“O que pedimos à DGS é que aproveite os relatórios diários e as comunicações à população [sobre a covid-19 em Portugal] para sensibilizar as pessoas. Neste momento, e infelizmente porque na base está uma pandemia, a DGS tem mais tempo de antena. O que pedimos é que aproveitem esse tempo de antena para, a par obviamente de todos os dados importantes que transmite, fazer este apelo”, disse à agência Lusa Rui Berkemeier, da Zero.
A associação já escreveu à DGS a propósito da gestão de resíduos urbanos, tendo na carta datada de março e dirigida à diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, pedido para que esta sensibilize os cidadãos “no sentido de não colocarem as luvas descartadas nos ecopontos, mas sim nos contentores destinados aos resíduos indiferenciados”, um apelo que agora reitera.
“Não recebemos resposta, mas não significa que não tenha sido feita essa comunicação. (…) De qualquer forma é cada vez mais importante que a mensagem passe. É um problema agora e nas praias já se nota [aumento de descartáveis]”, acrescentou Rui Berkemeier.
Já na carta que é assinada pelo presidente da Zero, Francisco Ferreira, lê-se que esta associação “tem recebido relatos de situações em que junto dos materiais recolhidos no ecoponto amarelo [destinado a plástico, metal e embalagens de cartão para alimentos líquidos] estão a aparecer luvas de plástico utilizadas pelos cidadãos para se protegerem desta pandemia, o que provoca algum alarme nos trabalhadores afetos às estações de triagem”.
“A Zero vem, assim, sugerir a V.Ex.ª [referindo-se a Graça Freitas] que aproveite as oportunidades que a DGS e o Ministério da Saúde têm para fazer comunicações ao país para sensibilizar os cidadãos no sentido de não colocarem as luvas descartadas nos ecopontos, mas sim nos contentores destinados aos resíduos indiferenciados”, refere o documento.
Hoje, Rui Berkemeier somou às preocupações “os relatos que a Zero tem recebido e mesmo constatado”, disse, de “aumento de descartáveis na via pública”, nomeadamente máscaras e luvas usadas como forma de proteção para evitar o contágio do novo coronavírus.
“As pessoas se calhar depois das compras ou de situações onde não têm logo um contentor onde colocar o resíduo, acabam por o largar na via pública. É preocupante porque causa insalubridade ambiental e porque pode ser um risco para outras pessoas”, referiu o especialista em resíduos.
Para a Zero, “a sensibilização é muito importante” e o papel da DGS pode ser “fundamental” face a uma situação “com consequências também psicológicas”.
“É certo que [as máscaras e luvas encontradas na rua] não são considerados à partida um resíduo perigoso porque não são as máscaras usadas em contexto hospitalar, são as comunitárias e usadas em contexto social, mas até do ponto de vista psicológico é fundamental que não vão parar à via pública”, defendeu Rui Berkemeier.
O ambientalista sublinhou, ainda, apelos para que estes resíduos descartáveis vão para o contentor dos resíduos indiferenciados e não para o ecoponto porque “não são resíduos que neste momento possam ser reciclados”, reconhecendo que o país vive uma “situação critica” em matéria de meios para limpeza urbana.
“Em primeiro lugar os cidadãos devem ser conscientes. Esse é o ponto de partida. Mas também se nota uma maior necessidade de limpeza pública e apelamos às entidades que disponibilizem meios para fazerem a recolha. É uma situação critica porque as entidades públicas estão com menos meios por causa da pandemia. Há aqui uma equação difícil de resolver. O ponto de partida é o bom senso da população”, referiu.
Questionado sobre se já são conhecidos valores sobre o aumento de descartáveis e resíduos deixados na rua, Rui Berkemeier disse que ainda não é possível fazer um balanço, mas apontou que se nota uma “transferência de resíduos” em alguns casos “brutal”.
“Tudo o que era gerado na restauração desapareceu e passou a surgir nos resíduos domésticos. Exemplo típico são os óleos alimentares, os óleos de fritar, que houve uma redução brutal dos óleos vindos dos restaurantes e passou a haver produção doméstica, numa área onde a recolha está muito fraquinha ainda”, concluiu.
Em Portugal, morreram 1.342 pessoas das 31.007 confirmadas como infetadas, e há 18.096 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.
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