Numa apresentação dos primeiros três meses de funcionamento do programa de consumo vigiado do município, durante a reunião da câmara do Porto, o presidente da Administração Regional de Saúde do Norte (ARS-Norte), Carlos Nunes, adiantou que pela sala já passaram 616 utilizadores, a sua maioria do género masculino (82%) e de nacionalidade portuguesa (97%).
Com capacidade máxima para 15 utentes em simultâneo, a sala de consumo assistido do Porto, localizada no local conhecido como ‘Viela dos Mortos’, funciona das 10:00 às 20:00, sete dias por semana.
Naquele espaço, que entrou em funcionamento a 24 de agosto de 2022, foram registados, até 30 de novembro, 8.112 consumos, o correspondente, em média, a 82 consumos por dia.
Do total de utilizadores, 178 usaram a sala para consumo injetado (4.762 consumos) e 438 para consumo fumado (3.350 consumos).
Por substâncias de consumo, segundo Carlos Nunes, mais de metade dos utilizadores (51%) consumiram ‘speedball’ [uma mistura de estimulantes, geralmente cocaína com opioides], seguindo-se a cocaína, heroína e outras.
Destacando que estes são dados “preliminares” da ação que tem sido desenvolvida na sala de consumo, o presidente da ARS-Norte destacou que foram realizadas 178 intervenções individuais com utilizadores que usam o espaço de consumo injetado e sete sessões de grupo para educação em saúde e boas práticas de consumo.
Durante este período, foram entregues pelos utilizadores 17.384 agulhas e seringas, e criado um grupo voluntário de consumidores que têm vindo a colaborar na recolha destes resíduos na zona envolvente ao espaço.
Carlos Nunes adiantou ainda que, a par do acompanhamento ao consumo de estupefacientes, foram realizadas 76 consultas médias, 60 atos de enfermagem, 25 referenciações para unidades hospitalares, 500 refeições e 375 banhos.
Depois da apresentação, a vereadora da CDU, Ilda Figueiredo, salientou que, apesar de preliminares, os dados mostram que “valeu a pena avançar” com a sala de consumo, bem como é “preciso avançar mais”, referindo-se à necessidade de intervir junto desta população.
Também o vereador do PS, Tiago Barbosa Ribeiro, destacou que os dados mostram que a sala “é um sucesso que se preferia que não existisse”, destacando que é “um caminho a aprofundar o combate à droga, ao mesmo tempo que se cuidam das dependências”.
Pelo BE, a vereadora Maria Manuel Rola afirmou que os dados “demonstram bem” a necessidade daquela infraestrutura ser criada na cidade, defendendo que “este é o caminho dos direitos humanos e saúde”.
Já o vereador social-democrata Vladimiro Feliz destacou que estes são “dados a ter em conta”, defendendo, no entanto, que esta resposta “não prescinde de uma forte aposta na prevenção e, posteriormente, no tratamento”.
Em resposta aos vereadores, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, destacou que os utilizadores da sala “não são todos do Porto” e que a infraestrutura está a “provocar migrações de população à procura desta resposta”, defendendo, novamente, que a iniciativa deveria ser replicada noutros concelhos da Área Metropolitana do Porto (AMP).
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