A embolização musculoesquelética é uma técnica minimamente invasiva, recentemente implementada em Portugal, que proporciona o alívio da dor crónica causada pela inflamação dos tecidos musculoesqueléticos, e é uma alternativa para os doentes que não obtiveram alívio com os tratamentos convencionais, como sejam medicação, fisioterapia ou cirurgia, ou até mesmo infiltrações.
A CUF passou a realizar este procedimento inovador para o tratamento da dor osteoarticular, que permite melhorar a qualidade de vida dos doentes que sofrem de artrose, tendinites e outras patologias musculoesqueléticas muito prevalentes na população, tornando-se na primeira unidade de saúde privada em Portugal a disponibilizar este tratamento. Esta técnica está disponível no Hospital CUF Porto e, em breve, no Hospital CUF Tejo. Falámos sobre este tema com o radiologista de intervenção Pedro Marinho Lopes.
Como é feita a embolização musculoesquelética?
A embolização músculo-esquelética é um procedimento endovascular, realizado por um Médico Radiologista de Intervenção. É um procedimento minimamente invasivo semelhante a um cateterismo que não requer suturas ou cicatrizes. Dependendo da área do corpo que irá ser tratada, inicia-se com punção femoral ou radial - artéria na virilha ou no braço respetivamente. Em seguida, é inserido um cateter fino e flexível através da artéria até à área afetada. Usando imagens de raios-X (angiografia), dirige-se o cateter até aos vasos sanguíneos que alimentam o processo inflamatório. Em seguida, no local onde reside a dor, são injetadas partículas minúsculas, que bloqueiam o fluxo sanguíneo para a área afetada, diminuindo a inflamação e a dor, sem interferir com os tecidos saudáveis.
Quais as vantagens face às técnicas convencionais?
A embolização musculoesquelética é um procedimento endovascular, minimamente invasivo, com elevada taxa de sucesso, que permite um alívio imediato da dor.
O procedimento, realizado em regime de ambulatório, é praticamente indolor, realizado com anestesia local e dura cerca de uma hora.
Os benefícios incluem ainda menor tempo de recuperação, baixo risco de complicações e o potencial de alívio da dor e recuperação da função a longo prazo.
Porque é tão diferenciadora face às restantes técnicas?
Além das vantagens já enumeradas, diria que pelo facto de permitir o controlo direto do foco de dor, com alívio sintomático geralmente imediato e preservação dos tecidos normais. A embolização musculoesquelética tem a particularidade de ser um tratamento super-selectivo (tratamos artérias com calibre inferior a 1mm) que vai tratar especificamente a fonte da dor e interromper o suprimento sanguíneo para os tecidos afetados, preservando os restantes.
Em que doentes está indicada?
A selecção dos casos é feita em ambiente multidisciplinar. Os casos que temos tratado são aqueles que se consideram refratários aos tratamentos convencionais e em que se entende que o tratamento cirúrgico não é, à data, a melhor opção.
Esta técnica foi inicialmente usada na artrose do joelho e no ombro nos casos de capsulite adesiva (ombro congelado). Entretanto tem vindo a ser aplicada também na anca, nomeadamente na coxartrose e no síndrome doloroso do grande trocânter. Nesta região anatómica somos de momento a equipa com maior experiência documentada a nível mundial.
Processos de tendinopatia e fasciites têm também sido tratados eficazmente, nomeadamente epicondilite, entesopatia do tendão de Aquiles e Fasceíte Plantar.
Qual é a taxa de sucesso no alívio da dor?
Nos casos que realizamos e, de um modo perfeitamente alinhado com os resultados dos estudos científicos existentes, temos um alívio sintomático significativo e sustentado em cerca de 85-90% dos casos. O que temos vindo também a perceber, e que no fundo é quase de senso comum na Medicina, é que o sucesso do tratamento reside na seleção adequada dos casos. Por exemplo no caso das artroses, se estas forem já muito avançadas a possibilidade de sucesso é significativamente inferior. Nos doentes com prótese do joelho sabemos também que a taxa de sucesso ronda os 70%. Importa não esquecer que estamos a tratar doentes em que já foram tentadas, sem sucesso, muitos outras abordagens terapêuticas
Como decorre a recuperação do doente?
O procedimento é realizado em regime de ambulatório. O doente tem alta pouco tempo depois de ter sido realizado (normalmente 1 hora se o acesso vascular foi no braço e 4 a 6 horas se o acesso vascular foi na artéria femoral). Aconselha-se apenas que sejam evitados esforços físicos intensos no dia seguinte ao procedimento. Não existem outras limitações. Não há sequer necessidade de um follow-up no pós-procedimento. Os doentes têm no entanto fácil acesso ao nosso contacto caso surja alguma questão.
Estamos a reavaliar os doentes aos 1, 3, 6 e 12 meses sobretudo para documentar a sua evolução e continuar a recolher o máximo de informação possível de modo que possamos publicar os nossos resultados e contribuir para a divulgação científica desta técnica.
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