De facto, os trabalhadores portugueses apresentam elevados índices de stress laboral. Enfermeiros, polícias, médicos, professores e psicólogos são algumas das profissões que apresentam índices de stress laboral mais elevados em Portugal – são as conclusões de um artigo publicado pela revista “Fatores de Risco” da Sociedade Portuguesa de Cardiologia.

Os seus autores baseiam a sua opinião em vários estudos realizados sobre o impacto do stress laboral. O Observatório da Direção-Geral de Saúde, a Ordem dos Médicos e a Universidade Católica são algumas das entidades que se têm dedicado ao estudo deste tema.

Em particular, o estudo realizado em 2014 pela Universidade Católica revelou que três em cada 10 médicos e enfermeiros sofrem de exaustão. Em Portugal, de resto, os resultados das investigações são em tudo semelhantes ao encontrados a nível internacional. Já em 2014, o relatório Riscos psicossociais na Europa, prevalência e estratégias de prevenção, mostrava que mais de 20% dos trabalhadores membros dos 25 Estados-Membros da União Europeia referiram que a sua saúde estava em risco devido ao stress laboral.

Também um outro estudo europeu com 2 235 enfermeiros de unidades hospitalares (RN4CAST) permitiu concluir que 2/3 apresentavam sintomas de esgotamento. Recentemente, um estudo realizado pela Ordem dos Médicos Portugueses apontava no mesmo sentido: cerca de metade dos enfermeiros e médicos (47,8%) mostravam elevados níveis de stress laboral, identificando as más condições de trabalho como a principal causa para o aumento do stress imposto pelo exercício da sua profissão.

Perante esta realidade, importa colocar as seguintes questões: 1 será que sofro de stress laboral? 2 quais as consequências do stress laboral para a minha saúde? 3 o que posso fazer para minimizar os seus efeitos?

Será que sofro de stress laboral? Os três principais sinais

Cada vez mais o mercado de trabalho exige que se passe um elevado número de horas no emprego. Poderá ser o seu caso. A sua entidade empregadora poderá estar a exigir muito de si, pelo que poderá estar sob pressão durante longos períodos de tempo. Muitas vezes, sem se dar conta dos sinais, vai sofrendo na sua saúde física e mental em consequência deste estado permanente de tensão: é o denominado stress laboral ou síndrome de burnout. Torna-se, portanto, essencial que aprenda estratégias para lidar com essa realidade diária de modo a evitar problemas físicos e emocionais futuros, que podem afetar os diversos contextos da sua vida.

De acordo com alguns dos estudos realizados na área, o síndrome de burnout é caracterizado pela resposta do organismo a tensões e a situações complexas relacionadas ao trabalho realizado no emprego. Essas tensões poderão afetá-lo manifestando-se inicialmente através de três principais sinais. São eles:

1. Cansaço extremo;

2. Sentimentos de desapego quanto ao trabalho (desmotivação);

3. Sentimento de ineficiência ou falta de realização pessoal.

Se apresentar estes sintomas, poderá sofrer de stress laboral.

As consequências do stress laboral

Estes sinais, se ignorados e perpetuados no tempo, poderão trazer outro tipo de sintomas e complicações de saúde para o trabalhador. Por exemplo, a nível físico poderão manifestar-se através de cefaleias, tonturas, dispneia ou distúrbios do sono; já a nível psicológico poderão associar-se a transtornos psicossociais motivados pelo stress, tais como instabilidade emocional, irritabilidade, ansiedade, dificuldades nos relacionamentos sociais. No conjunto de todos os fatores associados, poderá levar a um quadro mais grave, nomeadamente, ao suicídio.

Ao nível do desempenho laboral, as consequências do síndrome de burnout podem verificar-se quer ao nível individual, quer da própria organização. A título individual, como referido anteriormente, observa-se o agravamento de diversas doenças do foro físico e psicológico, bem como há uma deterioração das relações e dinâmicas familiares. Já as consequências ao nível das organizações manifestam-se em resultado dos efeitos negativos do trabalho dos seus trabalhadores. Podem apresentar fadiga extrema, sentimentos de ineficácia e desvalorização face ao trabalho. Tais fatores contribuem para um aumento de conflitos entre os trabalhadores e contágio do stress laboral para a equipa de trabalho, com consequente deterioração do ambiente de trabalho e falta de eficácia na resolução dos problemas da empresa.

Como prevenir o stress laboral? É necessário intervir

À vista dos diversos estudos sobre o stress laboral, é unânime a opinião dos especialistas que é necessário as entidades empregadoras intervirem ao nível ocupacional, de modo a reduzir a sua incidência. As entidades empregadoras deverão criar programas específicos que visem proporcionar um bom ambiente de trabalho e fortalecer os laços laborais.

A intervenção passa também por um plano especifico para cada trabalhador. O que pode fazer por si? Não deverá aceitar mais tarefas e responsabilidades do que as que consiga suportar; adote uma postura mais positiva em relação aos seus colegas e superiores; procure relaxar um pouco todos os dias.

Caso pense que a execução desta estratégia individual não é suficiente, poderá recorrer à ajuda de um psicólogo. Ele poderá ajudá-lo a encontrar as soluções mais adequadas para si, sempre com o intuito de melhorar o seu bem-estar psicológico e emocional.

Margarida Rogeiro / Psicóloga e Psicoterapeuta

© PsicoAjuda – Psicoterapia certa para si, Leiria