A relação da Oncologia com a Fisioterapia é dual como todas as relações vitalistas, mas um equilíbrio as comunica, bem como as suas componentes epistémicas, o seu binómio «Insofrimento vs. função», de resto o binómio que caracteriza a harmonia que se estabelece entre a medicina curativa e a paliativa, e entre a ciência médica e a Fisioterapia, que se desvela na sinergia empírica que sempre defendemos.
Essa sinergia está bem patente na própria Fisioterapia, no modo como esta “ars” compatibiliza a dimensão psicossocial dos métodos de maior amplitude abstracta com a vertente científica das técnicas que se aplicam perfeitamente ao modelo “biomecânico” em Saúde. Aliás, a harmonia empírica e biomecânica só pode ser obtida no esforço concomitante de aplicar ao “curto prazo” funcional a urgência da teoria, se não houver equilíbrio, o Insofrimento não pode ser funcional ou, até mesmo, vital.
Certa Fisioterapia pretende, bastas vezes, fazer sobressair o seu aspecto psicossocial, aplicado ao (in)sofrimento, esquecendo que a vida, que a própria medicina alopática, exige o traçado empírico da dor, a algia do equilíbrio passível de escusar as piores consequências. Sabemos que alguns métodos dogmáticos podem prometer a salvação, pela extinção da dor, ou, quiçá, fazendo-a sobressair, mas são muitas vezes estes que mais ameaçam a qualidade da vida, até pelo modo como pretendem sobressaltar-se face à medicina medicamentosa, como se fosse possível negar a química da vida.
Mas haver química é haver uma harmonização clínica representada pela própria linha média raquidiana, que, de algum modo, divide uma zona posterior do corpo, rígida e hipertónica 1, 2, 3, “locus” das grandes teorias, duma zona anterior, liberal, afeita ao movimento. Os excessos dos métodos “posteriores” poderão matar o equilíbrio álgico, seja porque o calam, seja porque o exacerbam, criando, assim, um risco para a própria vitalidade, destruindo a função urgente da máquina relacional. É verdade que o excesso também pode fazer urgir um novo equilíbrio, uma nova relação “erótica” 4 da Estrutura com a função, como da Razão com a Realidade displicente, mas este é um risco que nem sempre vale a pena correr. Por vezes, o caminho para o “insofrimento” poderá, tão-só, matar. Pelo que é preciso que a Fisioterapia sempre se acautele na sua apologia da “qualidade de vida” face à simples “vida”, não vá matar-se a dualidade, que, bem sabemos, deve, continuamente, prevalecer, na dialéctica da existência.
Uma função indolor é, claro, o objecto mútuo de Medicina e Fisioterapia, e estas não podem excluir-se da harmonia raquidiana, que é de crescer “espiritualmente”, se a teoria for adequada à função cientificadora. Nisto, também a Fisioterapia deve ser questão “de vida ou de morte”, paralelamente à Medicina, com seu binómio constante trabalhando para a Unidade, que é, tal-qualmente, o Uno “terapeuta-paciente”, e a harmonia entre o aspecto psicossocial, e até placebetário, e o aspecto profusamente biomédico, que se consubstanciam, prevenindo as compensações desadequadas, as dores/sofrimentos que poderiam ser evitadas. O sofrimento mais genuíno é, aqui, a dor inútil, que certos dogmas pretendem muitas vezes alavancar, mais tarde sendo, acaso, traídos por um equilíbrio global mais disfuncional, que, ainda assim, compõe o seu intrínseco trajecto dialéctico e equilibrante. A Unidade, de qualquer modo, não é a morte da relação clínica, é, apenas, a harmonização da autonomia do seu desiderato crescente, que, infelizmente, terá, algum dia, a sua finalização independente.
Todo o processo em causa não pode expulsar-se da realidade clínica, a própria Filosofia é Saúde, ou, talvez, a doença da Saúde, as narrativas são, também, as dos profissionais, que sofrem clinicamente com o paciente, são – eles mesmos – pacientes, percipientes dum equilíbrio que deve evoluir para um esquema do Corpo que integra e é integrado, constantemente, numa Unidade maior, numa psicossociologia clínica que não se subtrai ao rigor da sua elementaridade biomecânica.
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