O “Cancro de Cabeça e Pescoço” caracteriza-se por atingir zonas do corpo responsáveis por funções essenciais, como respirar, engolir e falar. Na espécie humana, é o 7º cancro mais frequente.

  1. Quais os sinais de alerta?

Se notar rouquidão ou dor da cavidade oral e garganta durante mais de 3 semanas, úlceras semelhantes a aftas ou manchas brancas na cavidade oral, dor e emissão de sangue pela boca, deve procurar o seu médico. O aparecimento de uma tumefação (gânglio) no pescoço também é um sinal que indicia necessidade de observação médica com brevidade. A obstrução nasal persistente principalmente se afetar apenas de um dos lados, também pode ser um sintoma de tumor nesta localização.

  1. Quais os principais fatores de risco?

O consumo intenso de tabaco e álcool ao longo da vida, são os factores fundamentais, mas o mau estado dentário é também uma condicionante a ter em conta. Em alguns casos, o tumor está relacionado com prévia infecção por determinadas variantes de Papiloma Vírus Humano (HPV), nestes casos afetando maioritariamente uma população mais jovem. Por outro lado, se é marceneiro ou carpinteiro deve estar particularmente atento aos sintomas nasais.

  1. Este tipo de cancro é curável?

Ninguém pode assegurar 100% de bons resultados. No entanto, em fases iniciais da doença, a percentagem de sucesso pode ser superior a 90%. Além disso, com recurso a técnicas modernas de cirurgia (como por exemplo a cirurgia endoscópica e microcirurgia LASER) e/ou radioterapia, podem-se efetuar tratamentos sem grande compromisso da qualidade de vida.

  1. Como posso fazer um diagnóstico precoce?

O diagnóstico precoce é fundamental e o auto rastreio pode ser o garante da sua deteção em tempo útil: a vigilância ativa, nomeadamente adotando o hábito da auto inspeção periódica e sistemática da cavidade oral, associada a palpação do pescoço, é uma imperiosidade. Em caso de dúvida ou suspeição, o doente deverá recorrer ao médico assistente, que o saberá orientar para o centro de referência mais adequado

  1. Porque é importante fazer um diagnóstico precoce?

Quando a doença apenas é diagnosticada em fases mais avançadas, ou em caso de recidiva, a probabilidade de a tratar com sucesso diminui, e os tratamentos podem ser mais agressivos. Terão também um impacto importante na qualidade de vida, nomeadamente implicando a confeção de uma traqueotomia (orifício no pescoço destinado a assegurar a respiração). Ensaios clínicos têm estudado também o papel da imunoterapia, nomeadamente em situações que escaparam ao controlo com os métodos tradicionais.

  1. Qual a especialidade mais adequada para me avaliar e tratar?

A especialidade de Otorrinolaringologia é a que tradicionalmente enquadra a maioria destas situações. Após cuidadosa observação, que pode incluir uma endoscopia sob anestesia local, é necessário efetuar uma biópsia para caracterizar a lesão, seguindo-se exames de imagem para complementar a avaliação diagnóstica (TAC, Ressonância Magnética ou outros). Sequencialmente, é frequentemente aconselhável que o tratamento seja enquadrado por equipas multidisciplinares experientes, coordenadas e atualizadas (constantemente ocorrem ensaios clínicos visando alternativas terapêuticas), tendo em vista melhorar sobrevivências e reduzir o impacto negativo dos tratamentos.

Em conclusão, o Cancro de cabeça e pescoço é frequente e não atinge apenas pessoas com hábitos alcoólicos e tabágicos. A atenção aos sintomas iniciais e o auto exame regular da cavidade oral e do pescoço contribuem muito para o diagnóstico precoce. Quando diagnosticado em fases iniciais, é possível obter boas sobrevivências com tratamentos menos agressivos.

Um artigo do médico Eduardo Breda, Otorrinolaringologista no Instituto CUF Porto – Unidade de Cancro de Cabeça e Pescoço.