Casada, sem filhos, Helga Vera-Cruz conta com o apoio incondicional do marido, engenheiro informático, e da mãe.
A Émoi nasceu há quanto tempo?
Em Maio fez dois anos. Nasceu porque eu sou designer gráfica e estava no desemprego. Licenciei-me para ter uma formação mas o design gráfico para mim nunca foi uma solução, nem nunca imaginei que ia fazer disso a minha profissão para o resto da vida.
Como surge então a ideia de criar malas?
Enquanto estudava trabalhava em lojas e comecei a apreciar aquele mundo. Passei a reparar nos tecidos, a ver as cores com mais atenção e a ficar mais desperta para os pormenores.
Tomou a tomar consciência que havia coisas bem acabadas e mal acabadas?
É verdade. Tomei consciência do mundo das mulheres. Não quer dizer que fosse maria-rapaz mas não era propriamente um exemplo de feminilidade.
E apaixona-se pelo mundo que acaba de descobrir?
Completamente. Comecei a perceber que o meu caminho era por aqui. Quando acabei o curso arranjei logo emprego como designer mas não gostava nada daquilo, ainda mais porque me irrita estar o dia inteiro em frente ao computador, e irrita-me sobretudo as condições de trabalho que os designers gráficos têm em Portugal.
Até que fica desempregada.
Por azar ou por sorte, dois ou três anos, depois fiquei no desemprego. Como já tinha trabalhado numa empresa que tinha a vertente das carteiras, e adorava este tipo de tecidos, fiz uma pesquisa por todo o mundo e não vi nada que tivesse a qualidade que eu achava que era capaz e que as fábricas portuguesas eram capazes de produzir.
E começa a desenhar as malas?
Fiz os primeiros desenhos e depois comecei à procura das fábricas que me fecharam todas as portas. Não sei se isso tem a ver com o facto de as fábricas serem muito masculinas, e de terem à frente homens já com uma certa idade, ninguém acreditou no meu projecto. Até que finalmente lá encontrei um senhor que decidiu apostar nisto.
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Em Lisboa?
Sim. Começámos a fazer algumas coisas e éramos uma verdadeira equipa porque eu aparecia lá com os meus desenhos e ele, com a sábia experiência dele, dizia-me o que poderia ou não funcionar. E víamos em conjunto as alterações que íamos fazer. Eu tinha as ideias e ele, como técnico, dizia o que era exequível e o que não era. Agora já sei mas no início aprendi muito com esse senhor.
O logótipo da empresa foi criado por si?
Não. Eu estava assoberbada de trabalho a arrancar com a empresa e pedi a uma amiga para me ajudar e ela fez o logótipo.
O nome da empresa é muito giro.
Foi uma guerra para escolher, porque eu queria um nome pequeno, de preferência em francês, porque as malas são muito românticas e assenta-lhes bem um nome francês. Émoi quer dizer explosão de emoção! Daí as minhas carteiras terem nomes de emoções: amor, desejo, impulso, paixão, requinte, etc.
A loja abriu logo aqui, na Rua Padre António Vieira, junto à Rua Castilho?
Não, abri em Santos mas achei aquela zona muito parada e resolvi mudar-me para aqui. E estou bastante contente. Abro às 11h30 e fecho às 19h30.
Faz as malas onde?
Na loja. Tenho o meu portátil e, quando não estou a atender clientes, aproveito para trabalhar. Quer seja a criar novos modelos quer seja a fazer contactos ou a responder às pessoas que me fazem encomendas online.
Para onde manda as suas malas?
Para todo o sítio. O mais longe foi Macau. Demorou duas semanas a chegar, mas chegou e a senhora adorou a carteira. Desde que me viram no Portugal no Coração, na RTP, fui surpreendida com encomendas de inúmeros portugueses que moram foram de Portugal. De facto, os emigrantes dão imenso valor ao que é nosso. Muitos mandaram-me emails a dizer: “Parabéns Helga. Adorei.”
As suas malas são peças únicas?
Gostava de ter só peças exclusivas mas a produção é muito complicada. Faço apenas duas carteiras iguais!
Quanto custam as suas carteiras?
A mais barata custa 47 euros e a mais cara 195 euros. E posso garantir que as malas têm muita qualidade. A minha prioridade é a qualidade talvez porque a minha principal característica seja o perfeccionismo. Por isso as carteiras têm o preço justo: são carteiras únicas, muito bem acabadas e totalmente feitas em Portugal com materiais portugueses, confecionadas pelos melhores artesãos do mundo. Não se pode querer milagres!
O que está a ser mais divertido no seu negócio?
Acho muita piada a esta minha atividade que também é brincar um bocadinho. Começa pela escolha dos tecidos nos ateliers de decoração. Como não faço sacos, os tecidos são de ótima qualidade, bem consistentes, para se conseguir montar uma carteira bem estruturada e com excelentes acabamentos. Os tecidos usados provêm exclusivamente da decoração de interiores.
Para além da qualidade, também joga com a cor?
A cor é fundamental. Gosto muito de cor e sinto que as pessoas andam muito cinzentas. Com as roupas já aderiram um pouco, graças à explosão de cores da Zara e da H&M, bem como os blogues de moda que têm roupas muito coloridas, mas, em relação às carteiras, são muito conservadoras.
Acha que as mulheres devem arriscar mais?
E brincar com a roupa. Porque não? Devem brincar com a roupa com as malas e com os sapatos. E com bandeletes e com brincos. A vida sem cor não tem graça. Não temos que andar vestidas de palhaças, temos é de saber conjugar as cores. Costumo dizer às pessoas: divirtam-se!
Faz duas coleções por ano?
Não, vou lançando modelos consoante preciso e posso. A Émoi é um projeto pequenino e por enquanto ainda não tenho orçamento para apresentar grandes coleções. Alguns modelos surgem na sequência dos pedidos das minhas clientes.
Qual é o seu site?
www.emoi.pt. A encomenda é sempre feita através do email.
Qual é a mensagem que quer passar?
Não se levem tão a sério!
Texto: Palmira Correia
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