Em entrevista à agência Lusa, João Ventura, docente da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) e responsável pelo projeto, explicou hoje que a equipa “foi a primeira a propor” a criação de um refrigerador magnético que não “usasse fluidos”, mas sim um interruptor térmico – o ‘thermal switch’.

Segundo o professor da FCUP, o projeto “Refrigeradores magnetocalóricos baseados em interruptores térmicos altamente eficientes”, iniciado há cerca de seis meses, dá seguimento a uma investigação precedente, que envolveu investigadores da FCUP e da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), e da qual resultou uma patente provisória nacional e europeia.

“Nos refrigeradores magnéticos (frigoríficos) é necessário um fluido que leva o frio aos alimentos e transporta o calor dos alimentos para o exterior. É este fluido que nós queremos remover do refrigerador magnético, uma vez que a sua utilidade diminui fortemente a eficiência”, frisou.

A solução, apresentada aquando da submissão da patente, retirou por “completo o fluído” e substitui-o por um “material sólido”, um interruptor térmico, que, segundo João Ventura, foi funcional e “aumentou a eficiência do refrigerador”.

Solução mais amiga do ambiente

“A utilização de fluidos na refrigeração magnética implica que a frequência (o número de ciclos de arrefecimento) de operação destes refrigeradores seja baixa, e esta baixa frequência diminui a eficiência. Por sua vez, os interruptores térmicos permitem aumentar a frequência e assim, aumentar a eficiência do equipamento”, esclareceu.

De acordo com João Ventura, a implementação da refrigeração magnética na indústria poderá originar “um substancial decréscimo do consumo energético”.

“A refrigeração magnética pode reduzir até 35% o consumo energético, o que traz grandes benefícios ao ambiente e ao cidadão, uma vez que o setor da refrigeração representa cerca de 17% do consumo total de energia elétrica do mundo”, frisou.

Neste momento, João Ventura adiantou que a equipa de investigadores se encontra a trabalhar na criação de “um protótipo do refrigerador magnético completo”, um projeto que é financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) nos próximos três anos e que conta com a colaboração da empresa inglesa Camfridge.

“A empresa inglesa aceitou ser nossa consultora neste projeto porque está interessada na nossa tecnologia e em mudar os protótipos que tem”, explicou.

À Lusa, o docente de nanotecnologia e ciências dos materiais da FCUP revelou que o objetivo da equipa de investigadores passa agora por chegar ao mercado e “incorporar esta tecnologia em novos frigoríficos magnéticos”.

O projeto ‘Thermal Switch’ foi um dos 17 pedidos de patente europeia com “selo” da Universidade do Porto, num ano em que, segundo a instituição, os dados divulgados no Relatório Anual do Instituto Europeu de Patentes referentes a 2018 refletem “o melhor ano de Portugal com a Universidade do Porto a liderar”.