Ao todo, vai pedalar cerca de três mil quilómetros, em dois meses, a uma média de “40 a 50 quilómetros por dia”, sem folgas, usando uma velha bicicleta reaproveitada para atravessar Portugal continental de Norte a Sul, dinamizando ações de limpeza, com organizações, a sociedade civil e escolas, e de sensibilização para a emergência climática.

São dois meses que começam em 19 de abril e têm já dezenas de pontos no mapa de Portugal continental marcados, porque é importante “mostrar o oceano e as praias diretamente ligados ao interior, e que os nossos atos importam em qualquer situação e local”, explica, em entrevista à Lusa.

“Decidi fazer um projeto em todo o Portugal, para ligar a história toda, e pensava ‘como é que posso fazer algo diferente que seja extraordinário?’, porque é preciso pensar no que é preciso fazer para abrir os olhos do máximo de pessoas possível, para a poluição e o lixo. Peguei numa bicicleta velha para dar a algo velho um novo valor, a pensar na economia circular”, detalha.

Já a viver em Lisboa, para onde se mudou em 2018, deixou a carreira no campo das biomédicas para trás e criou o ‘The Trash Traveller’ (‘Viajante do Lixo’, em tradução livre) em setembro de 2019, embarcando em vários projetos que chama “extremos” para consciencializar a população para a problemática.

Em 58 dias de 2020, percorreu a pé os 832 quilómetros da costa portuguesa para expor a situação dos plásticos descartáveis que poluíam - e populavam - as praias portuguesas.

A iniciativa envolveu várias centenas de participantes, e ao todo foram recolhidas 1,6 toneladas de plástico, partindo depois, em 2021, para outra caminhada, em 38 cidades costeiras, para apanhar beatas de cigarros: foram 1,1 milhões de ‘caramelos’, envolvendo perto de 600 pessoas e mais de 70 organizações.

Assim, como exemplo de que é preciso “melhorar todo o sistema” de reciclagem e reutilização, chegou à bicicleta, elencando o ciclismo como “uma opção muito, muito boa” para promover a mobilidade verde e mostrar que “a sustentabilidade não tem de ser cara”.

Noe admite que o “desafio grande a nível físico” será importante na ‘aventura’, dado que não anda de bicicleta há três anos, apesar de o fazer quase todos os dias quando vivia na Alemanha, onde era “normal” toda a gente usar este meio de transporte.

“Não vou comprar quaisquer plásticos de uso único, só terei uma garrafa de água reutilizável. Para mostrar que é possível fazer isto só com uma garrafa reutilizável. Se conseguimos fazer isto durante dois meses, pode entrar no nosso quotidiano”, acrescenta.

O alemão assume esperar “ainda mais pessoas envolvidas” desta feita, não só através de reencontros mas também de novas entradas, até por ter já parcerias com projetos e com várias escolas.

É difícil dizer quanto lixo será possível recolher, sendo possível “igualar ou superar” as 1,6 toneladas da caminhada de 2020, mas frisa sempre que “não é tanto sobre a limpeza, mas sobre consciencialização”.

“Se houver grupos de ciclistas, ou pessoas que queiram juntar-se e fazer alguns quilómetros comigo, então essa será uma forma maravilhosa de promover esta forma de mobilidade verde. É um dos focos do projeto”, refere.

Uma espécie de objetivo secundário, de projeto dentro do projeto, é um mapa de produtores locais de legumes e frutas, bem como outros produtos, e projetos biológicos, para disponibilizar um guia completo do país em termos de “opções de compras sustentáveis”.

Como lema, a vontade de “fechar o circuito e tomar conta do ambiente”, não só na reutilização do plástico como “no uso de meios de transporte leves”, como a bicicleta em vez do carro. “É um esforço que já faz muito pelo planeta”, comenta.