No Serviço de Ação Social do Hospital de São João, no Porto, trabalham 25 assistentes sociais focados na prevenção, no auxílio às famílias e na “sensibilização da comunidade” para garantir que os utentes têm “melhor saúde”.

Em declarações à Lusa, durante uma visita a este serviço, Alexandra Duarte, assistente social neste hospital há 24 anos, garante que o objetivo do serviço passa por fazer um “levantamento dos fatores de risco psicossociais” e “intervir nos problemas sociais prévios antes e após a alta”.

“Mesmo antes da alta, nós prestamos cuidados sociais diferenciados em articulação com as várias instituições (…). Integramos também diversas áreas na prevenção, na continuidade de cuidados, com vista ao desenvolvimento de boas práticas”, realça a assistente social.

Para Alexandra Duarte, os 25 assistentes existentes “são poucos”, tendo em conta as diversas áreas de intervenção: internamento, consulta e urgências.

Alexandra Duarte refere que a prevenção é uma prioridade, nomeadamente a “prevenção de consulta” porque “há muitas situações que entram no consultório que quando têm intervenção do assistente social” podem impedir a necessidade de internamento “por falta de condições das próprias pessoas em conseguir cumprir um plano terapêutico”.

O serviço de urgências “é uma porta aberta e, neste momento, com a questão da pandemia, tem levado a um exacerbar das condições de vulnerabilidade (…) e o poder de comunicação do assistente social em contexto de urgência é conseguir capacitar as famílias, sensibilizar as estruturas da comunidade para responderem”, salienta.

A assistente social, que falava à Lusa durante uma visita ao Serviço de Ação Social, defende uma parceria entre cuidados de saúde e o setor social.

“Nós temos que trabalhar em parceria permanente com as equipas médicas, mas depois temos o outro setor social fora, que não entra numa integração. Falta aqui uma integração de cuidados”, diz.

É neste contexto que entra a problemática do protelamento de alta médica, para “doentes que não têm alternativa para além da institucionalização”.

“E aí depende sempre de organismos externos”, vinca a assistente social.

Alexandra Duarte lamenta, contudo, que sejam muitas vezes as “figuras da comunidade”, como é o caso da linha 144 [Serviço telefónico público e gratuito integrado no Instituto de Segurança Social] que “depois não dá resposta para a institucionalização”.

“Os tempos das outras entidades são muito mais longos, não nos dão resposta no tempo que seria útil”, lamenta Alexandra Duarte.

Alexandra Duarte realça, contudo, o papel do assistente social neste processo ao fazer “a mediação entre a família e as próprias equipas médicas”, sendo assim um elo de ligação entre todos.

O processo de alta “começa sempre com a mediação, com a família na escuta ativa, no envolvimento, nas reuniões que se fazem”, reuniões essas que não pararam nem nos períodos de confinamento porque o planeamento das altas não é unilateral.

Aludindo à equação conjunta de cuidados no último "outono/inverno", já em pandemia, a profissional lança uma questão: se foi possível na pandemia, resolver as situações protelamento de altas (…), se houve protocolos entre os vários ministérios e as várias instituições, misericórdias IPSS (…) porque é que não há continuidade? É preciso vir mais outra vaga?”.

Questionada sobre a necessidade de mudar mentalidades, Alexandra Duarte não tem dúvidas de que “falta mudar a do próprio país, dos próprios governantes”, olhar com “verdadeiros olhos” para um problema que é de “toda a sociedade civil”.

O envelhecimento da população é um dos principais problemas detetados por Alexandra Duarte: uma “pandemia que temos de conhecer e de que temos de falar”.

A profissional do serviço de ação social mostra-se preocupada com o facto de muitos idosos não terem capacidade financeira “para suportar encargos com uma estrutura privada de apoio domiciliário e “o que existe das estruturas públicas não é suficiente para conseguir acompanhar um doente dependente no domicílio”.

“A única alternativa é a institucionalização porque não há um reequacionar e um reinventar de respostas”, afirma.