Um investigador português identificou o funcionamento de uma proteína que interfere com a comunicação entre células do cérebro e afeta a memória em doentes de Parkinson, permitindo testar novos medicamentos para evitar estes problemas.

O trabalho liderado pelo cientista Tiago Fleming Outeiro, do Instituto de Medicina Molecular da Faculdade de Medicina de Lisboa, é hoje publicado no Journal of Neuroscience (Jornal de Neurociência).

"Vimos que os oligomeros da proteína alfa-sinucleína alteram e interferem na transmissão sináptica, a comunicação entre as células nesta área, que é muito importante para os processos de memória e aprendizagem”, disse hoje à agência Lusa Tiago Outeiro.

A investigação agora apresentada abre "uma enorme perspetiva para podermos intervir a este nível, quer tentando impedir a acumulação desta proteína fora das células, porque sabemos que ai está a causar estes problemas, quer utilizando fármacos, drogas, que possam interferir com estas proteínas, modelando a comunicação neuronal”, explicou.

O cientista acrescentou que a intervenção ao nível dos sintomas da doença de Parkinson “não tem sido possível porque não se conheciam estes mecanismos”.

Estudos recentes mostraram que uma das proteínas associadas à doença de Parkinson é detetada também fora das células do cérebro, mas não se sabia quais as consequências ou qual o tipo de formas mais problemáticas de proteína.

Os investigadores testaram o efeito de três tipos de aglomerados da alfa-sinucleína fora das células no contexto da função neuronal.

"Vimos que apenas um tipo específico destas formas da proteína, os oligomeros de alfa-sinucleína, é capaz de afetar a comunicação neuronal, em termos científicos transmissão sináptica", especificou Tiago Outeiro.

Quando os neurónios no cérebro não comunicam de forma eficiente ou normal começam a surgir problemas relacionados com vários tipos de doença, como a doença de Parkinson, e parte dos doentes acabam por desenvolver problemas cognitivos, de memória, de aprendizagem ou psicológicos.

"Foi na zona do hipocampo, associada à formação da memória, por exemplo, que detetamos estes efeitos e foi ai que focamos este estudo para perceber de que forma esta proteína causa problemas", explicou.

"Há uma oportunidade muito grande de se testarem novos fármacos para aspetos particulares da doença, até agora menos possíveis de ser tratados, e corrigir defeitos na comunicação neuronal e encontrar fármacos que possam evitar a acumulação destes oligomeros de alfa-sinucleína que se acumula nos cérebros dos doentes de Parkinson", resumiu Tiago Outeiro.

22 de agosto de 2012

@Lusa