As redes sociais revolucionaram a forma como comunicamos, permitindo e apoiando um alcance massivo e rápido que seria impensável há alguns anos. Para organizações sem fins lucrativos, como a ADERMAP – Associação Dermatite Atópica Portugal, estas plataformas tornaram-se ferramentas cruciais para sensibilizar o público sobre doenças como a Dermatite Atópica (DA). Esta doença inflamatória crónica da pele , embora comum, permanece amplamente invisível, muito devido ao estigma social e à falta de informação.

É exatamente esta visibilidade que torna as redes sociais tão importantes. A capacidade de difundir conhecimento sobre uma doença como a DA, que afeta entre 15% a 20 % das crianças e cerca de 7% dos adultos, tem o potencial de ajudar a reduzir preconceitos, aumentar a compreensão e promover uma sociedade mais inclusiva. Contudo, o caminho para essa sensibilização não está isento de obstáculos, como demonstra uma experiência da ADERMAP.

Numa tentativa de aumentar a visibilidade e sensibilização sobre DA, a ADERMAP optou por promover uma publicação nas redes sociais com a imagem de um bebé com lesões cutâneas no rosto – uma representação fiel da realidade que milhares de crianças com DA enfrentam diariamente. No entanto, essa promoção foi rejeitada sob o argumento de que “não respeita a política de saúde pessoal”. Este tipo de censura levanta questões preocupantes sobre o papel das redes sociais na criação de padrões irrealistas e no encobrimento de realidades que precisam de ser vistas e compreendidas.

Um dos principais desafios para quem vive com DA é a visibilidade das lesões, especialmente em áreas expostas como a face. Estas marcas visíveis podem causar uma série de problemas emocionais, como baixa autoestima, vergonha, ansiedade e até isolamento social. Numa época onde os padrões de beleza são tão fortemente influenciados pelas redes sociais, a aceitação da diversidade corporal tornou-se um tema crucial para a saúde mental. No entanto, quando uma imagem realista de uma condição crónica é considerada “inadequada”, a questão que se coloca é: até que ponto as redes sociais estão a contribuir para a aceitação da realidade?

A rejeição da promoção da ADERMAP é um reflexo das normas estéticas que dominam essas plataformas. Imagens que se afastam do ideal de “perfeição” são frequentemente marginalizadas ou censuradas, perpetuando o ciclo de invisibilidade e estigma para aqueles que não se encaixam nesses padrões. No caso da DA, isto tem um impacto profundo, não só para os afetados diretamente pela doença, mas também para o público em geral, que continua a ser privado de uma compreensão mais ampla desta patologia.

Campanhas digitais como a #AtopicEczemaUnfiltered lançada pela International Alliance of Dermatology Patient Organizations (@globalskin_iadpo) e pela European Federation of Allergy and Airways Diseases Patients’ Associations (@efapatients ) e que a ADERMAP integra no âmbito do Dia Mundial da Dermatite Atópica deste ano, são essenciais para debater a forma como os filtros das redes sociais limitam a realidade e perpetuam a desinformação. No entanto, quando as próprias plataformas que deveriam servir como megafone para essas causas limitam a sua capacidade de expor a realidade, enfrentamos um grave problema de censura que mina o propósito dessas ferramentas de comunicação.

Num mundo em que as redes sociais amplificam uma versão das pessoas que nem sempre corresponde à realidade, os verdadeiros e reais desafios de viver com doenças crónicas da pele, como a Dermatite Atópica, parecem ser invisíveis e mal compreendidos. Ao filtrar e rejeitar imagens que mostram a realidade da DA, as redes sociais propagam a ideia de que apenas o “perfeito” é aceitável, reforçando padrões inatingíveis de beleza. Este tipo de política ignora a importância de mostrar a diversidade da experiência humana e desconsidera o impacto positivo que a visibilidade pode ter na saúde mental de quem vive com doenças visíveis como a DA.

A realidade de doenças crónicas como a DA não deve ser escondida, mas sim exposta, discutida e compreendida para que possamos encontrar soluções e entreajuda. Só assim poderemos combater o estigma e promover uma verdadeira aceitação da diversidade. Para isso, as redes sociais precisam de ser mais do que vitrines de vidas perfeitas, devem ser um reflexo da realidade em toda a sua complexidade.

Por fim, a questão central que se levanta é: como podemos esperar que a sociedade aceite a diversidade corporal se plataformas que dominam a comunicação digital promovem uma visão distorcida e filtrada do que é “aceitável”? Para organizações como a ADERMAP, que lutam para dar visibilidade a condições de saúde crónicas e estigmatizadas, a censura digital é um retrocesso, não apenas para a sua missão, mas para a sociedade como um todo.

Em última instância, precisamos de uma mudança de paradigma, onde a verdade, por mais desconfortável que seja para alguns, seja respeitada e amplamente partilhada. Afinal, a consciência e a compreensão só podem crescer quando confrontamos a realidade – sem filtros.