Para Eufrásia Pé Curto, de 53 anos, a vida teve de ser repensada há três anos quando, depois de uma cirurgia ao hallux-valgus esquerdo, vulgarmente conhecido por joanete, lhe foi diagnosticada dor periférica neuropática.
Eufrásia Pé Curto, que foi submetida a uma nova intervenção cirúrgica, para corrigir três dedos do pé esquerdo, já tinha ouvido falar em dor crónica mas não sabia exactamente o que era aquilo que a afectava.
«Só percebi realmente do que se tratava quando tive contacto com a doença», relembra. «A dor constante com manifestações anormais que descrevo como se se tratassem de um choque eléctrico, dormência, queimadura e a sensação de pisar vidros localizada no local da incisão cirúrgica no pé esquerdo», conta Eufrásia Pé Curto, foram os primeiros sintomas que a levaram a perceber que algo não estava bem. Depois do diagnóstico feito, admite o desconforto.
«Fiquei ansiosa porque me foi logo explicado que era uma dor crónica que ia acompanhar-me ao longo da minha vida. Percebi que esta dor crónica «E mocionalmente, é difícil porque, à partida, sei que vou sempre depender de medicações e viver com dor» Eufrásia Pé Curto persistente no tempo está relacionada com o sistema nervoso periférico (nervos periféricos)», revela.
As mudanças imediatas no dia-a-dia
O medo que não esconde ter sentido tinha razão de ser. Afinal, uma série de alterações imediatas verificaram-se na vida desta operadora de caixa numa pastelaria, que actualmente está de baixa médica porque ainda não apresenta as condições ideais para voltar ao trabalho.
«Fiquei menos activa, limitada nas tarefas domésticas, interrompi a minha actividade profissional, fiquei uma pessoa triste. Comecei a passar a maior parte do dia deitada, por incapacidade funcional dada a persistência da dor. A dor estava presente o dia inteiro. Entrei em depressão», partilha sem esconder alguma tristeza.
Aliás, neste momento, ainda não consegue fazer o apoio plantar completo, o que lhe causa um enorme desconforto tanto quando está a caminhar ou mesmo parada.
A dúvida dos outros magoa
Tratando-se de uma dor
crónica e invisível aos olhos dos outros, Eufrásia Pé Curto reconhece
que nem sempre encontrou o apoio e a compreensão necessárias.
«As
pessoas não entendem esta dor porque não se vê. Aos olhos dos outros parece que está tudo bem porque o pénão está partido, não está inchado,
não está vermelho, logo não acreditam que possa doer tanto! As
pessoas duvidam de nós, da nossa dor, até chegam a comentar que é
psicológica mas na realidade é bem física», conta.
O desabafo é feito com uma
certa mágoa. No entanto, Eufrásia Pé Curto sabe que não pode baixar os
braços e que a única maneira de contornar este obstáculo é enfrentar a
doença e encará-la com a maior naturalidade possível, mesmo que sinta
grandes limitações na sua vida quotidiana.
«Emocionalmente, é
difícil porque, à partida, sei que vou viver sempre com dor e depender
sempre de medicação, que apesar de não curar, trata. Não tem cura mas
tem tratamento no sentido de controlar e minimizar a dor, tornando-a
tolerável para que seja possível retomar as actividades diárias»,
afirma.
A importância de traçar objectivos
Eufrásia
Pé Curto reconhece o abalo que a doença provocou no seu dia-a-dia mas
não pretende que ela a impeça de continuar a trabalhar e recuperar o
seu quotidiano sem limitações.
«Perante a minha realidade
aprendi que mesmo com dor a vida continua, que tenho de ter força para
encarar esta situação, para ultrapassar os períodos mais complicados da
dor persistente e desfrutar os momentos em que me sinto melhor», conclui
consciente de que a recuperação também depende da forma positiva como
enfrenta esta fase menos boa.
Os conselhos de Eufrásia Pé Curto
As recomendações de quem sofre diariamente na pele as consequências desta doença:
Informe-se
«Em primeiro lugar, é preciso saber que há vários tipos de dor periférica neuropática. Se algum dos leitores se identificar com o meu caso, precisa de saber que há novos medicamentos com novas soluções para o tratamento», afirma.
A dor não é psicológica
«Não tenha problemas em dizer que sente dor porque ela existe, é real, é física e não psicológica como muitas vezes nos querem fazer acreditar. E eu sou o testemunho disso», assume.
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