A popularidade dos cigarros eletrónicos - que permitem a inalação de líquidos com nicotina e aromatizantes - pôs em alerta legisladores de todo o mundo, que temem que isso se torne uma porta de entrada para outros vícios para os jovens.
Ainda que estes dispositivos exponham o consumidor a uma quantidade menor de toxinas do que o tabaco, também representam riscos para a saúde, afirma a Organização Mundial de Saúde (OMS) no seu relatório, divulgado esta sexta no Rio de Janeiro.
No documento, a OMS avalia os resultados das MPOWER, o conjunto de medidas adotadas pelos 180 países signatários da Convenção-Quadro da Organização Mundial da Saúde para o Controle do Tabaco (CQCT da OMS).
"Embora os níveis específicos de risco associados aos SEAN (Sistemas Eletrónicos de Administração de Nicotina) não tenham sido estimados de forma conclusiva, os SEAN são, indubitavelmente, prejudiciais e deveriam, portanto, estar sujeitos à regulação", indica a OMS no seu último relatório sobre a epidemia global de tabaco.
A organização adverte ainda que não há evidências suficientes de que os cigarros eletrónicos sejam efetivos para deixar de fumar.
"Na maioria dos países onde estão disponíveis, a maior parte dos que usam cigarros eletrónicos continuam a fumar cigarros (convencional) ao mesmo tempo, o que tem muito pouco, ou nenhum impacto benéfico para a saúde", acrescenta a OMS.
A apresentação do relatório aconteceu no Museu do Amanhã, com a participação do Ministério da Saúde.
O Brasil trava o seu próprio combate contra o flagelo da nicotina.
Em maio, a OMS aplaudiu a decisão da Advocacia Geral da União (AGU) de processar as multinacionais do setor, assim como as suas filiais, para que cubram os gastos com tratamentos médicos relacionados com o consumo de tabaco.
Crescem as restrições
Nos últimos anos, as empresas do setor fizeram uma intensa campanha publicitária em torno do cigarro eletrónico e dos dispositivos que aquecem os líquidos com nicotina e aromatizantes, em busca de novos clientes.
As empresas argumentam que estes produtos são muito menos nocivos do que os cigarros tradicionais e podem ajudar os fumadores incapazes de abandoná-los completamente a migrarem para alternativas "mais seguras".
A OMS adverte, porém, que a desinformação disseminada pela indústria do tabaco sobre os cigarros eletrónicos representa uma "ameaça atual e real".
As restrições ao uso de cigarros eletrónicos no mundo todo estão a aumentar.
No mês passado, a cidade de São Francisco proibiu a venda e a fabricação destes dispositivos.
A China, que responde por quase 25% dos fumadores mundiais, também planeia regular estes dispositivos eletrónicos.
No seu relatório, a OMS alerta ainda que é preciso um esforço maior para ajudar os fumadores a parar de fumar e aponta que "apenas 30% da população mundial tem acesso a serviços adequados" para cessar com o tabagismo.
Entre estes serviços, a organização menciona aconselhamento, linhas telefónicas nacionais de cessação gratuitas, terapias também gratuitas de substituição da nicotina, ou medicamentos.
Sem ajuda, apenas 4% dos fumadores que tentam deixar o hábito têm sucesso.
Todos os anos, o cigarro provoca a morte de oito milhões de pessoas, entre fumadores e fumadores passivos.
Ainda que o número de fumadores no mundo tenha diminuído ligeiramente desde 2007, continua a ser muito alto, em cerca de 1,4 mil milhões - homens, na sua grande maioria.
"As pessoas que largam o cigarro podem viver vidas mais longas, saudáveis e produtivas", conclui a OMS.
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