29 de novembro de 2013 - 09h44
O Programa Nacional para a Infeção VIH/sida vai promover, no início de 2014, estudos para perceber as razões que estão a levar ao ressurgimento da transmissão da infeção nos homens que têm sexo com homens e nos imigrantes.
Dados oficiais referem que a transmissão da infeção através de relações sexuais em homens que têm sexo com homens (HSH) atinge, atualmente, mais de 20% do total de casos notificados nos últimos anos.
Em entrevista à agência Lusa, o diretor do Programa Nacional para a Infeção VIH/sida avançou que vão ser realizados estudos de “natureza comportamental”, em parceria com instituições académicas e universitárias, para tentar “perceber o que está por detrás deste ressurgimento da transmissão da infeção nos homens que têm sexo com homens”.
Os estudos vão avançar “rapidamente” para “ter respostas ainda no próximo ano” e se poder “traçar, alterar ou adaptar estratégias que têm a ver fundamentalmente com a prevenção”, disse António Diniz, a propósito dos “30 anos do VIH/sida em Portugal” e do Dia Mundial de Luta contra a Sida, que se assinala no domingo.
“Precisamos saber porque é que estas pessoas se voltaram a infetar e isso implica sabermos que pessoas são, como é que elas encaram a infeção VIH e de que forma é que a adquiriram para podermos traçar essas estratégias, quer seja de prevenção, quer seja de diagnóstico”, explicou.
Traçando o retrato da epidemia em Portugal, António Diniz afirmou que já “não tem as mesmas características” que tinha há uma década.
Há 10 anos, em mais de metade dos casos notificados a transmissão fazia-se através da utilização de drogas injetáveis partilhadas, atualmente 85% da transmissão é efetuada por via sexual, exemplificou.
O relatório sobre a situação do VIH/sida em Portugal em 2012, faz uma análise entre 2005 e 2011 que permite observar uma redução de 79% do número de casos relacionados com o consumo de drogas e um decréscimo de 21% nos associados à transmissão heterossexual, enquanto a transmissão homossexual aumentou 33%.
Em 2012 verificou-se que a transmissão associada ao consumo de droga corresponde a 10% dos casos, 24% a relações homossexuais e 63% a relações heterossexuais.
“No grupo dos homens que fazem sexo com homens essa percentagem tem vindo a aumentar e mesmo o valor absoluto de casos não tem conseguido diminuir”, disse António Diniz.
Também tem crescido o peso das populações imigrantes no conjunto da infeção VIH em Portugal, nomeadamente nos distritos de Lisboa, Setúbal e Faro.
“Na região de Lisboa, mais de um terço dos casos notificados em 2009, que é o último ano em que conseguimos ter dados já com alguma robustez e consistência, ocorreram em pessoas de nacionalidade estrangeira”, exemplificou.
Esta é “outra realidade” a que é necessário estar atento para se poder “saber qual é a melhor forma de atingir essas populações no sentido de terem aconselhamento, seguimento e tratamento mais adequado”, mas também para impedir que a infeção se transmita nessas comunidades e na população nacional.
Estas duas populações são consideradas das mais vulneráveis à infeção, “não só pelos comportamentos que podem adotar, mas também, muitas vezes, pela dificuldade ou resistência ao acesso aos cuidados de saúde e à entrada no sistema de saúde”.
António Diniz salientou ainda a diminuição na última década do número de novos casos de infeção, de sida e do número de mortes.
Mas, considerou, não é motivo para se estar “completamente satisfeito”, porque Portugal continua numa posição de “alguma fragilidade” no contexto europeu, ocupando os últimos lugares nas taxas de novos casos de sida e de infeção por VIH.
“Isto significa que temos de trabalhar mais, mais depressa e melhor para conseguirmos colocar-nos numa posição mais favorável nesse contexto europeu”.
A Direção-Geral de Saúde apresenta hoje o "Relatório Portugal Infeção VIH/sida em Números 2013".
Lusa