As primeiras conclusões de um dos maiores estudos internacionais sobre enxaqueca acabam de ser divulgadas. A investigação envolveu mais de 11 mil pessoas de 31 países. A enxaqueca é uma doença neurológica, com crises de gravidade variável e sintomas que incluem dor de cabeça, náuseas, vómitos e sensibilidade à luz.

O que é a enxaqueca?

A enxaqueca é uma doença neurológica subvalorizada, subdiagnosticada e subtratada. É caracterizada por crises recorrentes de dor de cabeça moderada a grave, tipicamente pulsátil, geralmente unilateral, associada a náuseas, vómitos e sensibilidade à luz, som e odores.

A enxaqueca está associada à dor incapacitante e à redução da qualidade de vida assim como a custos para a sociedade.

Tem um impacto profundo na capacidade para realizar tarefas quotidianas e foi declarada pela Organização Mundial da Saúde como uma das 10 principais causas de anos vividos com incapacidade, por homens e mulheres.

O estudo "My Migraine Voice", promovido pela farmacêutica Novartis, envolveu homens e mulheres com pelo menos quatro dias de enxaqueca por mês e uma cota pré-definida de 90% de pessoas com pelo menos um tratamento preventivo.

Os resultados, apresentados na 60ª Reunião Anual da Sociedade Americana da Cefaleias (AHS), em São Francisco, revelam que a enxaqueca reduz a produtividade no trabalho para metade. Por outro lado, em média, 60% dos entrevistados referiu ter faltado a quase uma semana de trabalho (4,6 dias) no último mês devido por causa da doença.

O estudo "My Migraine Voice" avaliou o impacto da enxaqueca no trabalho, incluindo a redução da produtividade (presenteísmo) e as horas perdidas (absentismo) devido à enxaqueca, tendo por base o questionário Produtividade no Trabalho e Incapacidade na Atividade (WPAI).

A enxaqueca é frequentemente subvalorizada como sendo apenas uma dor de cabeça

Metade da produtividade

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Aqueles que tinham trabalhado na semana anterior ao estudo relataram que a produtividade foi reduzida em mais de metade (redução de 53%), percentagem esta que subiu para 56% nos trabalhadores com insucesso terapêutico em dois ou mais tratamentos preventivos.

"A enxaqueca é frequentemente subvalorizada como sendo apenas uma dor de cabeça. Estes resultados trazem uma nova perspetiva sobre uma doença invisível, ainda que debilitante”, afirma Elena Ruiz de la Torre, diretora executiva e ex-presidente da European Migraine e Headache Alliance (EMHA).

"Apesar de viverem com uma condição altamente incapacitante, estas pessoas esforçam-se por ser produtivas, mas precisam de maior alívio dos sintomas e apoio no local de trabalho, para conseguir atingir o seu potencial em pleno. A EMHA está envolvida em várias iniciativas que estão comprometidas em contribuir para esta causa", acrescenta.

Apesar do impacto devastador da enxaqueca, os entrevistados partilharam que, embora a maioria de empregadores (63%) tenha conhecimento da sua condição, apenas 18% ofereceram apoio.

Além disso, muitos afirmaram sentir-se julgados, estigmatizados ou incompreendidos ao faltar ao trabalho, ilustrando assim a necessidade de sensibilização das entidades empregadoras.

A enxaqueca ocorre frequentemente durante a idade ativa, entre os 35 e os 45 anos de idade, resultando frequentemente em incapacidade temporária durante as crises. As pessoas podem ficar incapacitadas devido aos sintomas, que podem durar dias. A enxaqueca é onerosa para a sociedade, com custos totais estimados entre 18 e 27 mil milhões de euros na Europa e cerca de 20 mil milhões de dólares nos Estados Unidos.