Nos últimos anos, a unidade hospitalar de Almada, no distrito de Setúbal, perdeu 40% dos especialistas em anestesia para o setor privado, no entanto, Alexandre Valentim Lourenço afirma, em declarações à Lusa, que este pode não ser caso único.

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“Esta situação em termos de anestesia é transversal a toda a coroa metropolitana de Lisboa e por isso, se nós tentarmos resolver o problema pontual neste hospital [Garcia de Orta], vamos destapar o lençol noutro hospital qualquer. Temos que ser capazes de captar médicos anestesistas competentes que estejam fora deste sistema. Ir buscá-los ao Garcia de Orta para meter no Fernando da Fonseca e depois ir buscar para meter em Cascais o que estaria no hospital de Santa Maria não nos resolve o problema”, afirmou.

Quebrar o ciclo

Para o responsável da Ordem dos Médicos, é preciso “quebrar este ciclo negativo” que faz com que haja menos profissionais nos hospitais públicos, até porque a falta de anestesistas “põe em risco a capacidade de assistência na urgência”.

Neste sentido, Alexandre Valentim Lourenço alertou para a necessidade de avaliar a “capacidade de formar especialistas”.

“Quanto menos médicos houver nos hospitais, nas suas funções de rotina, menos capacidade têm estes hospitais de fazer a formação. E por isso a Ordem dos Médicos está muito atenta aos níveis de formação e aos níveis de segurança mínimos definidos tecnicamente”, explicou.

O presidente do conselho da administração do Hospital Garcia de Orta, Daniel Ferro, também avançou à Lusa que “o ritmo de formação nos últimos dez anos foi muito insuficiente”. Em comunicado, a unidade hospitalar de Almada realçou que nos últimos dez anos abriram mais de dez hospitais públicos e privados, mas “manteve-se basicamente o mesmo ritmo de formação”.

“No Hospital Garcia da Horta em dez anos poderiam ter-se formado o triplo dos anestesistas. Até 2015, formava-se um anestesista por ano, com um corpo clínico de 25 anestesistas. Mais de 50% dos anestesistas formados nos últimos dez anos ingressaram nos hospitais privados, deixando os hospitais públicos numa situação de carência”, refere o documento.