A batalha contra o cancro é um desígnio global da humanidade, na qual são investidos milhares de milhões de euros anualmente. Todos os gastos são justificáveis nesta luta e todas as sociedades investem em dispendiosos tratamentos de resgate, de forma a tentar aumentar a sobrevida dos doentes afetados. Não estando em causa estes tratamentos e o investimento social, urge refletir um pouco sobre alguns dos fatores que poderão aliviar esta “epidemia oncológica”.

Neste complexo novelo de saúde, a obesidade surge como um dos mais importantes fatores de risco modificáveis para o desenvolvimento de cancro. A obesidade é, pois, muito mais do que uma preocupação estética ou de bem-estar, mas também uma realidade com significativo impacto no desenvolvimento e progressão da doença oncológica.

Diversos estudos indicam que pelo menos 12 tipos de cancro (mas estima-se que sejam bastantes mais) estão, de forma direta, associados à obesidade. O aumento das hormonas circulantes e a presença de um ambiente pró-inflamatório, aumenta a replicação celular e o risco de erros da transcrição, com a consequente carcinogénese. Em alguns tipos de cancro (por exemplo, do fígado ou do endométrio), cerca de 50% dos casos são atribuíveis à presença de obesidade ou excesso de peso e nos Estados Unidos estima-se em quase 700.000 o número de novos casos de cancro associados à obesidade, todos os anos.

Além de aumentar o risco de desenvolver cancro, a obesidade também está associada a pior prognóstico e maior dificuldade em realizar os tratamentos necessários. Isto traduz-se num aumento de custos e de complexidade em todas as fases do tratamento: do diagnóstico precoce, cirurgia, quimioterapia, radioterapia ou cuidados paliativos. O tratamento cirúrgico de um cancro, por exemplo, obriga a cirurgias mais complexas e com maior risco de complicações intra e pós-operatórias, exclusivamente pela presença de obesidade.

Por outro lado, a perda de peso (nomeadamente após cirurgia metabólica) está associada a uma diminuição do risco de cancro e a melhores resultados dos tratamentos efetuados, na eventualidade de desenvolver doença oncológica.

Da mesma forma, a adoção de estilos de vida saudáveis, incluindo uma dieta saudável e a prática de exercício físico, não só diminuem o risco de cancro, mas também melhoram o bem-estar dos doentes de uma forma global.

Portanto, abordar a obesidade não é apenas uma questão de melhorar os índices de saúde da população, mas também uma estratégia económica sensata, pela redução de custos no tratamento de doenças complexas em final de linha. Ao invés de fazermos as contas ao custo de tratar a obesidade, temos de começar a contabilizar os custos de não agir. Investir na saúde, hoje, é investir no futuro da nossa sociedade.