
“Estamos a fazer uma coisa muito simples chamada terapia genética”, explicaram dois dos investigadores premiados em entrevista à agência Lusa.
Parceiros de laboratório e casados há muitos anos, os norte-americanos Jean Bennett e Albert Maguire referiram que a ideia é “muito simples”, mas “são precisos muitos passos para fazer com que funcione”.
A terapia consiste basicamente em “substituir um gene danificado por um gene normal”, afirmou Albert Maguire, adiantando que a equipa conseguiu “usar um vírus, que não causa nenhuma doença, para levar o gene normal às células nervosas”.
Com isto, pessoas que nasceram cegas “passam a conseguir andar de bicicleta, andar sozinhas, sair à rua à noite, coisas que anteriormente não conseguiam fazer”, sublinhou.
Doenças hereditárias da retina entre as principais causas de cegueira
As doenças hereditárias da retina são uma das principais causas de cegueira em idade ativa e a segunda principal causa de cegueira em crianças na Europa, nos Estados Unidos e grande parte da Ásia.
“O que nós fizemos foi pegar numa cópia do gene e colocar no sítio onde estava o [gene] doente, permitindo que as células funcionassem normalmente”, avançou Jean Bennet.
“Isto é importante, não só porque vai ajudar as pessoas com esta doença em particular, mas também [porque] é um passo fundamental para tratar outros tipos de cegueira e outras doenças genéticas”, defendeu.
Comprovada a eficácia do tratamento, o tratamento está a ser implementado em seis centros de excelência nos Estados Unidos, segundo os dois investigadores, ambos docentes da Universidade de Medicina da Pensilvânia e médicos do Hospital de Crianças em Filadélfia, nos EUA.
“Acreditamos que [o tratamento] vai estar disponível na Europa em breve e no resto do mundo, assim que os organismos reguladores o aprovarem”, concluíram.
Jean Bennett e Albert Maguire fazem parte da equipa que desenvolveu o tratamento, a partir de uma investigação inicial de Michael Redmond. O grupo – que inclui ainda Robin Ali e James Bainbridge, Samuel Jacobson e William Hauswirth - recebe hoje o Prémio Champalimaud de Visão, que atribui um milhão de euros aos vencedores.
“Esperamos que [o dinheiro do prémio] sirva para investir em estudos que desenvolvam tratamentos para outros tipos de cegueira e também para treinar uma nova geração de cientistas e médicos”, disse Jean Bennett.
O prémio António Champalimaud de Visão foi lançado em 2006 e conta com o apoio do programa 2020 – O direito à Visão, da Organização Mundial de Saúde.
A cerimónia de atribuição será liderada pela presidente da Fundação, Leonor Beleza, e conta com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
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