Bobby Brown sempre adorou maquilhagem. Tocar-lhe, olhá-la, aplicá-la e, especialmente, fazê-la. Há mais de 20 anos, mudou a vida das americanas ao criar uma marca de cosméticos que procura a beleza natural de todas as mulheres. A Saber Viver falou com Bobbi Brown sobre a sua história, as suas inspirações e a sua filosofia. E a história repete-se! Tal como outras mulheres muito bem sucedidas em diferentes áreas, tudo começou por paixão. No prefácio do livro «Beauty«, James Brown, pai da maquilhadora, escreve que, quando tinha cinco anos, a sua filha descobriu a gaveta onde a mãe guardava a maquilhagem.
Pintou o rosto e não só, também as paredes, loiças e tudo em seu redor. Os blushes e batons que usou ficaram arruinados, tal como aquela tarde, passada de castigo no quarto. Mas foi provavelmente aquele momento que Bobbi Brown, então uma criança curiosa, descobriu que a maquilhagem era divertida. E esse bichinho, como hoje se sabe, nunca mais a largou. Atualmente, é dona de um império e a sua marca não tem parado de crescer. Em criança, continuou a brincar com maquilhagem.
E foi assim que decidiu estudar caracterização na Emerson College, em Boston, sua terra natal. Pouco tempo depois, plena de motivação para se lançar numa carreira como maquilhadora, mudou-se para Nova Iorque, a cidade onde tudo acontec,e especialmente se aquilo que procuramos é uma carreira artística. Estávamos no final dos anos da década de 1980 e Nova Iorque fervilhava com oportunidades, só que Bobbi Brown sentia-se frustrada. Não com a cidade mas com a escassez de produtos de maquilhagem que favorecessem a beleza das mulheres. Para si, nada era suficientemente natural, tudo se parecia com... maquilhagem!
«Era impossível encontrar à venda maquilhagem que ficasse bem na pele e quase sempre me via obrigada a arranjar os produtos que comprava, misturando cores até encontrar algo que fosse natural», revela. Foi assim que percebeu duas coisas. A primeira foi que existia uma grande lacuna no mercado e isso era algo que acreditava poder colmatar. Afinal de contas, brincava com maquilhagem desde criança. «Tinha uma visão clara que passava por criar uma linha de cosmética simples, de aspeto natural e compatível com o tom de pele das mulheres», diz.
A primeira linha de Bobbi Brown
Quis o acaso que conhecesse um químico numa sessão fotográfica. Foi paixão, sim, mas também houve aquela pontinha de sorte. Foi o empurrão que faltava para criar aquilo que viria a ser a primeira linha da sua marca de cosméticos. Em 1991, lança finalmente uma gama de dez batons e logo no armazém de luxo nova-iorquino Bergdorf Goodman. Todos numerados de 1 a 10, em tons que variavam do nude ao acastanhado, todos naturais, capazes de fazer os lábios parecerem isso mesmo. «Lábios, mas melhores», sublinha. Era uma linha fácil de usar e com uma qualidade fora de série. A sua missão consubstanciava- se num propósito aparentemente simples.
Oferecer às mulheres americanas aquilo de que precisavam era a sua ambição maior. Os números das vendas provaram-lhe que estava certa e os comentários das utilizadoras que lhe chegaram também. Elas agradeceram, apaixonando-se pela sua maquilhagem e espalhando a notícia pelas amigas. Esperava vender 100 no primeiro mês mas atravessou essa meta logo no primeiro dia. O sucesso estava mais do que garantido e ainda estávamos apenas no princípio.
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Um feito surpreendente
Batons em tons nude? Pode estar a pensar que não há coisa mais comum, que é um básico de qualquer nécessaire, mas a verdade é que até ao início dos anos da década de 1990, antes do nascimento da Bobbi Brown Cosmetics, o cenário era muito diferente. A maquilhagem era colorida e ousada, marcava o rosto, esculpindo-o com ângulos artificiais. Naquela altura, maquilhagem sem maquilhagem, tão celebrada hoje em dia, só se obtinha assim mesmo, de rosto lavado. Graças a esta visão libertadora, Bobbi Brown conseguiu expandir a sua marca muito para além dos dez batons.
Num ápice, criou um império com uma gama completa de maquilhagem, tratamentos de rosto, fragrâncias, pincéis e acessórios presentes um pouco por todo o mundo. Muitos deles tornaram-se absolutamente revolucionários na vida de quem os usava. Finalmente, tornou-se possível utilizar maquilhagem não apenas como uma forma de expressão quase contrária à naturalidade do rosto, mas simplesmente para enaltecer os pontos fortes da beleza de uma mulher, torná-la ainda mais bonita, atraindo as atenções para a mulher e não para a maquilhagem que esta está a usar.
