“O ódio não nasce no coração, mas sim nas palavras”
Provérbio sumério

Recentemente, a direção da ULS de Santa Maria tomou uma iniciativa em consonância com reivindicações antigas dos profissionais de cuidados de saúde deste país: agir legalmente contra as campanhas de difamação nas redes sociais. Tanto quanto foi dado a entender, esta diligência tem como alvo as injúrias e falsidades. Entendamo-nos: o que está em casa são mentiras e insultos e não queixas fundamentadas, mesmo quando expressas nas redes socias. Salvo melhor opinião, as injúrias e calúnias são crimes previstos no código penal, mormente quando dirigidas a certos grupos profissionais no exercício das suas funções.
Espantosamente, esta decisão da direção da ULS de Santa Maria caiu mal num leque alargado do espetro partidário a começar pelo PS, logo secundado pelo PCP, IL, BE, pelo menos. Afinados na “argumentação”, evocam o direito de opinião e clamam contra o que apelidam de censura. Mas a realidade é que todos estes partidos estão a defender, não a liberdade de expressão, mas sim o direito a gerar e propagar fake news e a insultar sem pejo as instituições e os profissionais. O que estes indignados “defensores de direitos” na realidade preconizam é sonegar aos profissionais e instituições o direito legalmente consignado ao bom nome e à segurança. Sublinhe-se: à segurança. É por demais sabido que em insultos e falsidades podem desaguar na violência física. Segundo dados oficiais, a violência contra profissionais de saúde aumentou no passado ano 18% em relação a 2022 e, como consequência, contabilizaram-se mais de três mil dias de faltas ao trabalho. Isto, durante o consulado do PS, recorde-se. Resta saber quantos profissionais não terão abandonado o SNS em consequência de uma agressão, ou do clima de impunidade, que se perceciona no SNS, não terá contribuído para o êxodo em curso. Portanto, o que este ajuntamento de partidos desgostosos ignora é que assertividade na repressão das campanhas difamantes faz parte da solução para salvar o SNS e não do problema, como eles afirmam. Embora possa parecer evidente que o mau ambiente causado pelas campanhas de difamação em nada contribui para o salutar funcionamento dos serviços, esses partidos têm um entendimento oposto. Somos levados a concluir que, à revelia da opinião expressa pelos sindicatos médicos de enfermagem e da própria Ordem dos Advogados, que saudaram a iniciativa da ULS de S. Maria, os partidos ofendidos desejam um SNS mergulhado num clima de perseguição, baseado em narrativas falsas. O PS, que tutelou a pasta da saúde de forma tão displicente (com exceção da pandemia, em que não é demais realçar o seu bom desempenho governativo), é justamente o partido que se posiciona como líder desta campanha contra quem quer proteger os profissionais do SNS. Atualmente na oposição, mantém coerência com a postura, quando era governo, de recusar quaisquer medidas de combate da violência contra profissionais.
Estes partidos assumem-se discípulos empenhados de Elon Musk, génio do mal, e da sua filosofia de promoção da mentira e do ódio. Seguramente que em todos estes partidos têm entre os seus militantes profissionais de saúde. Será que a reverência devida às lideranças os leva a submeterem-se acefalamente às diretivas partidárias? Ou será que os diretórios dos partidos pura e simplesmente os ignorem e rejeitem a ação politica baseada na realidade em favor de taticíssimos pueris?

Acácio Gouveia
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