A psoríase é uma doença cutânea crónica, incurável, que evolui ao longo da vida por períodos de melhoria e agravamento.Tem como base patogénica uma reacção auto-imune, cuja causa desencadeante não se conhece. Calcula-se que existam cerca de 150 a 200.000 doentes com psoríase em Portugal.
A psoríase existe há séculos. Prova disso são os sinais típicos da doença encontrados em corpos mumificados do início da Era Cristã. Sabe-se que foi confundida com lepra durante centenas de anos, o que originou o isolamento de muitas pessoas na Idade Média. No início do século XIX, Robert Willan, um médico inglês, foi o primeiro a descrever clinicamente a psoríase. Os investigadores no século XX pensavam ter descoberto o que causava a doença.
Nos anos noventa, provou-se que a psoríase é multifactorial, estando ligada a factores genéticos, imunitários e ambientais. É por isso necessário um maior entendimento sobre a realidade desta doença, que afecta de maneira muito significativa a vida destes doentes. Intertítulo: O que é “A psoríase é uma doença crónica da pele, não contagiosa, caracterizada mais frequentemente pelo aparecimento de pequenas placas rosadas e descamativas dispersas pelo corpo todo – desde o couro cabeludo, pele, unhas e partes genitais.
Na verdade, a psoríase é uma doença na qual o sistema imunitário da pele funciona de uma forma desequilibrada”, explica a Dra. Alexandra Feijó, dermatologista. Esta doença de pele com uma forte componente genética (existe sempre uma história de um familiar directo ou distante que teve lesões de psoríase), pode surgir em qualquer idade e afecta 1 a 3% da população.
No entanto, segundo a especialista “existem dois períodos de aparecimento mais intensos; durante a infância/início da fase adulta (psoríase de aparecimento precoce) e após os 40 anos de idade (psoríase de aparecimento tardio), esses períodos coincidem muitas vezes com alturas mais stressantes da vida”.
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Saber identificar
O seu aspecto, extensão, evolução e gravidade são muito variáveis, caracterizando-se, geralmente, pelo aparecimento de lesões vermelhas, espessas e descamativas, que afectam preferencialmente os cotovelos, joelhos, região lombar e couro cabeludo. Nos casos mais graves, estas lesões podem cobrir extensas áreas do corpo.
As unhas são também frequentemente afectadas, com alterações que podem variar entre o quase imperceptível e a sua destruição. A dermatologista explica ainda que, “o único sintoma da psoríase, para além das lesões na pele, é a comichão que aparece em 60 a 80% dos casos e é mais intensa quanto mais grossas forem as placas”.
Diferentes tipos de psoríase
Existem várias formas de psoríase, que são normalmente distinguidas com base na localização e no aspecto das lesões e classificada em subgrupos: em placas ou vulgar, gutata, numular, pustulosa, eritrodérmica e artrite psoríatica. Segundo a Dra. Alexandra Feijó, “a presença e distribuição das placas psoriásicas é muito variável; algumas pessoas têm apenas uma única placa psoriásica numa parte específica do corpo, ao contrário de outras que sofrem de psoríase de uma maneira generalizada em todo o seu corpo”.
- Psoríase em placas ou psoríase vulgar - Representa a grande maioria dos casos. As lesões têm relevo, são vermelhas e estão cobertas por escamas prateadas. Surgem sobretudo nos cotovelos, joelhos, região lombar e couro cabeludo, embora passam afectar qualquer área do corpo, cobrindo, nos casos mais graves, extensas áreas do tronco e membros. Estas lesões são muitas vezes assintomáticas.
- Psoríase gutata - É menos frequente que a anterior e afecta sobretudo crianças e jovens, por vezes na sequência de uma faringite. Aparece geralmente de forma súbita, com lesões de menores dimensões (forma de gota) que ocupam áreas extensas do tronco e membros. Pode desaparecer definitivamente após o primeiro episódio ou evoluir para uma psoríase vulgar.
- Psoríase numular - Ao contrário das manchas em forma de gota da psoríase gutata, a psoríase numular caracteriza-se por placas redondas que têm apenas alguns centímetros de diâmetro. O seu tamanho é mais ou menos o de uma moeda.
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- Psoríase Pustulosa - Algumas formas de psoríase caracterizam-se pelo aparecimento de pústulas (pequenas “bolhas” cheias de pus). A mais frequente é a pustulose palmo-plantar, na qual estas lesões surgem sobre um fundo avermelhado nas palmas das mãos e plantas dos pés, por vezes com descamação abundante e fissuras dolorosas.
