A coordenadora da Comissão de Tabagismo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia falava à agência Lusa a propósito da entrada em vigor em 01 de janeiro de novas regras para os locais fechados onde ainda é permitido fumar, como restaurantes, bares e discotecas, que passam a ser obrigados a ter uma área igual ou superior a 100 m2 e pé direito mínimo de três metros.
“Ter a persistência de salas em espaços fechados é completamente contra a evidência (prova) de saúde pública e também de qualidade do ar interior e de proteção da saúde dos trabalhadores e dos cidadãos, que são os deveres do Estado, dos governos e dos parlamentares. Para isso é que eles são eleitos”, defendeu.
Sofia Ravara lembrou um inquérito realizado em 2012, que é sobreponível com a opinião de outros inquéritos realizados periodicamente pela Comissão Europeia, segundo o qual 86% dos portugueses defendem a proibição de fumar em espaços públicos sem exceções, sendo que só no universo de fumadores mais de dois terços concordam com esta medida.
"Isto são as políticas que os portugueses querem e que os políticos têm falhado apenas pela interferência da indústria, como aliás a OMS [Organização Mundial da Saúde] e o relatório da ONG europeia [Smoke Free Partnership], que trabalha a implementação das políticas de controle do tabagismo a nível da União Europeia claramente, destaca”, salientou.
Para a pneumologista, as exceções previstas na lei “só vão beneficiar a indústria na persistência do consumo e nos interesses comerciais à custa da saúde dos portugueses e à custa da economia”.
Isto porque os impostos do tabaco, disse, “não pagam a doença, a morte prematura e, inclusivamente, a diminuição da produtividade e os efeitos na economia, aos quais temos que juntar a devastação ambiental enorme que o tabaco provoca”.
A especialista alertou que os efeitos são “sempre maiores” nas populações mais desfavorecidas socialmente, mais vulneráveis, mas também nas crianças, nos adolescentes, nos bebés, nos fetos que têm de ser protegidos, porque os seus pulmões estão em desenvolvimento e perdem capital de saúde pulmonar ao serem expostos ao fumo do tabaco.
Segundo Sofia Ravara, a exposição ao fumo do tabaco provoca as mesmas doenças do consumo ativo, nomeadamente doença cardiovascular, cancro, doença respiratória crónica, infeções, tuberculose, pneumonia, covid e outras doenças transmissíveis, que podem ser prevenidas com a eliminação do fumo passivo nos locais públicos interiores e exteriores.
“Nós estamos ainda a discutir a proibição de fumar nos locais públicos, isso é indiscutível, já não dá para discutir mais. O o que devíamos estar a discutir era expandir para os espaços exteriores”, disse, apontando os terraços, esplanadas da restauração e dos edifícios públicos, eventos desportivos, praias, estádios, parques e infantis e parques nacionais.
Sofia Ravara chamou também a atenção para “todos os tóxicos” que ficam nas beatas, que vão contaminar os rios, os leitos fluviais.
Por outro lado, defendeu que se as pessoas deixarem de fumar em espaços públicos, consegue mudar-se “a norma social e, por isso, é que a indústria se preocupa tanto”.
Ao ser proibido fumar, os jovens, que são os mais influenciados pela norma social, deixam de ver os adultos a fumar, o que diminui logo para metade a hipótese de se tornar um fumador.
Para a pneumologista, a proibição abrangente de fumar e o aumento dos impostos de “uma forma consistente, regular, adaptada à inflação” são as duas políticas “mais consistentes, mais custo efetivas para diminuir o consumo e a morbilidade associada ao tabaco”.
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