Agressão, sabotagem ou acidente? O enigma persiste. Cerca de trinta diplomatas americanos e canadianos ficaram com surdez ou enxaqueca permanente e sofreram lesões traumáticas cerebrais. Mas ninguém sabe como, nem porquê.

Os primeiros factos remontam a dezembro de 2016, mas o governo norte-americano esperou até agosto deste ano para falar dos misteriosos "sintomas físicos" observados em vários funcionários da embaixada. Até 14 de setembro, contavam-se em 21 o número de pessoas afetadas, com um último "incidente" registado em agosto, segundo Washington.

Crianças entre as vítimas

Do lado do Canadá, uma fonte próxima da embaixada informou, sob anonimato, que mais de cinco famílias foram afetadas, inclusivamente crianças.

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Aos jornalistas, funcionários norte-americanos admitem suspeitar do uso de dispositivos acústicos de origem desconhecida, com o objetivo de danificar a "integridade física" dos diplomatas.

Havana nega, porém, qualquer implicação no caso e garante já ter lançado uma investigação ao mesmo.

A 23 de maio, os Estados Unidos tomaram a primeira medida, ao expulsar dois diplomatas cubanos do país. Washington não considera abertamente que Cuba esteja envolvida no mistério enigmático, mas responsabiliza-a por ser o país anfitrião.

O secretário de Estado, Rex Tillerson, pondera mesmo o encerramento da embaixada em Cuba, segundo fontes do Governo americano. Esta semana, Tillerson teve uma discussão "firme e franca" sobre o tema com o seu contraparte cubano, Bruno Rodríguez, informou o Departamento de Estado, sem dar mais detalhes.

A investigação ainda não teve resultados, mas "tantas famílias afetadas ao mesmo tempo não é banal. Não pode ser acaso", diz uma fonte próxima da embaixada do Canadá.

A emissão dirigida de ondas nocivas a partir de um dispositivo não detetável é "totalmente possível de um ponto de vista técnico", assegurou à agência de notícias France Presse o especialista em bio-eletromagnetismo Denis Bedat.

"As ondas ultrassónicas, que se situam além da capacidade acústica do ser humano, podem ser difundidas com um amplificador. O dispositivo não tem de ser de grande e pode ser ativado dentro ou fora de uma casa", explica o especialista francês.

Bedat deu como exemplo o Active Denial System (ADS), um canhão anti-distúrbios criado nos Estados Unidos, que permite dirigir ondas eletromagnéticas para as pessoas escolhidas, causando-lhes uma sensação insuportável de calor. Segundo fontes norte-americanas citadas por meios de comunicação locais, o presidente Raul Castro disse ao chefe da missão de Washington estar perplexo perante o enigma e já autorizou o FBI e a polícia canadiana a realizar investigações em Havana.

As especulações abundam em ambos os lados do estreito da Flórida. Alguns apontam que o caso terá a iniciativa de agentes cubanos desertores, outros a um terceiro país interessado em afetar as relações entre Cuba e Estados Unidos, como a Rússia ou a Coreia do Norte.