Esta forma particular de psoríase é de difícil tratamento, podendo ter uma evolução crónica com surtos de agravamento. Existe uma forma generalizada de psoríase pustulosa (von Zumbusch), felizmente rara, dada a sua gravidade, que pode surgir subitamente ou evoluir a partir do agravamento de uma psoríase em placas.
Ao contrário das restantes formas de psoríase, é acompanhada de sintomas gerais (febre, mau estar, etc.) e tem um risco elevado de desenvolvimento de complicações, algumas das quais potencialmente fatais.
- Psoríase eritrodérmica - Uma forma generalizada de psoríase, na qual a pele de toda a superfície corporal adquire um aspecto vermelho e inflamado. Este tipo de psoríase é muito grave devido ao risco associado de desenvolvimento de complicações.
- Artrite psoriática - Vários anos após o aparecimento da psoríase, o doente pode ser afectado pela artrite psoriásica. Esta é uma artrite inflamatória crónica com vários graus de manifestações articulares. É tratada separadamente das lesões cutâneas e o curso da doença é imprevisível. A artrite psoriásica pertence ao grupo das espondilartropatias.
Pode ser distinguida de outros tipos de artrite inflamatória essencialmente através da condição cutânea concomitante. O aspecto da artrite psoriásica é de períodos marcados esporádicos de remissão de tempo variado. Envolve as articulações periféricas (ancas, ombros, mãos e pés) em 70% dos casos e, por vezes, a coluna vertebral (conhecida como a forma axial da artrite psoriásica).
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A artrite psoriásica pode igualmente as regiões onde os tendões estão ligados ao osso, o que poderá explicar a dor nos calcanhares, etc. A condição surge com maior frequência entre os 30 e os 50 anos de idade, afectando tanto mulheres como homens. No entanto, os homens registam uma maior frequência da forma axial da condição, ao passo que as mulheres tendem a sofrer mais das formas periféricas.
Tratamentos
Do ponto de vista médico, a Psoríase é uma doença crónica, cujo tratamento lança desafios constantes, visto não haver terapêutica uniforme e ser necessário em cada consulta perceber qual o tratamento mais adequado para o doente, no momento.
Segundo a Dra. Alexandra Feijó, “presentemente, não existe uma cura permanente para a psoríase e as erupções são frequentemente recorrentes. No entanto, a maioria dos tratamentos está associada a uma melhoria significativa na qualidade de vida”.
A psoríase trata-se com produtos farmacológicos à base de vitamina D e emolientes quando é localizada. “Quando se tem muitas lesões ou psoríase muito extensa que coloque em risco de vida da/o paciente, o doente tem que ser internado e medicado sistemicamente com acitretina, metrotexato ou com fototerapia específica (Puva ou fototerapia com UVB de banda curta)”, refere a especialista.
Zonas específicas como genitais e áreas axilares podem ser curadas com produtos indicados á base de Vitamina D. Um doente bem instruído sabe que tem que apanhar o máximo de sol possível durante o ano, pois assim a própria pele produz naturalmente vitamina D e evita as recorrências no inverno tanto em gravidade como número.
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Psoríase e a estética
É muito importante a esteticista conhecer um pouco sobre esta doença que afecta tantas pessoas em Portugal. Com esse conhecimento poderá saber aconselhar melhor a cliente e não ter medo de trabalhar com uma pele com psoríase. Quanto aos tratamentos cosméticos e estéticos, a especialista diz que é importante o profissional de estética não ter medo de actuar perante um cliente com esta doença.
“ O profissional poderá proceder a cuidados de rosto e corpo, onde poderá aplicar emolientes fortes com alta capacidade de penetração, pois isto permite que as placas fiquem mais hidratadas, aumentando a penetrabilidade dos produtos recomendados pelo dermatologista. Pode ainda fazer outros cuidados hidratantes corporais ou faciais, que permitam libertar as escamas, nomeadamente jactos de oxigénio, envolvimentos com lamas, envolvimentos com qualquer hidratante/emoliente sem perfume”.
No entanto, a esteticista terá que ter em conta que “não poderá aplicar outros cosméticos nessas zonas que não sejam emolientes/hidratantes”, refere a dermatologista. “É importante também realçar que, sempre que a profissional de estética verifique alguma anomalia na pele da cliente, a aconselhe a consultar um dermatologista. Pois só o dermatologista tem a capacidade de diagnosticar correctamente a doença”, aponta a dermatologista.
