“A redução drástica e urgente das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) continua a ser uma premência até 2030”, alertou a organização não governamental (ONG) de ambiente e lamentou que não se tenha assumido o abandono da utilização do carvão e o fim dos apoios e isenções concedidos às empresas de combustíveis fósseis.
Na mira das críticas da associação nacional de conservação da natureza estão algumas nações, nomeadamente Índia, China, Arábia Saudita e Estados Unidos da América, ao defender que estes países foram responsáveis pela “abordagem suavizada” na definição de metas, traduzindo apenas “piedosas intenções que resolvem muito pouco ou quase nada” para o compromisso final assinado no sábado.
“O aumento do financiamento à transição energética dos países mais vulneráveis ficou sensivelmente na mesma meta incumprida anteriormente, uma vez que não foi atingido o objetivo de financiar a adaptação climática dos países em desenvolvimento em 100 mil milhões de dólares anuais. Continua ainda por definir a compensação aos países pelas perdas originadas pelas alterações climáticas”, denunciou.
Num comunicado enviado às redações, a Quercus mostrou-se ainda insatisfeita pela reintrodução de 300 licenças de emissão no mercado do carbono, lembrando que já tinham sido “abandonadas após o Protocolo de Quioto”, ratificado em 1999, e que “o Acordo de Paris já nem sequer as previa”, em 2015.
Em termos positivos, a ONG destacou os acordos setoriais na área das emissões de metano, da reflorestação e de incentivo a energias limpas nos veículos, apesar de não deixar de considerar que são “manifestamente insuficientes” para a limitação do aquecimento global em 1,5 graus Celsius até ao final do século.
Sem deixar de sinalizar que o número de participantes na cimeira revela uma “preocupação relativa às alterações climáticas (…) como nunca tinha sido anteriormente obtida”, a Quercus espera que seja aproveitada a “fresta” aberta na COP26 para reforçar a luta contra as alterações climáticas e que a pressão social contribua para corrigir alguns aspetos na cimeira de 2022, em Sharm-el-Sheik, no Egito.
Já sobre Portugal, a Quercus elogiou “a reafirmação das energias renováveis como resposta à crise climática” e a recusa pela “falsa opção nuclear”, considerando ainda necessária uma “maior vontade política em acelerar a descarbonização dos diversos setores da economia” portuguesa.
A 26.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26) adotou formalmente, no sábado, uma declaração final com uma alteração de última hora proposta pela Índia que suaviza o apelo ao fim do uso de carvão.
A alteração foi proposta pelo ministro do Ambiente indiano, Bhupender Yadav, que no plenário de encerramento da COP26 pediu para mudar a formulação de um parágrafo em que se defendia o fim progressivo do uso de carvão para produção de energia sem medidas de redução de emissões.
A proposta acabou por ser aprovada pelo presidente da cimeira, Alok Sharma, que afirmou de voz embargada "lamentar profundamente a forma com este processo decorreu".
O documento final aprovado, que ficará conhecido como Pacto Climático de Glasgow, preserva a ambição do Acordo de Paris, alcançado em 2015, de conter o aumento da temperatura global em 1,5ºC (graus celsius) acima dos níveis médios da era pré-industrial.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, comentou o acordo alcançado em Glasgow alertando que apesar de "passos em frente que são bem vindos, a catástrofe climática continua a bater à porta".
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