HealthNews (HN). Quais os principais objetivos e importância deste debate?
José Manuel Boavida (JMB)- Amanhã iremos discutir o desafio de criar uma Resolução Nacional sobre Diabetes. Queremos responder ao drama da diabetes. O número de pessoas com a doença continua a aumentar e as estratégias de abordagem que temos não estão a ter resposta desejada. Precisamos de compreender a diabetes nas suas várias formas. É por isso que no debate iremos discutir os planos de urbanismo, alimentação, promoção de atividade física, os planos de defesa do ambiente e todos os fatores ligados ao risco da diabetes. Por outro lado, iremos abordar o financiamento deste tipo de programas, contando, por isso, com a participação da Comissão de Economia e Finanças.
No fundo, vamos juntar deputados europeus e nacionais para discutir as lições que Portugal tem que aprender com a resolução do parlamento europeu.
HN- Por que razão precisamos de uma Resolução Nacional?
JMB- Temos de arregaçar as mangas para encontrar formas de resolver os desafios que a diabetes enfrenta.
A Organização Mundial da Saúde definiu como meta mundial ter, até 2030, 80% das pessoas com a doença diagnosticadas. Em Portugal, estima-se que tenhamos 60 a 70% diagnosticas, das quais 70% tem bom controlo da glicemia. Infelizmente, ainda não temos as bombas infusoras que foram prometidas aos doentes com diabetes tipo 1. Portanto, estes são alguns dos exemplos para os quais queremos respostas.
HN- Trinta por cento dos casos da diabetes estão por diagnosticar. Quais as razões que explicam a falta de acompanhamento destes doentes?
JMB- Precisamos de ter um programa de rastreio permanente das pessoas com mais de trinta anos, dando prioridade àqueles que têm histórico clínico ou obesidade. O Serviço Nacional de Saúde já rastreia cerca de dois milhões de pessoas, mas não faz o seguimento posterior. A consulta pós-rastreio não existe no SNS. Isto não pode continuar a acontecer. É necessário criá-la.
Sobre as razões que justificam este problema são origem diversa… Este debate que estamos a ter em Portugal foi tido no parlamento europeu e está a ser tido na OMS. Esta entidade vai ter uma reunião a 27 e 28 de novembro para discutir precisamente esta situação. O drama da diabetes não está a ter a reposta desejada e o número de casos está a aumentar todos os anos.
HN- O que é que esta Resolução Nacional pode vir a mudar no panorama atual da doença?
JMB- Pode vir a comprometer o Governo com a tomada de medidas reais e concretas para a mudança deste cenário. Com a Resolução Nacional haveria um compromisso maior ao nível financeiro e da educação. É preciso que se entenda que a diabetes não é só um problema de saúde, é um problema da sociedade que tem de ser abordado.
No fundo, esta nova resolução pode vir a introduzir uma nova cultura e visão sobre a diabetes.
HN- Que outras medidas devem ser adotadas para garantir o acompanhamento eficaz dos doentes?
JMB- Não devem de ser as pessoas que devem ir à Saúde, é a Saúde que tem de ir às pessoas. Ou seja, tem de haver um acompanhamento regular dos doentes através de sistemas de educação e cuidados de proximidade.
HN- Uma nota final
JMB- Ao dizermos que a diabetes é um “drama”, temos em mente os impactos individuais nos doentes, nas famílias e na sociedade em geral. É sentido que é preciso perceber que a diabetes, hoje em dia, não é mais uma doença de ricos, é uma doença de toda a sociedade. É necessário dar uma resposta coerente e organizada. É este o desafio que queremos lançar na Assembleia da República.
Entrevista de Vaishaly Camões
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