura a família cortou relações.”

Rosa Lobato Faria

“Durante séculos, toda a teorização política, jurídica, social, económica, etc sempre consagrou à mulher uma posição redutora. Esse peso da história ainda se faz sentir. As mulheres continuam desvalorizadas. O escrutínio delas é permanente. Isto aconteceu durante tantos anos que ainda hoje reproduzimos o mesmo modelo: as meninas têm que fazer as coisas da casa e os rapazes saem com o pai”.

Maria de Belém

“Tive dificuldades na carreira. Consegui valorizar o meu nome no mundo da moda num país onde os portugueses na altura eram apenas conhecidos por trabalhar nas obras e nas limpezas. Faço parte de uma geração mais nova mas tive sempre que lutar. Tenho um feitio forte e a palavra desistência não faz parte do meu vocabulário”.

Fátima Lopes

“Como disse a Simone de Beauvoir: não nascemos mulheres, tornamo-nos mulheres… Para os homens é tudo mais fácil, exige-se muito mais das mulheres. Temos à partida condições mais difíceis. Quando uma mulher tem que se afirmar tem que ser uma super-mulher. Temos o direito de fazer o mesmo que os homens podem fazer mas sem tanto esforço”.

Elza Pais

“Ensinei aos meus quatro filhos exactamente a mesma coisa e sobretudo o respeito pelo sexo oposto. Nunca na vida fiz diferenças e deu excelentes resultados”.

Rosa Lobato Faria

“Não sou defensora de um sistema invertido mas sim dos princípios de igualdade, de respeito e de cooperação. Na Carta Universal de Direitos Humanos todos somos iguais em direito e em dignidade. Quem não promove estes valores são sociedades pobres que não apelam à justiça e a outras exigências que se impõem no século XXI”.

Maria de Belém

“As mulheres não vão para a política porque não gostam. Este é um dos mitos do mundo dividido. Há que incutir o gosto, desmistificar e ganhar afirmação. Muitas vezes são as próprias mulheres as principais reprodutoras dos valores de descriminação. Foram assim habituadas e por isso há que debater e há que levar a mensagem a todos os planos da sociedade, em sectores tão diferentes como a educação, a arte, a comunicação social, a publicidade. Esta divisão do mundo gera falta de respeito, pobreza de espírito, atraso económico e social... ninguém ganha, nem os homens”

Elza Pais

Texto: Ana Margarida Lázaro