A apneia do sono caracteriza-se por paragens respiratórias que se repetem várias vezes ao longo da noite e que originam uma diminuição dos níveis de oxigénio no sangue e despertares, explicou a especialista Paula Pinto, que falava à Lusa a propósito do encontro científico internacional "Lufada do Atlântico, que decorre na sexta-feira e no sábado, em Angra do Heroísmo.

“Devido a esses micro-despertares durante a noite, a pessoa vai ter uma sonolência diurna acentuada, que se vai traduzir em alterações da memória, alterações cognitivas, e o mais perigoso de tudo, uma enorme facilidade em adormecer a conduzir ou no local de trabalho”, disse Paula Pinto.

Segundo a coordenadora da Unidade de Sono e Ventilação não Invasiva do Serviço de Pneumologia do Centro Hospitalar Lisboa Norte, “o tratamento eficaz desta doença” é feito através de um ventilador, denominado CPAP, que impede que ocorram as paragens da respiração.

Pessoa passa a respirar bem à noite

Com o aparelho, a pessoa respira normalmente durante a noite, permitindo um sono reparador levando ao desaparecimento da sonolência diurna. “É o mesmo que uma pessoa que não vê e põe uns óculos e passa a ver”, elucidou.

Este tratamento irá também permitir que o doente possa renovar a sua carta de condução, de acordo com a nova legislação publicada a 29 de julho do ano passado. “Antigamente a legislação era castradora, obrigando a retirar a carta aos doentes com o diagnóstico de apneia do sono. Agora a legislação está adequada porque só retira a carta a quem não estiver eficazmente tratado”, disse Paula Pinto.

A médica explicou que “o doente com apneia do sono tem de ser avaliado” por um especialista para renovar a sua carta de condução no limite de um ano para os condutores profissionais e no limite de três anos para os condutores não profissionais.

“Anteriormente a esta legislação, os especialistas em medicina de sono já emitiam pareceres para retirar definitivamente cartas ou para inibição temporária da condução, consoante as situações”, comentou.

A “grande questão” agora “é esclarecer” o que a lei determina com clarificação de conceitos, ou seja fornecer dados objetivos sobre a eficácia do tratamento da apneia do sono para que “os médicos de família possam renovar a carta com total segurança”.

Isso será feito através de um documento que está a ser elaborado em conjunto pela Associação Portuguesa do Sono, a Direção-Geral da Saúde e a Sociedade Portuguesa de Pneumologia, disse Paula Pinto.

Segundo a APS, os períodos após o almoço e de madrugada, são os de maior sonolência para todas as pessoas.

Contudo, “os doentes com apneia do sono, tendo em conta a sua situação patológica podem adormecer para além desses períodos, tornando-se um grave problema de saúde pública”, sublinha.

Segundo dados divulgados pela associação, a sonolência diurna excessiva representa um dos principais fatores de risco para acidentes de viação, sendo responsável por 10 a 30% de todos os acidentes de viação e é a principal causa de acidentes fatais.

Estes doentes são frequentemente obesos, com um ressonar muito intenso, com pausas respiratórias visualizadas durante o sono, hipersonolência durante as atividades diárias e muito frequentemente apresentam também doenças cardíacas associadas.

Quando existe a suspeita desta situação, o doente deve ser encaminhado para uma consulta especializada de sono, para que seja efetuado o diagnóstico e o tratamento adequado.