Portugal tem o único centro mundial que efetua uma técnica de tratamento da hiperplasia benigna da próstata pouco invasiva, quase sem efeitos secundários e que está a suscitar interesse internacional e a atrair doentes e médicos de todo o mundo.

A hiperplasia benigna é a doença mais frequente da próstata, muito comum nos homens a partir da meia-idade e que consiste num aumento do volume daquela glândula, obstruindo as vias urinárias e tornando difícil o ato de urinar.

Segundo João Pisco, chefe da equipa de radiologia de intervenção do Hospital de Saint Louis, as terapêuticas mais frequentes são os medicamentos, nem sempre eficazes e com consequências como a disfunção eréctil, ou a cirurgia, muitas vezes com “complicações muito graves”.

A técnica consiste na embolização das artérias da próstata, ou seja, sob anestesia local, introduz-se através de um orifício na virilha um cateter que é dirigido para as artérias prostáticas, monitorizado por um aparelho de raios x digital, e através desses cateteres são introduzidas pequenas partículas de plástico que vão entupir e cortar parte da circulação da próstata.

“Isso conduz a uma redução das dimensões da próstata, com eliminação ou melhoria dos sintomas na maioria dos doentes”, explicou o radiologista.

João Pisco destaca as vantagens em relação a outros métodos: Não há perda de sangue, não são necessárias transfusões, o doente leva anestesia local, fica em regime de ambulatório, vai para casa no mesmo dia, deixa de tomar os medicamentos e passa a fazer uma vida normal sem qualquer terapêutica.

Além disso, é um método “praticamente sem riscos”. Quando ocorrem não são mais do que uma infeção urinária, sangue na urina ou um pequeno hematoma na barriga ou na coxa.

“Estes doentes vão para o quarto, dentro de duas horas podem ir à casa de banho, quatro a seis horas depois já podem ir para casa”, explicou, acrescentando que o primeiro dia é de repouso completo, o seguinte é já de vida normal e que só não podem conduzir durante dois dias.

Numa cirurgia acompanhada pela Lusa, o doente queixou-se da dificuldade em urinar e do tratamento com medicamentos, alegando que estes “condicionam determinados aspetos” da sua vida. Mostrou-se esperançado nesta técnica, que disse conhecer por “ouvir falar” que é a alternativa à cirurgia.

No final da intervenção, que durou cerca de meia hora, afirmou não ter tido qualquer dor, apenas um ligeiro ardor.

Na ocasião encontravam-se no hospital cinco médicos italianos e um argentino, que se deslocaram a Portugal propositadamente para assistir às intervenções e aprender a técnica.

Um urologista italiano disse à Lusa estar “impressionado” com o método por ser minimamente invasivo e “uma alternativa aos outros tratamentos, cujos resultados não são muito eficazes”.

“Sou chefe do departamento de urologia de um hospital e um dos meus colegas disse-me que havia esta nova técnica em Portugal, por isso viemos ver o procedimento e os resultados e penso que em pouco tempo poderemos começar a aplicá-lo em Itália”, afirmou.

Para o radiologista argentino também presente na ocasião, este método "é revolucionário” tanto na área ginecológica, com a embolização dos miomas uterinos, como na próstata.

“É um luxo para Portugal que venha gente de todo o mundo, médicos para aprender e pacientes para serem tratados cá”, considerou.

Até ao momento, João Pisco já tratou mais de 180 homens com hiperplasia benigna da próstata e entre vários estrangeiros que o procuraram contam-se um responsável do Conselho Económico Europeu, um ministro dos transportes de Angola e um jornalista de Hong Kong que vivia algaliado, revelou.

Para dia 19 de janeiro espera a visita de mais sete médicos estrangeiros – ingleses, dinamarqueses, alemães e italianos – que vêm conhecer a técnica.

O radiologista adiantou que durante este ano, ainda antes do verão, 30 centros americanos vão começar a aplicar a técnica e estudar 180 doentes.

Com publicações em revistas estrangeiras da especialidade, João Pisco afirma que a técnica tem suscitado interesse particularmente nos Estados Unidos e Canadá.

Questionado sobre o pouco conhecimento que existe em Portugal sobre este procedimento, João Pisco reconhece que há um certo ceticismo entre a comunidade médica portuguesa.

A embolização é praticada pela equipa de João Pisco desde março de 2009 com uma taxa de sucesso que ronda os 85 a 90 por cento (%).

O tratamento custa 4.300 euros, mas o hospital já tem convenções com quase todas as companhias de seguros, que pagam entre 70 e 80% do total.

A hiperplasia benigna da próstata afeta cerca de 70% dos homens com mais de 65 anos, 80% entre os 70 e 80 anos, 90% com mais de 80 anos e a quase totalidade com mais de 90 anos.

9 de janeiro de 2012

@Lusa