“O que investigámos tem mostrado que beneficiam da mesma forma que qualquer pessoa sem condição de dificuldade intelectual. Também precisam de treinos com intensidade mais elevada para conseguirem melhorar o seu perfil de risco”, explicou à Lusa o professor da Faculdade de Motricidade Humana e líder de um consórcio de investigação na área da fisiologia.
A equipa é maioritariamente constituída por investigadores da Universidade de Lisboa, igualmente da Faculdade de Medicina, mas inclui o contributo da Universidade do Illinois, nos Estados Unidos, bem como do Ginásio Clube de Lisboa e da CerciOeiras.
“É um estudo muito virado para o exercício e saúde e não tanto para o desporto, mas com implicações no mesmo. Muitas vezes há o receio de utilizar treinos com intensidade mais elevada com esta população. Vai-se caminhar um bocadinho, utiliza-se os ‘inhos’ e os diminutivos… um bocadinho de infantilização da própria condição”, repara o responsável.
Xavier Melo entende que os resultados desta observação constituem um “bom contributo” para as futuras edições das recomendações do American College of Sports Medicine, “a grande bíblia na prescrição de exercício físico onde há anos a palavra ‘intensidade’ era quase proibida”.
“Neste momento, já não é. Sobretudo quando bem estruturada, bem supervisionada, com staff permanente e orientação de fisiologistas do exercício. É perfeitamente possível pôr a intensidade no treino de pessoas com dificuldade intelectual”, reforçou, referindo-se à resposta cardiorrespiratória a programas de treino intervalado de alta intensidade.
O Prémio Ciência & Investigação do Desporto Paralímpico Allianz 2023 teve ainda duas menções honrosas, nomeadamente de Tiago Barbosa, com a Monitorização da biomecânica de um velocista em cadeira de rodas na final dos 100 metros dos Jogos Paralímpicos do Rio2016, e Tânia Mira, com a ‘Caracterização Sociodemográfica e Psicossocial da Seleção Paralímpica Portuguesa em Tóquio2020”.
Mário Trindade foi o atleta estudado, em termos de engenharia, anatomia e medicina, na final em que foi sexto nos 100 metros em cadeira de rodas no Rio2016, num trabalho do professor de Ciências do Desporto e Biomecânica do Instituto Politécnico de Bragança e da treinadora do atleta, Eduarda Coelho.
“Identificámos que a partida do Mário era mais lenta do que deveria. Ele nunca chegou a atingir velocidade máxima de produção de energia, o que só aconteceria após cortar a meta, aos 115 metros. O ideal seria competir nos 200 metros, mas não estão no programa paralímpico. E depois tinha de trabalhar muito mais a partida, desde a tática, à posição, potência e força muscular desenvolvidas, o que implicaria o auxílio de outros especialistas”, assumiu Tiago Barbosa à Lusa.
No seu ensaio sobre a influência do desporto nas pessoas com deficiência ao nível da resiliência, bem-estar e suporte social, Tânia Mira destaca os resultados positivos, a todos os níveis, na equipa paralímpica em Tóquio2020, em que sobressaíram os benefícios da proximidade da figura do treinador.
“Uma das conclusões deste estudo é a importância destes resultados para a implementação de políticas públicas educacionais que permitam o desenvolvimento do desporto adaptado”, vincou à Lusa a docente no Instituto Superior de Lisboa e Vale do Tejo, reforçando, sobretudo, o impacto ao nível dos escalões de formação.
Na análise demográfica, formam constatadas as menores oportunidades das pessoas do interior em relação a Lisboa e Porto quanto ao acesso ao desporto.
A cerimónia de entrega dos prémios realiza-se hoje, às 15:00, no Auditório da Allianz, em Lisboa, altura em que os três investigadores vão apresentar publicamente os seus trabalhos.
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