A ajuda necessária
Foi também Bobbi Brown quem criou a primeira base de subtom amarelo em vez do habitual rosa que deixava as mulheres a parecerem-se com bonecas de porcelana. O objetivo, mais uma vez, era claro. Ajudar as mulheres! «Mais do que produtos, dedicamo-nos a ensinar as mulheres como o conhecimento, a maquilhagem e as ferramentas certas, podem ajudá-las a sentirem-se melhor», afirmou já publicamente. 23 anos depois, mantém-se fiel a esta filosofia, e a inspiração para continuar a inovar pode vir de qualquer lado.
Pode vir das viagens que faz, dos tecidos coloridos, das mulheres com quem se cruza na rua... Mas vem também da necessidade. A propósito disso, conta-nos como, na Semana da Moda de Nova Iorque, um estilista lhe pediu para dar às modelos «um brilho que viesse do interior». A solução encontrada? «Peguei numa sombra de olhos brilhante e espalhei pelas maçãs do rosto das modelos», revela. Foi assim que nasceu a ideia para o iluminador Shimmer Brick, um dos best-sellers da marca que vende mundialmente uma unidade por minuto.
Bobbi Brown acredita que as mulheres são naturalmente bonitas, mas a maquilhagem tem o poder de as emancipar ao oferecer-lhes uma dose extra de confiança. «A maquilhagem ajuda as mulheres a sentirem-se melhor consigo próprias, mais bonitas, mais confiantes», acredita a empresária. «A verdadeira beleza de uma mulher é um reflexo da forma como se vê e se sente. Para mim, beleza tem tudo a ver com autoconfiança», considera ainda a empreendedora norte-americana.
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O negócio da maquilhagem sem tendência
As suas coleções não seguem tendências de moda porque não acredita nelas. O que funciona para uma pessoa pode não funcionar com outra e Bobbi Brown só quer que as mulheres se sintam bonitas. Para algumas, talvez sejam cores subtis e um look natural, para outras talvez seja algo mais vibrante. «Quando encontro uma tendência que me agrada, tento incorporá-la numa nova coleção ao mesmo tempo que a mantenho prática e usável no dia a dia», refere. Apesar disso, a equipa de Bobbi Brown não falta a uma Fashion Week, onde tem a oportunidade de experimentar visuais com uma vertente mais artística e ousada.
Admite que, ainda que esses looks inespera dos sejam divertidos de pensar e executar, continua a manter-se fiel às premissas que guiam a marca desde o seu nascimento. «A pele deve parecer-se com pele e o resultado final tem sempre de ser um rosto bonito», sublinha. Arriscamos, por isso, dizer que Bobbi Brown é a mãe do no makeup look ou maquilhagem natural. «Maquilhagem natural não significa rosto lavado. É, sim, escolher os melhores tons e texturas para si, aqueles que enaltecem os pontos fortes de um rosto», diz.
Natal ao natural
No Natal de 2013, Bobbi Brown apresentou-nos Scotch On the Rocks, uma coleção que fez as delícias de amantes de maquilhagem, mas igualmente perfeita para quem apenas agora se inicia nestas artes. «Quando pensei nesta coleção, imaginei-me sentada à lareira, num grande sofá em couro, enquanto apreciava um whisky com gelo», revela. Bebeu inspiração nos papéis desempenhados por Lauren Bacall nos filmes «Como se conquista um milionário» de 1953 (onde contracena com Marilyn Monroe) e «À beira do abismo» de 1946 com Humphrey Bogart. Lauren Bacall estava sempre impecavelmente maquilhada mas nunca de forma exagerada.
Haverá melhor descrição para a mulher Bobbi Brown? Esse é, sem qualquer dúvida, o porta-estandarte da marca, nesta campanha personificado pela modelo Kate Upton. Como é habitual, garante-nos Bobbi Brown, todas as mulheres, sejam elas maquilhadoras profissionais ou principiantes, conseguem aproveitar a colecção e usá-la em seu favor. «A paleta de olhos Warm Glow está repleta de tons quentes, de que são exemplos o caramelo, o âmbar e tons que podem ser misturados para atingir efeitos suaves ou mais ousados», diz.
Sim, é uma coleção tão digna de festas de passagem de ano como de almoços de Natal. «Basta destacar um ponto no rosto que, dependendo da ocasião e do estilo pessoal, pode traduzir-se nuns lábios vermelhos ou nuns olhos cintilantes. Mas, se pensarmos bem, percebemos que a confiança é o ingrediente mais importante para nos sentirmos bonitas», afirma. É maquilhagem para ocasiões especiais. E haverá algo mais especial do que sentirmo-nos bem?
Texto: Maria João Marques
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