Impacto da psoríase
Comparativamente aos adultos saudáveis, a qualidade de vida dos doentes psoriásicos é reduzida. O impacto da doença na qualidade de vida dos doentes mede-se não só pelo envolvimento físico, mas também na repercussão que tem a nível familiar, social, profissional, emocional e psicológico. A psoríase pode prejudicar gravemente a qualidade de vida levando a sentimentos que vão desde a perplexidade à revolta.
Trabalho/escola - A interacção no trabalho ou escola tem sido identificada como sendo extremamente afectada pelas doenças de pele, por ex.: a psoríase grave pode impossibilitar os doentes de trabalhar. Actividades diárias - A psoríase pode ser confundida por contagiosa, ou ser interpretada por outras pessoas como uma doença ou condição diferente. Estas ideias pré-concebidas contribuem para a exclusão dos doentes.
Actividade sexual - Os doentes com psoríase, particularmente as mulheres, têm dificuldade em iniciar relações de cariz sexual.
Família - A psoríase pode também alterar a qualidade de vida das famílias. O tempo de tratamento, e o evitar os locais públicos pode interferir com o tempo de lazer familiar. Os custos dos tratamentos, que pesam no orçamento familiar, também podem dificultar a qualidade de vida familar.
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Cuidados diários
Os pacientes “devem tomar banho diariamente com produtos indicados para a psoríase, hidratar com emolientes que tenham alta capacidade de penetração numa placa cheia de queratina. Devem apanhar muito sol durante todo o ano todo de acordo com o horário recomendado: das 9h as 11h30 e das 16h até ao final do dia, de modo a não usar protector solar e não apanhar escaldões”, explica a dermatologista.
Apostar numa vida mais saudável - Um estilo de vida saudável e equilibrado tem um efeito positivo na psoríase. Apesar de não estar comprovado cientificamente, sabe-se que o consumo de alimentos muito ricos e o álcool agrava a psoríase. As toxinas acumulam-se no sangue sendo de seguida eliminadas pela pele.
Quando se consomem demasiados alimentos gordos ou álcool, a pele tem que trabalhar a toda a sua capacidade. Como resultado, torna-se vulnerável a novas crises de psoríase. O fumo é igualmente prejudicial. Por outro lado, os ácidos gordos omega-3 e omega-6, por exemplo, podem evitar a secura da pele, sendo por vezes prescritos quando um doente está a tomar retinóides.
A dieta de um doente com psoríase deve incluir fruta e vegetais em quantidades suficientes para fornecer fibras, vitaminas e minerais. Uma dieta saudável ajuda o sistema imunitário.
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Psoríase e o Verão - O sol é bom para a psoríase, pois os raios ultravioletas (UV) e, em particular, os raios UVB ajudam a pele a cicatrizar e a reduzir a inflamação. Também desaceleram a super-produção de células cutâneas, que originam a descamação. As áreas afectadas pela psoríase cicatrizam por si próprias após a exposição à luz natural do sol.
Uma curta exposição diária ao sol, evitando as queimaduras solares, é suficiente para fazer desaparecer as placas. No entanto, a exposição prolongada e não protegida ao sol pode ser prejudicial. Se o doente vai de férias é preferível optar por um clima seco e quente, como a costa mediterrânica, para controlar as crises, especialmente se a condição for ligeira.
Os climas quentes e húmidos tendem a exacerbar os casos graves. Deve-se igualmente estar consciente que a psoríase não é totalmente melhorada pelo sol, os tratamentos locais são ainda uma opção, mas devem ser administrados longe da exposição ao sol. Muitos tratamentos tópicos filtram os raios UV, ou podem ser degradados pelos raios UV, dando origem a um risco de fototoxicidade (especialmente para os corticosteróides).
Deve usar protectores solares formulados para pele atópica, estes produtos hidratam a pele e protegem-na do sol, o que é essencial na psoríase. Os dermatologistas recomendam geralmente um protector solar com um FPS de pelo menos 25 para o corpo e um protector solar radical para a face, especialmente durante uma crise. A inflamação pode agravar-se com o calor e o sol. É uma boa ideia procurar um protector solar à prova de água.
Agradecimentos: Dra. Alexandra Osório, Clínica DermAge – Clínica de Dermatologia e Rejuvenescimento, Lisboa
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