Marta Freitas e Sandra Fontan foram as vencedoras do primeiro concurso de empreendedorismo feminino das Mulheres à Obra, que contou com 352 concorrentes. Marta é psicóloga clínica e facilitadora de terapia de grupo centrada no mindfulness e na gestão socioemocional. Sandra Fontan é designer gráfica, professora de yoga e yogaterapeuta. Juntaram os seus conhecimentos e competências para criar o Kula, um jogo terapêutico extraordinário.

São criadoras do Kula, um jogo terapêutico que descrevem como inovador. O que é o Kula, o que pretende alcançar e como se distingue daquilo que já existe no mercado?

Marta Freitas - O Kula® é um jogo para famílias e escolas que ensina ferramentas de mindfulness, bem como estar em relação de uma forma saudável e empática, facilitando o desenvolvimento das competências socioemocionais. Tem como base 10 pilares de ética que são o fio condutor do conceito do jogo e também os valores que considerámos fundamentais para viver em sociedade. Acreditamos que é um catalisador da parentalidade consciente e da educação positiva, promovendo uma sociedade mais saudável, pacífica, solidária e empoderada.

O que distingue o Kula é a possibilidade de ser utilizado simultaneamente em casa e na escola. Desta forma, pais e professores podem aplicar o conjunto de ferramentas que reunimos, desde a prática de posturas de yoga, às ferramentas de gestão de conflito, exercícios de mindfulness, até à própria avaliação emocional. Só por si, esta oferta num único jogo é inovadora. E a jogar, fazemos uma ponte entre as nossas casas e as escolas. No fundo, é um jogo em que todos ganham.

O Kula congrega a parentalidade consciente, a educação positiva, a inteligência emocional, o mindfulness e a psicologia. O que cada uma destas áreas oferece ao jogo e como se conjugam?

Sandra Fontan - O Kula permite uma forma simples de trabalhar todas estas áreas. Criámos sete cartas dos mestres que no fundo são as sete atitudes básicas do mindfulness, que permitem trabalhar a atenção plena, que é essencial na prática da parentalidade consciente e na educação positiva. Através das 21 cartas de posturas pretendemos trabalhar a consciência do corpo, que aliadas às cartas dos exercícios respiratórios formam as âncoras do mindfulness. O jogo inclui ainda outras cartas que nos desafiam na relação com o outro de uma forma lúdica, estimulando a inteligência emocional.

Temos 20 cartas que exploram os pilares éticos, 10 para as escolas e 10 para as famílias que são: não violência, honestidade, não roubar, autocontrolo, não possessividade, higiene/transparência, aceitação/contentamento, cuidado/autosuperação, educação do eu/autoconsciência, espiritualidade e fé. Estas são as promotoras da educação positiva no nosso jogo. Tentamos colocar os jogadores em situações de equilíbrio de poder. Estas cartas têm sempre um objetivo/missão que é também uma recompensa. Utilizadas na sua plenitude são a verdadeira experiência de mindfulness na “vida real”, aplicada ao nosso quotidiano.

As grelhas de avaliação emocional e de planeamento e negociação avaliam as necessidades e medem o progresso da aplicação do Kula, distinguem-nos enquanto produto e são ferramentas do nosso projeto de investigação.

Vocês são ambas mães e professoras. Esta vossa experiência pessoal e profissional influenciou a criação do jogo? Se sim, como?

Marta Freitas - Sim, sem dúvida. Este jogo nasceu exatamente de uma das nossas conversas sobre o que é o nosso tempo em família e como é que o podíamos enriquecer. Nessa altura, para além das consultas de psicologia nas escolas, estava também responsável pela coordenação de algumas Componentes de Apoio à Família (CAF’S) e chegava sempre tarde a casa. Entre ir buscar o meu filho à escola, banhos, jantares e afins, de repente já eram 21:30H e estava na hora de o deitar.

Afinal, que tempo de qualidade lhe tinha dedicado? A Sandra estava grávida e mais sensível a estas questões, com vontade de desenvolver o seu trabalho numa vertente mais familiar. Juntámos os nossos conhecimentos e criámos um jogo que permite a todos os pais ter 20 minutos exclusivos para a família. Mais tarde, quando trabalhámos juntas a dar aulas de mindfulness e gestão socioemocional num projeto Programa Integrado de Educação e Formação (PIEF), fizemos evoluir o Kula para a sua versão atual, com aplicação nas escolas.

Imaginam um Kula® direcionado para um público adulto, nomeadamente para o contexto laboral?

Sandra Fontan - Sim, estamos a trabalhar noutras versões mas ainda não podemos desvendar. A tribo Kula vai aumentar em breve, fiquem atentos às novidades.

Para além do Kula®, que estratégias podemos utilizar para promover as competências socioemocionais das nossas crianças?

Marta Freitas - É essencial enriquecer o tempo no dia a dia. São os nossos exemplos que as vão fazer crescer de uma forma saudável e autêntica.

5 sugestões para implementar pequenas coisas na sua rotina diária:

1- Ouvir ativamente o que as nossas crianças têm para nos dizer, envolvendo-nos emocionalmente com o que elas sentem;

2- Ter consciência da nossa linguagem corporal, usar o toque e a gentileza como forma de comunicação e expressão do nosso afeto;

3- Encorajar e elogiar sempre perante os desafios ou mesmo perante uma tarefa executada sem sucesso;

4- Estimular as crianças nas pequenas tarefas domésticas do dia a dia, promovendo a cooperação e a autonomia;

5- Tal como fazemos a nossa higiene física todos os dias, devemos fazer a nossa higiene mental. Parar durante 10 minutos por dia para experienciar o momento presente, é sem dúvida o melhor presente que podemos dar a nós próprios e às nossas crianças.


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