O envelhecimento populacional e o aumento da longevidade, tem levado ao acréscimo de inúmeras doenças crónicas, degenerativas e incapacitantes, causando alterações físicas, cognitivas e sociais da pessoa idosa. Uma delas é a demência. O objetivo da reabilitação cognitiva é capacitar os doentes/familiares a conviver, minimizar e superar os défices cognitivos desenvolvendo-se estratégias para melhorar a qualidade de vida dos doentes nas suas atividades de vida diária (Hoeman, 2011). Sobretudo nos mais idosos, o declínio cognitivo ligeiro, considerado como um estado intermediário entre o envelhecimento cognitivo normal e a demência leve, é cada vez mais reconhecido como um importante problema de saúde, associado a um aumento do risco de desenvolvimento de demência. A manutenção da saúde cognitiva tem uma importância fundamental na prevenção do compromisso cognitivo e no atraso da instalação do quadro demencial, da dependência e da (in)capacidade do idoso para se autocuidar. Nos dias que correm a população apresenta-se cada vez mais envelhecida, surgindo da nossa parte como profissionais de saúde, uma necessidade crescente de apresentar respostas adequadas, para promover um envelhecimento cada vez mais ativo. Pretende-se com a estimulação cognitiva, fazer a estimulação das capacidades do idoso, de modo a ajudá-lo a manter um nível de funcionamento o mais aproximado do autónomo, contrariando-se desta forma o processo demencial.

A reabilitação cognitiva tem como base a estimulação e exercitação de funções como a memória, a atenção, o raciocínio, o cálculo, a linguagem, a perceção, o pensamento e a imaginação. São terapias focalizadas nas necessidades individuais, com planos organizados, personalizados, e objetivos definidos, com um carácter didático, em que o principal objetivo não é exclusivamente ajudar o utente com os seus problemas, mas dotá-lo de um novo instrumento cognitivo e comportamental, através da sua prática regular. A estimulação cognitiva deve ser direcionada não só para as pessoas que tenham perdas a nível cognitivo, mas também para aquelas que queiram prevenir o seu aparecimento. Proporcionar um envelhecimento, com qualidade e tratando de prevenir o agravamento de pequenos problemas, devemos facultar ao idoso/família estratégias de promoção de saúde e estimulação cognitiva, para evitar e minimizar complicações no processo demencial.
A reabilitação do idoso internado, orienta-se para a manutenção das capacidades funcionais, cognitivas, assegurar a segurança, evitar as complicações e modificar o meio no sentido de conseguir a máxima independência.

De acordo com o regulamento das competências específicas do Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Reabilitação (EEER) da Ordem dos Enfermeiros (OE, 2019), os programas/planos de cuidados no âmbito da reabilitação cognitiva inserem-se na competência nº 1: “Cuida de pessoa com necessidades especiais, ao longo do ciclo de vida, em todos os contextos da prática de cuidados”. O EEER deverá ser capaz de implementar um programa de estimulação cognitiva, voltado para o desenvolvimento das Atividades de Vida (Roper, Logan & Ticrney, 1995), do idoso com demência e aplicar instrumentos, adequados à boa prática profissional para poder avaliar a pessoa idosa, do ponto de vista funcional e cognitivo. Daí o EEER, possui um papel fundamental na promoção da autonomia, no desempenho dos autocuidados e atividades de vida diária, na pessoa com demência. O EEER terá um grande desafio, na elaboração do plano de reabilitação, personalizado e individualizado à cada pessoa, a fim de cumprir os objetivos traçados. Um plano de reabilitação convenientemente estruturado, de acordo com as necessidades da pessoa e obedecendo aos objetivos delineados, obterá ganhos em saúde, como ainda um envelhecimento ativo e saudável.

Os programas de reabilitação, devem avaliar com auxílio de escalas o perfil cognitivo de cada doente, o que permitirá de forma eficaz efetuar uma análise dos aspetos cognitivos, que estão preservados ou deteriorados. Isto permitirá traçar um plano individual e personalizado para cada doente e adequar o tratamento ao nível intelectual, cultural e social de cada doente, devendo este atuar sobre múltiplos fatores, nomeadamente na adaptação do contexto sócio cultural, no tratamento psicoterapêutico, nos cuidados somáticos e no apoio á família (Hoeman, 2011).
Estudos internacionais sugerem que a estimulação cognitiva, se associa a uma diminuição do risco de declínio cognitivo, da perturbação depressiva; melhora a autonomia dos idosos, aumentando a proteção contra o aparecimento de demência; e que deve ser uma componente essencial do cuidado ao idoso. Pequenas melhorias, ou mesmo a estabilização das funções cognitivas podem ser consideradas ganhos em saúde. A estimulação cognitiva deveria ser incluída nos programas de reabilitação à pessoa idosa em contexto de internamento, de forma a contribuir para a preservação da sua capacidade cognitiva, funcional e como resultado, possibilitar um maior nível de independência, proporcionando maior autonomia nas atividades de vida diária, maior satisfação do utente/família, diminuindo assim o número de dias de internamento e de reinternamentos, mas sobretudo acrescentando qualidade de vida às pessoas.