Os doentes com cancro vivem progressivamente mais tempo, devido aos avanços no diagnóstico e tratamento oncológicos. Neste contexto, as metástases ósseas, principal causa de dor associada ao cancro, afetando 60 a 84% dos doentes com doença avançada, estão a aumentar exponencialmente. Estas lesões, formadas por células tumorais com origem noutros órgãos (como pulmão, mama, próstata, rim, tiroide, etc.), associam-se também a fraturas e alterações neurológicas. Os doentes experienciam uma elevada limitação funcional para tarefas diárias e até mesmo dependência de terceiros. Isto afeta drasticamente a qualidade de vida. Mas existem procedimentos que permitem devolver qualidade de vida aos doentes oncológicos de uma forma minimamente invasiva e com eficácia comprovada.

O tratamento otimizado numa fase precoce é fundamental para obter o melhor resultado possível. Ainda assim, atualmente, verifica-se atraso no diagnóstico e subtratamento das metástases ósseas, que se associam a uma maior progressão tumoral e, consequentemente, fraturas, pior estado geral do doente e menor possibilidade de recuperação. É crucial que os profissionais de saúde estejam alerta e referenciem estes doentes de forma correta e precoce.  

Muitas vezes, os doentes acabam por fazer apenas radioterapia, sendo que apenas 10-50% apresentam resposta completa a este tratamento e 20-30% são mesmo resistentes, ou seja, não têm nenhum alívio da dor. Além disso, a radioterapia associa-se a risco de fratura, radiodermite, e tem limite de dose. 

Tudo isto acarreta um elevado custo psico-socioeconómico para os doentes, os familiares, os cuidadores e o sistema de saúde. 

As metástases ósseas, quando diagnosticadas, devem ser abordadas por equipas multidisciplinares experientes, sendo crucial a correta e precoce referenciação para Centros de Referência. Desta forma, é possível adequar o tratamento mais eficaz e precocemente, evitando fraturas e perda funcional marcada.

A inovação tecnológica já permite um rápido alívio da dor

O tratamento de metástases ósseas é sempre multidisciplinar e otimizado individualmente. 

Quando são múltiplas metástases, o tratamento deve ser localmente agressivo, de forma a conseguirmos alcançar um controlo local efetivo, em paralelo com o tratamento oncológico sistémico. Este é orientado pela oncologia e engloba quimioterapia, imunoterapia, hormonoterapia, radiofármacos, inibidores do RANK-L e bifosfonatos. Paralelamente, é feito o controlo da dor, frequentemente com recurso a analgésicos opióides e anti-inflamatórios.

O tratamento local depende do número e tipo de lesões, a localização anatómica, o tumor primário e o estado funcional do doente. Pode englobar uma cirurgia major, como a de resseção e reconstrução com prótese, ou técnicas minimamente invasivas isoladas ou combinadas para controlo local. O risco de complicações e o tempo de recuperação depende da agressividade cirúrgica.

As técnicas mininamente invasivas, quando indicadas, são uma alternativa aos tratamentos convencionais. Um destes procedimentos é a ablação por radiofrequência, um procedimento percutâneo, realizado através de um pequeno orifício na pele inferior a 5 mm e que pode ser realizado em regime de ambulatório. 

Os riscos são muito baixos, estando a taxa de sucesso consistentemente entre os 90 e os 100%. Permite um rápido e significativo alívio da dor (1 a 3 dias) e a mobilização desde logo, com uma recuperação praticamente imediata. 

O grande objetivo é aliviar a dor e prevenir a progressão tumoral local (associada a maior destruição óssea, fratura, compromisso neurológico, aumento da dor e limitação funcional). Ao induzir a necrose térmica das células tumorais e destruir os nervos sensitivos locais, este tratamento interrompe a progressão tumoral e a destruição óssea, a transmissão da dor e a cascata inflamatória local. Quando associada a outras técnicas, como a cimentoplastia (cifoplastia, se for realizada na coluna) e encavilhamento endomedular nos ossos longos, tem um efeito sinérgico e complementar, auxiliando o tratamento de fraturas iminentes ou já existentes. Obtém-se, assim, um controlo local efetivo com alívio sintomático e ganho funcional, aumentando a qualidade de vida.

No futuro, a nanotecnologia, a inteligência artificial e a realidade aumentada irão certamente permitir avanços no tratamento sistémico dirigido eficaz e nos diagnósticos mais precoces.

Um artigo da Professora Vânia Oliveira, médica especialista em Ortopedia no Centro Hospitalar Universitário do Porto.