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Por Jorge Rosa Santos
O Grupo de Estudos do Cancro de Cabeça e Pescoço (GECCP) deu um passo em frente no combate a uma doença que mata 3 portugueses por dia. Ao integrarmos a Sociedade Europeia de Cabeça e Pescoço (EHNS) tornámo-nos membros de uma entidade que nos permite a nível Europeu, combater uma doença curável nas suas fases mais precoces, mas muito mutilante e com alta taxa de mortalidade em fases mais avançadas, e cujos principais factores de risco são o consumo de álcool e tabaco.
85% das vítimas são ou foram fumadores
Não nos podemos esquecer que em Portugal, os carcinomas da cabeça e pescoço são a 4ª patologia com maior incidência em indivíduos do sexo masculino, isto se agruparmos as diferentes localizações (laringe, faringe, cavidade oral e nasofaringe).
O facto de sermos membros desta plataforma comum possibilita a partilha de experiências entre os diversos grupos de referência que estudam esta doença na Europa; discutir as práticas do dia-a-dia entre otorrinolaringologistas, cirurgiões de cabeça e pescoço, estomatologistas, radioterapeutas, oncologistas médicos, imagiologistas, anátomo-patologistas e psicólogos clínicos; uniformizar critérios de sensibilização dirigidos à população e, muito importante, definir guidelines de diagnóstico e tratamento.
Na Europa, - com cerca de 143.000 casos de cancro da cabeça e do pescoço e mais de 68 mil mortes/ano - os sinais de alerta são ainda ignorados. A sua incidência tem vindo a aumentar e a abordagem deve ser, cada vez mais, multidisciplinar, se queremos melhorar a qualidade de vida destes doentes.
O Estudo About Face*, realizado pela EHNS, à qual agora pertencemos, revelou que 75% dos europeus desconhecem a doença, o número de pessoas afectadas, os factores de risco, as zonas do corpo atingidas e, mais importante, os sintomas. Este desconhecimento atrasa o diagnóstico médico, e consequentemente os tratamentos.
É preciso sublinhar que este é o sexto cancro mais comum a nível mundial. Os profissionais de saúde também desempenham um importante papel para assegurar o reconhecimento dos sintomas e o diagnóstico precoces, tornando possível o tratamento.
Uma formação sólida no pescoço, dor ao engolir e rouquidão ou alteração vocal são sintomas desta patologia. A congestão nasal persistente e a perda auditiva são outros dos sinais a que é preciso estar atento. Os inquiridos desconheciam igualmente que a exposição solar e idade superior a 40 anos aumentam o risco de desenvolvimento desta patologia e que o Vírus do Papiloma Humano (HPV) pode constituir um factor fundamental na oncogénese dos tumores de cabeça e pescoço.
Um dos objectivos comuns passa também por promover comportamentos saudáveis. A prevenção de doenças como o Cancro de Cabeça e Pescoço é possível e é realizada através do rastreio à cavidade oral, orofaringe e laringe. Se detectada a tempo, esta doença pode ser curada.
O cancro da cabeça e do pescoço ocorre nas células que cobrem ou revestem os tecidos e órgãos da zona da cabeça e do pescoço, incluindo a boca, a língua, os lábios, a garganta, as glândulas salivares, faringe, laringe e tiróide.
Na terapêutica dos doentes com Cancro da Cabeça e Pescoço metastizados demonstrou-se que a associação de um novo agente biológico à quimioterapia standard aumentava a sobrevivência global.
Em todo o mundo são registados anualmente 400 mil casos de cancro da boca e da faringe. Um diagnóstico precoce e uma boa higiene oral, sem focos de infeções, de inflamações, ou de traumatismos crónicos provocados por próteses ou pelos dentes permitiriam poupar anualmente milhões de euros no tratamento de doenças como o cancro, a diabetes, doenças renais e cardiovasculares.
Permitam-me concluir que as estimativas para 2020 indicam que a incidência do cancro da cabeça e pescoço aumentará 30%, devido ao crescimento e envelhecimento da população mundial.
Por Jorge Rosa Santos
Presidente do Grupo de Estudos do Cancro de Cabeça e Pescoço
*O inquérito ‘About Face’ foi realizado pela Sociedade Europeia do Cancro da Cabeça e Pescoço em sete países europeus – França, Alemanha, Itália, Holanda, Espanha, Suécia e Reino Unido. Foi recebido um total de 7.520 respostas. O inquérito foi efectuado para avaliar a sensibilização para o cancro da cabeça e do pescoço entre o público em geral por toda a Europa, investigando especificamente o conhecimento da doença, os seus sintomas e factores de risco. Os resultados deste estudo foram anunciados na International Conference on Innovative Approaches in Head & Neck Oncology (ICHNO), que decorreu em Barcelona.
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