“O grande objetivo do projeto ‘Medical Device Interoperability’ é transformar a forma como os dispositivos médicos são desenhados, testados, comprados e usados, reduzindo o número de erros médicos e, de certa forma, salvando vidas”, explicaram o professor José Creissac e o investigador Paolo Masci, do Laboratório de Software Confiável (HASLab), polo na Universidade do Minho do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC).

Em declarações à Lusa, os responsáveis pela colaboração portuguesa nesta iniciativa indicaram que, atualmente, os profissionais de saúde e os próprios pacientes confiam, "mais do que nunca", nas interações "rápidas e seguras" entre os diferentes dispositivos médicos, como bombas de injeção, monitores cardíacos e dispositivos para a diabetes.

"É, por isso, importante que esses dispositivos comuniquem e operem de forma confiável em conjunto", reforçaram os investigadores, que, segundo contaram, formam a única equipa em Portugal a trabalhar nesta área.

Projeto coordenado pela FDA

Deste projeto, coordenado pela Food and Drug Administration (FDA), a agência norte-americana responsável pelo controlo de produtos para consumo alimentar, das drogas e dos dispositivos médicos, resultará uma norma que, após aprovação, servirá de referência para os regulamentos a definir nos Estados Unidos e, provavelmente, na Europa, incluindo Portugal.

Segundo os investigadores, os erros na capacidade de um sistema interagir e comunicar com outro (erros de interoperabilidade), podem originar falhas de comunicação, impedindo um dispositivo de reagir adequadamente a um alarme originado por outro.

Além disso, as diferenças nas unidades de medidas de cada dispositivo podem originar discrepâncias no desempenho dos vários dispositivos.

Um estudo da FDA, com a colaboração do INESC TEC e com dados entre 2012 e 2015, concluiu que 12% das ordens de recolha de dispositivos médicos deviam-se a problemas de ‘software', muitos dos quais detetados através da interação entre os enfermeiros e a máquina, disseram os responsáveis.

Em 2% dos casos, esses dispositivos podiam levar os profissionais de saúde a tomar decisões que colocavam em risco a vida dos pacientes, contaram os investigadores, acrescentando que, para esse estudo, foram analisadas 7.700 ordens de recolha de dispositivos.

Assim, uma das preocupações do projeto é assegurar que os designers e fabricantes desses aparelhos produzam e forneçam informação sobre o respetivo desempenho, funcionamento e características, para que aqueles que o usem possam fazê-lo com segurança, referiram.

A falta desta informação, continuaram, pode levar ao uso inadequado da interface do dispositivo e, com isso, resultar num "mau funcionamento", originando ferimentos no paciente ao qual está ligado ou, até mesmo, a morte.

Os dados desta colaboração com a FDA estão a servir de base para outras parcerias na Europa, como é o caso de um acordo que o INESC TEC pretende firmar com uma empresa italiana, ajudando-a a criar material de treino para um dispositivo prestes a ser colocado no mercado, bem como a desenhar a interface de um novo equipamento a produzir em 2018.