Em declarações à Lusa, à porta do Hospital da Nossa Senhora da Oliveira, o dirigente do Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Norte João Lourenço adiantou que a jornada de luta teve "forte adesão" porque os trabalhadores estão "descontentes e desanimados" nomeadamente com o "desrespeito pela legislação laboral" no que diz respeito aos horários de trabalho.

Segundo os números daquele sindicato, os serviços mais afetados foram os de Imagiologia e Patologia Clínica, "com números de adesão de 100%" e Ambulatório, tendo "uma boa parte" das restantes áreas daquele hospital funcionado em "serviços mínimos" durante a noite e nos primeiros turnos da manhã.

"Neste hospital, o descontentamento tem a ver, em muito, com o desrespeito com horários de trabalho. Há aqui muita gente com horários que não respeitam a legislação. Há trabalhadores que fazem 12, 17, 18 horas em 24 horas por dia, que mudam constantemente os horários", explicou o sindicalista, que encabeçava a concentração de cerca de 20 trabalhadores à porta do hospital vimaranense.

Patricia Costa é uma das trabalhadoras descontentes que participou no protesto e aderiu à greve: "Eu estou aqui há nove anos, faço os recados de três medicinas, faço o trabalho de duas pessoas porque estamos com falta de gente para trabalhar", disse.

A trabalhadora explicou que a falta de pessoal tem consequências para os utentes.

"Às vezes, os doentes esperam por mim 45 minutos porque sou só eu que faço os recados de três serviços. São pessoas debilitadas, ou que estão em jejum e ficam quase uma hora à espera que as vá buscar a um exame", exemplificou.

Quanto aos horários, a vida de Patricia Costa exemplifica o que João Lourenço explicou: "Trabalho 12 horas, no dia a seguir mais seis, no dia seguinte mais seis de manhã, mais 10 há noite, chego ao fim do mês com 50 horas a mais, que vão para o banco de horas", descreveu.

"Não temos vida. Não se tem paciência para a vida de casa. Se calhar fizemos um juramento de celibato com o hospital em que trabalhamos", lamentou.

No entanto, e apesar da satisfação dos sindicatos pela adesão à greve, os utentes parecem não se ter apercebido da jornada de luta dos trabalhadores do Hospital de Guimarães, que conta com mais de 1.000 colaboradores.

"Concentração? Não nos apercebemos de nada. Vim para uma consulta, pareceu-me tudo normal, como sempre", respondeu Ana Sousa, quando questionada sobre os efeitos da greve.

No mesmo sentido, Paulo Silva afirmou também não ter dado conta de "nada estranho" no funcionamento do hospital, assim como outros quatro utentes que a Lusa questionou.

Convocada pela Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais (FNSTFPS), a greve nacional de hoje foi anunciada no início de abril para reivindicar aumentos salariais, pagamento de horas extraordinárias e as 35 horas de trabalho semanais para todos os funcionários do Estado.

O regime das 35 horas foi reposto em julho de 2016, deixando de fora os funcionários com contrato individual de trabalho, sobretudo os que prestam serviço nos hospitais EPE.

A FNSTFPS, afeta à CGTP, é composta pelos sindicatos do norte, centro, sul, regiões autónomas e consulares, e representa 330 mil funcionários.

A última greve geral convocada pela FNSTFPS com vista à reposição das 35 horas semanais realizou-se em janeiro do ano passado, e teve, segundo a estrutura, uma adesão média entre 70% e 80%, incluindo os hospitais.