"Acho que o Brasil deveria levar isso muito, muito a sério. É muito, muito preocupante", alertou Tedros Adhanom Ghebreyesus sobre a evolução do coronavírus no país sul-americano, cujo presidente, Jair Bolsonaro, se mostra bastante cético em relação à gravidade da pandemia, ao ponto de ter informado, na semana passada que não será vacinado contra a COVID-19.

O diretor-geral da OMS recordou o momento mais crítico no Brasil, quando se registaram 319 mil novos casos por semana. O número, segundo Ghebreyesus, foi um recorde. "A boa notícia é que o número estava em queda até à semana de 02 de novembro, quando 114 mil casos foram registados no Brasil".

Contudo, o especialista frisou que os números voltaram a crescer de forma substancial e, na semana de 26 de novembro, a taxa chegou a 218 mil novos casos por semana.

"Os números mais uma vez dobraram", alertou, em conferência de imprensa, sublinhando que também o aumento de mortes nas últimas semanas foi "significativo".

O Brasil, com cerca de 212 milhões de habitantes, é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo, ao contabilizar o segundo maior número de mortos (mais de 6,3 milhões de casos e 172.833 óbitos), depois dos Estados Unidos.

Face ao aumento de casos, o estado de São Paulo, o mais rico e populoso do Brasil, assim como o foco da pandemia no país, decidiu hoje recuar e aumentar novamente as medidas restritivas para conter o avanço da pandemia na região.

“Com um claro aumento da instabilidade da pandemia, decidimos que 100% do estado de São Paulo retornará à fase amarela” do plano de flexibilização da economia, anunciou hoje o governador João Doria, em conferência de imprensa.

O denominado “Plano São Paulo” dividiu o estado em 22 regiões e sub-regiões, reunindo grupos de municípios sujeitos às mesmas regras. As fases de restrições e flexibilizações do funcionamento de serviços, comércio e atividades são divididas em vermelha (1), a mais restrita, laranja (2), amarela (3), verde (4) e azul (5), a mais branda.

O endurecimento das medidas restritivas foi anunciado no momento em que o Brasil vive uma intensificação da covid-19 e um aumento nos casos, óbitos e internações pela doença, após apresentar uma tendência clara de desaceleração em todo o país por várias semanas consecutivas.

O aumento de casos provocou a lotação dos hospitais em São Paulo e Rio de Janeiro, as duas maiores cidades do país, segundo levantamentos divulgados na semana passada por 'media' locais.

Em São Paulo, que tem 12,1 milhões de habitantes e detém o título de cidade mais populosa do Brasil, a Secretaria Municipal de Saúde alegou que 48% das vagas das camas de cuidados intensivos para tratamento de doentes infetados pelo novo coronavírus estavam ocupadas, mas o portal UOL informou que a lotação dos hospitais públicos chegava a até 78%.

Já no Rio de Janeiro, que tem uma população estimada em 6,7 milhões de pessoas, a ocupação das camas de cuidados intensivos para pacientes com covid-19 atingiu 94% na rede pública e mais de 90% nos hospitais privados.

A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.460.018 mortos resultantes de mais de 62,7 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.