Num painel com o tema “Como dar más notícias”, integrado no Congresso dos Enfermeiros que hoje começou em Lisboa, a enfermeira do Centro Hospitalar Lisboa Norte considerou a comunicação “como um dos agentes terapêuticos mais poderosos”. “É preciso saber as doses certas. A comunicação tem de ser encarada como uma intervenção farmacológica”, afirmou.

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Emília Fradique considera que a comunicação com doentes, cuidadores e famílias pode ser comparada a um tumor, sendo benigna ou maligna, dependendo de como é feita.

“A comunicação pode ter também metástases, que podem atingir o doente, as famílias e até os profissionais”, acrescentou.

Vários profissionais que intervieram na sessão consideraram que o ambiente hospitalar é ‘stressante’ e pouco adequado a ter espaço e disponibilidade para gerir a forma como são transmitidas as más notícias, sejam elas uma doença terminal de um familiar ou até a própria morte.

Falta de privacidade nos hospitais

A psicóloga Liliana Dias, também oradora na sessão, sublinhou igualmente que “o contexto e o local” da comunicação de “más notícias” é de importância crucial.

A especialista defendeu que é necessário “criar um contexto de privacidade” e de conforto para fazer esta comunicação, admitindo que atualmente nos hospitais nem sempre seja fácil consegui-lo. “Há muitas limitações nos nossos serviços de saúde, porque não há espaço nem privacidade”, disse.

Além disso, lembrou que transmitir más notícias provoca “um grande dano emocional” aos profissionais, sendo uma “tarefa frequente, mas muito ‘stressante’”.

“É mais difícil recuperar de um desgaste emocional do que de um desgaste físico”, notou, lembrando que profissionais em cansaço extremo têm menor capacidade de comunicação.

Tanto a psicóloga Liliana Dias como a enfermeira Emília Fradique lembram que há já protocolos de boas práticas definidos para a comunicação dos profissionais com os doentes, que integram vários passos.

A enfermeira defendeu que o profissional que comunique “más notícias” deve ser detentor de toda a informação clínica da pessoa doente e deve ter participado do plano clínico.

É depois necessário perceber o que o doente ou o familiar já sabe sobre a situação, transmitir a informação de forma faseada, dar espaço à pessoa para expressar os seus sentimentos ou emoções e mostrar disponibilidade de acompanhamento.

A psicólogo Liliana Dias alertou ainda para a importância de evitar termos técnicos, ajustando a linguagem e a comunicação a quem ela se destina.

O Congresso dos Enfermeiros, que hoje arranca em Lisboa, decorre até domingo e conta com a participação de cerca de mil profissionais.