A produção global de cocaína em 2016 "alcançou o maior nível jamais registado", com uma estimativa de 1.410 toneladas e um aumento de 25% em relação a 2015.

No relatório anual sobre drogas da agência para as drogas e criminalidade, aponta-se que os opioides são responsáveis por 76% das mortes em que estiveram ligadas a drogas, com medicamentos como o Fentanyl e Tramadol, "vitais no tratamento da dor" a serem fabricados e usados ilegalmente.

Novas drogas

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Em 2016, foram apreendidas 87 toneladas de opioides em todo o mundo e praticamente a mesma quantidade de heroína. A produção de ópio aumentou 65% de 2016 para 2017, atingindo-se uma estimativa de 10.500 toneladas, a mais alta de sempre desde que começou a ser medida, no início do século XXI.

Só no Afeganistão, a produção de papoila de ópio cresceu para 9.000 toneladas em 2017, um aumento de 87% em relação ao ano anterior. Na América do Norte, o Fentanyl é usado como base para misturar com heroína ou outras drogas.

O relatório alerta para o surgimento constante de novas drogas com múltiplas misturas. Em África, o medicamento Tramadol é contrabandeado para vários países e daí chega ao Médio Oriente e ao norte do continente. Como não se trata de uma substância controlada internacionalmente, os consumidores encaram-na como uma espécie de impulso de energia, apesar de a droga levar a uma dependência física.

"Os mercados da droga estão em expansão, com a produção de cocaína e heroína a atingirem recordes e apresentando múltiplos desafios", afirmou o diretor executivo da agência, Yury Fedotov.

Canábis, a mais consumida

No que toca a cocaína, a produção em 2016 estimou-se em 1.410 toneladas, um aumento de 25% em relação a 2015 e uma inversão da tendência de queda registada entre 2005 e 2013.

No relatório aponta-se a canábis como a droga mais consumida em 2016, contando-se 192 milhões de pessoas que a consumiram pelo menos uma vez, um aumento de 16% em relação ao que se passava nos dez anos anteriores.

Destes consumidores, 13,8 milhões tinham entre 15 e 16 anos, indica a ONU, que salienta a vulnerabilidade desta faixa etária aos efeitos das drogas e à escalada de consumo.

Menos mortes, mas mais processos judiciais

Em Portugal, 27 pessoas morreram por ‘overdose’ em Portugal em 2016, uma diminuição de 33% face ao ano anterior que quebra um ciclo de aumento registado desde 2014, revela um relatório do SICAD divulgado em fevereiro. O mesmo relatório revela que, em 2016, foram instaurados 10.765 processos de contraordenações por consumo de droga, o valor mais elevado desde 2001 e que representa um ligeiro aumento (4%) face a 2015.

Em todo o mundo, 275 milhões de pessoas consumiram drogas em 2016, um número que se mantém estável através dos anos e que abrange cerca de 5,6% da população global com idades entre os 15 e os 64 anos. Entre estes utilizadores, há 35 milhões de pessoas com problemas de abuso de droga que precisam de tratamento.

Doenças associadas ao abuso de substâncias

O uso de drogas resultou em 450.000 mortes em 2015, mais de 167 mil por ‘overdose’ e o restante com doenças associadas ao consumo de drogas, incluindo hepatite e HIV pelo uso de seringas contaminadas. De 2000 a 2015, as mortes por consumo de droga aumentaram 60%, registou a ONU.

A ONU salienta ainda que apesar de serem menos do que os homens, as mulheres a consumir droga enfrentam riscos especiais, notando-se padrões em que o consumo começa numa idade mais tardia mas a escalada para a dependência total é mais rápida.

O número de mulheres em tratamento por consumo de droga é apenas um quinto do total e os problemas com drogas costumam estar associados a outras perturbações, como o stress pós-traumático ou experiências de abuso sexual infantil, negligência ou outras adversidades.

Com Lusa