Foi preciso mais uma dúzia de anos para que o aval fosse dado, apesar da urgência da solução do problema. «Depois de mais de 12 anos de estudos, avaliações de risco e pedidos de autorização, passando o crivo de autoridades nacionais e europeias, uma equipa de investigadores do Centro de Ecologia Funcional (CEF) da Universidade de Coimbra (UC) e da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Coimbra (IPC) obteve autorização para a libertação do primeiro agente de controlo natural para conter a dispersão de uma planta invasora em Portugal», informou a Universidade de Coimbra em comunicado no início de agosto de 2015.

O produto é o terceiro desenvolvido na Europa. «A espécie-alvo do inseto cuja libertação foi agora autorizada é a acácia-de-espigas, um arbusto/pequena árvore australiana que é uma das piores invasoras no litoral Português», refere ainda o documento. Além de ameaçar a biodiversidade nativa, esta planta invasora altera o solo e a dinâmica do sistema dunar, diminui a produtividade em áreas florestais e acarreta custos elevados para o seu controlo.

«A sua capacidade invasora está em larga medida relacionada com a produção de uma grande quantidade de sementes, que se acumulam num banco de sementes muito numeroso e que permanecem viáveis no solo durante muitos anos», explica a investigadora Elizabete Marchante, do CEF, organismo coordenado pela professora Helena Freitas. A autorização agora obtida, após um longo e exigente processo, «é um passo de gigante numa Europa muito conservadora em relação ao controlo natural de plantas invasoras», refere.

«Não só é um importante contributo para o controlo da acácia-de-espigas, como abre portas para a utilização desta tecnologia no futuro, para o controlo de outras espécies de plantas invasoras», sublinha ainda a investigadora da UC. Este processo de controlo natural consiste em libertar um pequeno inseto australiano (Trichilogaster acaciaelongifoliae) que «promove a formação de galhas (também conhecidas como bugalhos) nas gemas florais da acácia-de-espigas», sublinha.

Como se processa o controlo

Quando as galhas se formam, as flores e consequentemente os frutos e depois as sementes da planta invasora não se chegam a formar. «O resultado é a diminuição da capacidade de invasão e de dispersão da acácia-de-espigas, já que o número de sementes diminui significativamente», clarifica Hélia Marchante, investigadora do CEF e do IPC, que trabalha com este inseto desde 2003. Ao longo destes anos, a equipa realizou testes em outras plantas na África do Sul e em Portugal e «assegurou-se que o inseto não afetará espécies não-alvo.

De facto, este pequeno himenóptero (com entre dois a três milímetros) é muito específico e precisa da acácia-de-espigas para completar o seu ciclo de vida. Em Portugal, foi testada uma lista de 40 plantas incluindo espécies nativas e espécies com interesse económico, e apenas se observou a formação de galhas em acácia-de-espigas, o que corrobora a grande especificidade deste organismo», realçam as investigadoras.

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Os métodos de controlo que falharam anteriormente

Com os últimos estudos já efetuados no âmbito do projeto INVADER-B, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e comparticipado pelo Fundo Comunitário Europeu (FEDER), prevê-se que as primeiras largadas de insetos decorram no próximo mês de outubro. «Atualmente, os métodos utilizados em Portugal para controlar acácia-de-espigas (controlo mecânico, por vezes, conjugado com controlo químico) têm-se revelado ineficazes, além de muito dispendiosos», sublinham os responsáveis.

Tal sucede «principalmente porque a germinação das sementes armazenadas no solo promove a rápida reinvasão das áreas intervencionadas», refere o comunicado da Universidade de Coimbra. «Neste contexto, o controlo natural é uma importante ferramenta/ tecnologia para a conservação da natureza, sendo sustentável e amigo do ambiente quando utilizados organismos bastante específicos, como é o caso deste inseto formador de galhas», pode ler-se ainda no documento.