Surgem-lhe solicitações, imprevistos, responsabilidades, tecnologia, ambições, competição e insegurança.  Vive num ritmo alucinante e as pessoas mais importantes da sua vida tendem a ficar para segundo plano (assim como as coisas que mais gosta de fazer). Como se estivesse preso numa sociedade com cada vez mais traços de máquina e menos de humana.

Se este texto o/ a fizer parar, por breves minutos, já me dou por contente. Parar, essa atividade tão simples que se está a tornar um pouco mais que uma miragem! Porque o ritmo não abranda mas, também, porque nos condicionámos a ter que estar sempre a fazer alguma coisa. Pensar, sentir ou usar os sentidos surgem-nos como momentos irrelevantes já que os vemos, mecanicamente, como atividades que nada contribuem para a nossa produtividade. Será que deixámos de viver para apenas sobreviver?

Trabalhamos muito e a qualquer hora. Mesmo quando estamos num momento de lazer, o nosso cérebro não deixa de nos apresentar temas ligados à vida laboral. Parece que está por todo o lado, o trabalho. Acreditamos que se trabalharmos muito e bem teremos recursos financeiros que permitirão ter uma “vida melhor” e dá-la aos nossos familiares e amigos. O maior problema é que estamos a perder a capacidade de aproveitar os nossos prazeres, os nossos afetos, as pessoas que somos. E nem conseguimos aproveitar o dinheiro que ganhamos. Este ciclo tem até a capacidade de contagiar empresas inteiras: até nos sentimos mal por sair a horas. Esse hábito horrível que temos de estar demasiadas horas no local de trabalho, mesmo sem sermos produtivos. Como se a pessoa que não lá fica tanto tempo fosse encarada como alguém menos motivado para trabalhar, menos identificado com a organização e com menos potencial dentro da mesma (já para nem falar da “má influência” que se pode tornar para os colegas). Um erro que custa milhões: A União Europeia, com os problemas do foro psicológico, identifica 136 mil milhões de euros gastos com dias perdidos, baixa produtividade e erros sistemáticos.

Um colaborador que consiga equilibrar a necessidade de produtividade com a de lazer terá uma melhor saúde. Está provado por numerosos estudos. Acontece que, para muitas organizações, as pessoas são apenas rodas dentadas de uma engrenagem onde ninguém é insubstituível e facilmente se troca uma por outra. A crise ajudou e de que maneira ao abuso a que assistimos em tantos contextos laborais e em que o burnout é o seu efeito máximo. Felizmente, também, que o mundo laboral está a querer tratar melhor das pessoas, a parte mais importante da organização. Os estudos têm demonstrado que o retorno do investimento em prevenção de riscos psicossociais (caraterísticas inerentes às condições e organização do trabalho que afetam a saúde dos indivíduos, através de processos psicológicos e fisiológicos e que resultam da interação entre o indivíduo, as suas condições de vida e as suas condições de trabalho) varia entre 9€ e 13,62€ por cada Euro investido. Dá que pensar!

Convido-o/a agora a escrever o que é mais importante para si na vida. Não aquilo que a sociedade lhe incute que deva ser importante mas aquilo que VOCÊ, a pessoa que é, valoriza mais. E, depois, siga sem medo rumo a essas pessoas, a essas viagens, a esses hobbies, a esses sonhos, a esses sorrisos, a esses abraços, a essas leituras, a essa natureza que brota em cada nascer do Sol. O mundo do trabalho estará lá à sua espera à mesma, não se vai embora. E a sua vida fará mais sentido. Afinal de contas, aquilo que todos procuramos e que o passar frenético do tempo impede de ser sentido. E encontrado.

Luis Gonçalves

Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta

Psinove- Inovamos a Psicologia

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