Adotando uma metodologia da Agência Portuguesa do Ambiente, a iniciativa envolve o preenchimento de formulários que, após a recolha e identificação do lixo balnear, são registados na base de dados da Convenção OSPAR (estrutura internacional constituída por vários países para proteger o meio marinho do Atlântico Nordeste) e também utilizados em avaliações da Diretiva Quadro da Estratégia Marinha (que regula a ação comunitária europeia no domínio da política para o meio marinho).
Cláudia Cardoso, chefe da Divisão de Ambiente na Câmara de Ovar, explicou à Lusa que a recolha de resíduos ditos normais já se vem repetindo a título periódico, mas no sábado é também lançada a componente relativa aos microplásticos, que "nem sempre se conseguem identificar a olho nu, mas estão presentes na água e na areia, e são bioacumulados por animais como aves e peixes, inclusive por espécies que, destinadas a consumo humano, os ingerem sem querer e assim acabam por passar essas micropartículas às pessoas".
Segundo as estimativas da Organização das Nações Unidas, os plásticos de dimensão inferior a cinco milímetros estão cada vez mais presentes na cadeia alimentar porque contaminam água, solo e alimentos ao libertarem-se no ambiente - através, por exemplo, da lavagem de roupas sintéticas, do desgaste de pneus em circulação e da incorporação intencional de micropartículas em produtos de beleza como esfoliantes faciais.
No caso da costa de Ovar, Cláudia Cardoso disse que o trabalho agora a iniciar no contexto dos microplásticos é "um passo pioneiro para envolver o público na quantificação e identificação desses pequenos fragmentos" e visa envolver "grupos organizados de cidadãos, famílias, crianças e escolas na recolha e análise de partículas a registar numa base de dados europeia sobre lixo marinho".
Vidro, madeira e tecidos também serão retirados do areal, mas, a avaliar pelos dados compilados em anteriores iniciativas, a organização conta que "mais de 80% dos resíduos" a recolher sejam plásticos abandonados ou perdidos no meio balnear, nomeadamente os transportados por vento, rios e sistemas de drenagem ou tratamento de águas residuais.
A ação vai decorrer na secção sul da Praia do Furadouro e deverá envolver cerca de 70 voluntários, entre técnicos da autarquia, funcionários da Bosch Security Systems e seus familiares.
Marlene Rosário, da Bosch, considerou que essa realidade é "cada vez mais alarmante" e, por isso mesmo, a iniciativa de recolher plástico se tornou "normal" na estratégia de responsabilidade social e ambiental da marca.
A Bosch de Ovar, em concreto, emprega atualmente 700 pessoas e mais de 10% dessas participam anualmente em campanhas ambientais na orla costeira do município, o que, em paralelo a iniciativas internas privilegiando consumíveis recicláveis e "eco team building", incentiva "comportamentos individuais e coletivos mais conscientes", e também ajuda a idealizar "novos produtos e serviços na área da sustentabilidade ambiental".
Salvador Malheiro, presidente da Câmara de Ovar e engenheiro especializado em Ambiente, equaciona a possibilidade de desenvolver com a empresa novas soluções tecnológicas para controlo de segurança e limpeza das praias, no espírito do que já está a fazer, por exemplo, com a Universidade do Porto no âmbito do projeto "Safe Cities", para gestão de multidões.
"Isto pode ser o início de um projeto futuro que coloque a tecnologia da Bosch ao serviço da monitorização do lixo marinho e da videovigilância das nossas praias", disse o autarca.
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